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terça-feira, 26 de novembro de 2013

Descarrilamento da ALL: onde vai ser o próximo?

Acidentes como este "pipocam constantemente" (foto: Correio do Brasil)
De Curitiba

A malha ferroviária brasileira foi “concedida” à iniciativa privada – assim como estão sendo “concedidos” agora nossos aeroportos – há 15 anos.

Não é preciso ser entendido em transporte e logística para constatar a catástrofe que vem sendo a privatização das nossas ferrovias.

O descarrilamento de trens da América Latina Logística (ALL) neste domingo, dia 24, em São José do Rio Preto (SP), é só mais um episódio dessa trágica trama. Oito pessoas morreram, entre elas uma criança e uma grávida, informou a Agência Brasil.

A falta de conservação e manutenção adequadas dos trechos era evidente e provável causa do incidente.

Tem sido assim desde 1998, tanto com os trens privatizados que transportam cargas e como com os que levam passageiros.

Lembremos aqui, para ficar no exemplo mais surreal, das chicotadas – isso mesmo, chicotadas! - que seguranças da Supervia eram ordenados a dar nos passageiros dos trens urbanos do Rio de Janeiro.

(Em tempo: a Supervia é controlada pela Odebrecht, a mesma que venceu o leilão para ficar com o aeroporto carioca do Galeão. Fiquem tranquilos, passageiros, que no aeroporto não vai haver chibatadas. Mas que vamos levar uma surra de dilapidação do nosso patrimônio, isso sim, vamos.)

Voltemos à ALL.

O engenheiro Paulo Sidnei Ferraz, especialista em transporte ferroviário há 30 anos, aposentado da extinta Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA) e que acompanhou de perto a desestatização do setor, ressalta que os problemas com a concessionária são - e não é de hoje - rotina. "Os acidentes envolvendo trens da ALL pipocam constantemente, embora nem sempre sejam noticiados", disse ao Macuco Blog.

Ferraz descreve brevemente o cenário:
  • "Considerando o 'desinvestimento' feito tanto nas condições da via quanto no material rodante, a situação é preocupante. A redução dos quadros de pessoal operacional aumentou os riscos. Então só falta adivinhar onde vai cair o próximo trem e qual o estrago: vitimas, contaminação de rios, destruição de matas, demolição de patrimônio de terceiros, etc"
E continua: 
  • "Além disso, há o prejuízo para a União com a perda de patrimônio arrendado nem sempre substituído como deveria. Apesar do aporte de bilhões de reais do BNDES na ALL, o patrimônio da ferrovia deu marcha-ré. E caminha para uma situação crítica."
O órgão que deveria regular a concessão, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), no entanto, é omissa, na avaliação de Ferraz:
  • "A ANTT até pouco tempo atrás foi comandada pelo antigo criador e sócio do grupo arrematante da Malha Sul (atual ALL) [Bernardo Figueiredo, hoje na presidência da estatal EPL-Empresa de Planejamento e Logística]. E nada fez pra evitar a dilapidação do sistema ferroviário. Existem várias ações do Ministério Público Federal contra a ALL, que podem a qualquer momento desembocar na cassação da concessão por descumprimento do contrato." 
Na Argentina, isso já ocorreu: o governo da presidenta Cristina Kirchner retomou as linhas que estavam com a ALL. "Os argentinos foram mais espertos e não deixaram chegar ao caos, retomando a concessão antes que os trens parassem de vez", compara o engenheiro.

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