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segunda-feira, 17 de setembro de 2012

A oportuna novela 'Lado a Lado'

Expulsos do centro, pobres cariocas passam a ocupar os morros

De Curitiba

Entre o final do expediente na revista e o início da labuta em sala de aula, paro numa padaria ali na Sete de Setembro, perto da Praça do Japão e, desde a última semana, enquanto tomo um café e como uma média com manteiga, tenho espiado, pelo aparelho de tevê instalado próximo ao balcão, a 'Lado a Lado', novela das seis que estreou segunda-feira passada.
 
O que me chamou a atenção na novela, quando me deparei com a exibição do primeiro capítulo na panificadora, foi, além de Camila Pitanga, a música de abertura - o samba-enredo de 1989 da Imperatriz Leopoldinense, campeã do carnaval daquele ano.

(Mais ainda: o samba é tocado em sua versão original, na voz de Dominguinhos do Estácio)

A partir do tema de abertura, passei a reparar na trilha sonora - tem Martnália, o pai Martinho da Vila, Milton Nascimento, Gal Costa, Nação Zumbi... 

Atraído, pois, pelo repertório musical do folhetim televiso, comecei a acompanhar - durante os dez, 15 minutos que tenho para o café - a história da novela. E a me interessar, porque é extraordinária!

'Lado a Lado' mostra os efeitos do excludente processo de reurbanização do centro do Rio de Janeiro imposto pela administração do prefeito Pereira Passos, entre 1903 e 1906. Mostra como as famílias pobres, principalmente de negros, recém saídos da escravidão, eram tratadas pelas elites econômica e política.

 Sob o argumento da necessidade de melhorar as condições sanitárias e modernizar a cidade, edificações que serviam de cortiços foram demolidas pela administração de Pereira Passos para dar espaço a avenidas e praças, boulevards a la Paris.

Seus moradores, porém, eram despejados, do dia pra noite, sem alternativa, assistência alguma. Deixados ao léu, se viram obrigados a se afastarem do centro, e encontraram nos morros o único lugar possível para erguer um barraco e ter um teto para, sob o qual, dormirem.

O momento para a novela contar essa história não poderia ser o mais propício.

Talvez sirva para os mais resistentes refletirem e compreenderem a importância das chamadas 'políticas afirmativas', como as cotas no ensino superior, há pouco regulamentadas por lei federal. Talvez faça, também com um pouco de reflexão, os eleitores reconhecerem aqueles prefeituráveis que, apresentando projetos de suposta revitalização, na verdade estão a defender a secular exclusão urbana e social em nossas cidades.

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