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domingo, 18 de maio de 2014

Santos, terra de Tam Tam

"Rádio Tam Tam", programa feito por "loucos" do antigo hospício
No Dia da Luta Antimanicomial, lembremos a data em que, 25 anos atrás, a cidade de Santos mudava a forma de tratar os doentes mentais, com programa que virou referência e foi incorporado pelas políticas públicas nacionais de saúde

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Postado de Santos

Santos é marco em muitos aspectos da história do Brasil, e entre eles, na saúde pública. Um desses acontecimentos nascidos na cidade e que viraram referência para o país é o programa de saúde mental implementado pelo município.

Há 25 anos, em 3 de maio de 1989, a Prefeitura de Santos intervinha na Casa de Saúde Anchieta – conhecida pelos santistas como “casa de horrores” - e aos poucos substituía o manicômio por uma rede de tratamento mais humanizada. É desse programa que resulta, por exemplo, o Projeto Tam Tam.

O modelo adotado por Santos ia ao encontro do que defendiam trabalhadores, pesquisadores, gestores e militantes na área de saúde. A intervenção teve grande repercussão – contou com o apoio, na época, da Comissão de Direitos Humanos Teotônio Vilela e também da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

As ações que se sucederam à intervenção passaram a se tornar referência, marco para a luta antimanicomial, que tem seu dia nacional neste domingo, 18 de maio. Aos poucos, o modelo foi se espalhando por outros lugares do Brasil e incorporado às políticas públicas, em âmbito nacional, de saúde.

A intervenção na Casa de Saúde Anchieta naquele 3 de maio de 1989 foi uma decisão radical (de ir à raiz do problema) e corajosa, tomada pela então prefeita Telma de Souza (PT) e seu secretário de Saúde, David Capistrano Filho.

Capistrano, aliás, tinha sido secretário municipal de Saúde em Bauru, onde, em 1987, iniciou-se a mobilização de trabalhadores e pesquisadores em saúde pelo fim dos terríveis manicômios (nascia, assim, a Luta Antimanicomial). Em 1992, Capistrano foi eleito prefeito de Santos, pelo PT. Morreu em 2000. Além do programa de saúde mental, deixou para o Brasil as políticas de prevenção e tratamento da Aids, o Toda Criança na Escola (embrião do Bolsa Família) e o programa de internação domiciliar, entre outras iniciativas.

Voltemos à intervenção da Casa de Saúde Anchieta.

Quando sofreu intervenção da prefeitura, o hospital psiquiátrico – privado – abrigava 565 pacientes, sendo que tinha capacidade para apenas 280. Os doentes mentais eram encarcerados em celas, tratados com choques elétricos, eram medicados indiscriminadamente e recebiam doses do famoso “sossega leão”.

Este vídeo feito na ocasião traz relatos impressionantes dos pacientes: http://www.youtube.com/watch?v=7J192djiUvg

Logo após a intervenção, foram arrancadas as portas das celas, proibidos os choques elétricos, instalados chuveiros para banhos quentes, ampliado o quadro de funcionários e feita uma reavaliação dos pacientes. Muitos estavam internados sem necessidade, e receberam alta.

Como parte da concepção de tratamento humanizado dos doentes mentais implantada depois da intervenção, surgiu o Projeto Tam Tam.

Dentre as atividades desenvolvidas pelos educadores do projeto, a "Rádio Tam Tam - o programa do tamanho da sua loucura" logo ganhou repercussão nacional. O programa ficou no ar por nove anos (1990 a 1999), transmitido por diversas rádios da cidade nesse período. Personalidades como Antônio Fagundes e Fernanda Montenegro foram entrevistadas pela equipe (formada por pacientes), lembra a edição deste domingo do jornal A Tribuna.

O Projeto Tam Tam se consolidou e tornou-se organização não-governamental. Os santistas conhecem bem a luta e o trabalho da organização. Pra quem que saber um pouco mais, fica a dica: www.tamtam.art.br.

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