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terça-feira, 11 de dezembro de 2012

O futuro "na chon"

A loucura imobiliária destruiu hospital psiquiátrico (foto: Do Quintal)

De Curitiba

Não é mania de passado, nem ficar do lado de quem não quer navegar.

Mas esta sanha do setor imobiliário, do qual em regra o poder público tem sido cúmplice, precisa de limites.

Porque essa especulação está pondo "na chon" a história das nossas cidades, da nossa gente.

Fiquei boquiaberto quando soube que o Hospital Psiquiátrico do Bom Retiro, em Curitiba, foi demolido no último final de semana, para dar lugar a um arranha-céu.

Além de referências arquitetônicas, a edificação abrigou uma instituição que, por sinal, batizou o bairro onde foi erguida – Bom Retiro.

Como é que deixaram derrubar algo tão peculiar para, no lugar, levantar mais um prédio igual a qualquer outro?

Pior é que de tantos outros casarios nem os escombros sobraram também. Como bem lembrou o Rafael Martins em seu Baixa Gastronomia (ler aqui), tempos atrás a tradicionalíssima fábrica da Matte Leão, no antigo polo industrial curitibano, o Rebouças, foi destruída. E é só andar pelas ruas e avenidas da cidade, que é isto: aquele chalé, ontem de pé, hoje está cercado por tapumes, amanhã ocupado por tratores, gruas e guindastes...

E assim os nossos símbolos, os espaços que contam a evolução da cidade são sacrificados por conta dela, a “evolução”.

Até hoje não me conformo, por exemplo, com o fato de terem eliminado do mapa a sede do Clube XV, na Praia do Boqueirão, em Santos, projeto de 50 anos atrás, premiado na 10º Bienal de Arquitetura de São Paulo.

Ainda quero me encontrar com o então presidente do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos (Condepasa), Bechara Abdalla (que hoje é secretário municipal de Planejamento!), para saber por que, à época (em 2001), não se opôs (pra dizer o mínimo) à derrubada daquela construção que era um ícone da paisagem da orla santista.

Compare você, leitor, nas fotos seguintes: o que é mais evoluído e desenvolvido, o prédio antigo, com suas características sem igual, ou a torre nova, que nada de diferente acrescenta à paisagem?
O prédio que tomou o lugar do Clube XV
Sede era referência na orla santista (fotos: Oitavo Canal)


O que é ficar do lado do progresso: defender a beleza do passado que vai encantar no futuro, ou acabar com o ontem que vai fazer falta amanhã?

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