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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

É carnaval no Natal

De Curitiba

Ops, nem chegou o Natal e já estamos aqui a tratar de carnaval?

Calma, que de repente tem até a ver - afinal, com o carnaval pode se presentear no Natal.

O cd dos sambas de enredo 2011 das escolas do Rio de Janeiro já está nas lojas.

Por aqui, já se comprou, se ouviu, se repetiu. Quase se decorou.

A quem possa interessar, uma breve, intrometida e nem um pouco objetiva análise dos sambas que vão ser cantados na Sapucaí, só em março, aliás - há tempo de sobra para estar com os hinos na ponta da língua (e, aos mais hábeis, com o samba na ponta dos pés).

A ordem é a das escolas preferidas. 'Bora lá:

- Vila Isabel bela: dum enredo aparentemente bobo ("Mitos e histórias entrelaçadas pelos fios de cabelo"), saiu um samba extraordinário. Foge o padrão - além dos dois refrões tradicionais, tem um bis que antecede o segundo refrão. Este, por sinal, é o ápice da letra. Resgata Noel Rosa:

"Modéstia à parte, amigo, sou da Vila
Quem é bamba nem sequer vacila"

- Portela: a escola de Osvaldo Cruz até vem se esforçando, porém ao menos no samba mais uma vez está difícil de ser campeã. Não é ruim, mas pelo enredo ("Rio, azul da cor do mar") era de se esperar algo mais empolgante, envolvente.

- Beija-Flor: o melhor samba-enredo de 2011. Fala de Roberto Carlos, com ênfase à sua produção musical. Dois pontos altos a se destacar. O primeiro refrão é um deles:

"Quando o amor invade a alma... É magia
É inspiração pra nossa canção... Poesia
O beijo na flor é só pra dizer
Como é grande o meu amor por você"

E a deixa para o segundo refrão, uma referência aos amores do Rei:

"De todas as Marias vêm as bênçãos lá do céu..."

Ah, e o samba é entoado por Neguinho da Beija-Flor, o melhor puxador em atividade, e entre os grandes da história.

- Salgueiro: o enredo é bem carioca, típico da escola. "Salgueiro apresenta: o Rio no cinema". Tem dois refrões bons - o primeiro feito sob medida para o estilo do Quinho, o puxador. Contundo, principalmente a segunda parte do samba, é meio arrastado.

- Mangueira: bela homenagem a Nélson Cavaquinho. O segundo refrão, no entanto, é meio raivoso, no afã de exaltar a escola:

"Mangueira é nação... É comunidade!
'Minha festa', teu samba ninguém vai calar!"

- União da Ilha do Governador: o enredo, "O mistério da vida", é bem desenvolvido. O segundo refrão faz ligeira referência ao clássico samba-enredo da escola, de 1978, "O Amanhã" ("Como será o amanhã/ Responda quem puder..."):

"Hoje eu quero brindar... A Ilha
Nessa avenida dos sonhos brilhar
O meu amanhã só Deus saberá
A vida vamos celebrar"

- Imperatriz Leopoldinense: muito interessante o enredo, que fala sobre as formas de (se tentar a) cura ("A Imperatriz adverte: sambar faz bem à saúde"), e é muito bem desenvolvido pelo samba.

- Unidos da Tijuca: não é extraordinário, mas bom o suficiente pra não prejudicar o impacto que as invenções do Alexandre Barros costumam causar no público. O enredo: "Esta noite levarei sua alma".

- Mocidade Independente de Padre Miguel: depois de muito tempo não se via na escola um samba tão bom. E o puxador, o Nêgo, não é muito cheio de firula no entoar, mas muito competente. O enredo: "Parábola dos divinos semeadores".

- Porto da Pedra: o enredo, "O sonho sempre vem pra quem sonhar", faz uma bonita homenagem à escritora Maria Clara Machado.

- São Clemente: o samba é sobre a cidade do Rio de Janeiro ("O seu, o meu, o nosso Rio, abençoado por Deus e bonito por natureza"). Abusa dos lugares-comuns.

- Grande Rio: o intérprete, o Wantuir, é - tirando Neguinho, claro - o melhor atualmente. Consegue transformar um samba bom, mas comum, num samba extraordinário. O enredo é espetacular ("O Y-Jurerê Mirim - A encantadora ilha das bruxas - Um conto de cascaes"), sobre a história e histórias de Florianópolis. O samba, no entanto, não dá a devida dimensão do enredo; salva-se pelos dois contagiantes refrões graças, repita-se, ao talento do Wantuir.

É isso. Bom carnaval! Ops, antes, Feliz Natal!

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