De Curitiba
Ter acompanhado de perto a transmissão do cargo de Lula para Dilma é daqueles momentos que rendem histórias para se contar, com orgulho e saudosismo, aos netinhos.
Caso, quando chegar esse tempo, a memória falhe, ficam aqui alguns registros a tentar socorrê-la.
Sob chuva, e forte, incomum em Brasília, a presidenta chegou para percorrer a Esplanada dos Ministérios e saudar o povo. Não eram 14h30 ainda.
Antes, o sol tinha mostrado a cara entre as nuvens carregadas.
Afinal, todos - inclusive o sol, a chuva e as nuvens - mereciam estar na festa.
E que festa.
Gente de tudo quanto é canto do país (e de outros cantos também). Uma feijoada de sotaques, ritmos, crenças, motivos para estar ali naquela confraternização.
Gente que queria, acima de tudo, agradecer, se despedir, de Lula.
Mas gente que queria, principalmente, demonstrar carinho, afeto, apoio a uma mulher que sofreu, na campanha, os mais baixos ataques e cruéis preconceitos dos quais se pode ser vítima. Uma mulher que sofreu, como guerrilheira que lutou pela democracia, as torturas da ditadura.
Na Esplanada, a multidão seguiu o Rolls Royce que transportava uma Dilma sorridente, emocionada, ao lado da filha, tímida, admirada com as manifestações, e igualmente simpática.
Quando o carro chegou ao Congresso, uma parte da multidão ficou do lado de fora da casa de leis a aguardar a saída da então definitivamente empossada presidenta.
Nós, e outra grande parte do povo, optamos ir direto para a Praça dos Três Poderes garantir lugar em que se pudesse avistar a rampa e o parlatório do Palácio do Planalto. À sessão do Congresso, assistimos por um telão instalado na praça.
Os trechos mais marcantes do discurso no parlamento eram aplaudidos também pela gente que estava ali do lado de fora.
De repente, num dos janelões do Planalto Lula e Dona Marisa aparecem e acenam para o público, que retribui com uma vibração incrível.
Não demorou para que a sessão terminasse, Dilma deixasse o Congresso, chegasse à sede do Executivo, subisse a rampa, recebesse o típico abraço lulista, se dirigisse ao parlatório.
A esta altura, a multidão que estava à frente do Congresso já se acomodava na Praça dos Três Poderes e se unia à outra parte, formando aquele mar de gente.
Porque era hora da hora mais esperada: a entrega da faixa presidencial, de Lula para Dilma.
"Olê, olá, Dilma, Dilma" e "Olê, olá, Lula, Lula" eram os cantos que se alternavam.
Dilma falou, daquele jeito mais contido dela, e a multidão ouviu, se arrepiou, chorou.
Depois que a presidenta se recolheu ao Palácio para a recepção aos chefes de Estado, o povo foi presenteado com um dos mais espetaculares shows musicais de que se tem notícia.
Num palco na Praça dos Três Poderes mesmo, em frente ao STF, do lado oposto ao Palácio do Planalto, cantaram, nessa ordem, a doce Fernanda Takai, a elétrica Zélia Duncan, a moleca Mart'nália, a ousada Gaby Amarantos e a agitada Elba Ramalho. Depois, todas elas se apresentaram juntas. Três horas de show.
É, malandro, era o dia da mulherada dominar: a chuva no lugar do sol, a Dilma no lugar do Lula, e aquele quinteto a nos enfeitiçar.
Bom, a festa foi extraordinária, e agora que o trabalho começou, as expectativas são das melhores.
Exceção de um e outro nome, o time de Dilma é bom, a mulher é porreta, tem tudo para fazer um governo com mais avanços do que o de Lula.
A preocupação é que o Partido da Imprensa Golpista, o PIG, não dará trégua, e Dilma não tem a mesma habilidade de oratória, comunicação de Lula - capacidade essa que foi fundamental para que o país compreendesse as transformações pelas quais passou.
Mas, vai em frente, presidenta, Brasília demonstrou: o Brasil 'tá contigo!
Fotos: Agência Brasil e Fundação Palmares
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