Comissão de frente da Unidos dos Morros, em 2012 (foto: Divulgação PMS) |
De Curitiba
Aviso aos navegantes: de agora e pelos próximos dias, a tendência é de que se fale aqui só sobre desfiles de escolas de samba.
O esquenta começou sexta-feira passada, com as impressões sobre os ensaios da Acadêmicos da Realeza. Um pouco antes, no final do ano, as considerações iniciais sobre os sambas do Rio de Janeiro.
A vez agora é do carnaval santista.
Pelo que tenho acompanhado, a festa deverá ser bonita na Passarela Dráusio da Cruz e a disputa, tanto no grupo de acesso como no principal, bastante acirrada.
Pra começar, o sambódromo já contará, este ano, com parte de sua estrutura física definitiva. Durante o ano, abrigará oficinas culturais para os moradores da Zona Noroeste e um memorial do samba; no carnaval, para os desfiles, servirá de camarotes e tribuna para imprensa.
O que virá dos barracões?
As cinco escolas do grupo de acesso, que desfilam na noite de sábado, vêm com enredos e sambas com abordagem bastante originais.
Pela maior tradição, Unidos da Zona Noroeste (falará sobre o povo cigano, num samba muito rico em informação) e Bandeirantes do Saboó (sobre os diferentes preconceitos, inclusive os de classe social) até podem ter ligeiro favoritismo.
Mas o samba da Mocidade Dependente ("Ilê-Ifé, o berço da terra") é extraordinário, talvez o melhor - comparando-se, inclusive, com os sambas das dez agremiações do grupo especial. E a escola do Estuário, novata (completa cinco anos em 2013), tem se caracterizado pela ousadia - se for bem compreendida pelos jurados e público, sobe.
Tentando surpreender, a Dragões do Castelo fez um samba que aborda com clareza as diversas formas de jogo e competições desta vida; a vicentina Camisa Alvinegra fala sobre as festas populares e o folclore brasileiro. Tomara as duas encantem também, que o povo quer, antes de tudo, beleza, alegria.
Entre as dez do grupo especial (cinco desfilam domingo, cinco, segunda-feira), muito, muito bom mesmo o verdadeiro hino que União Imperial fez ao seu chão, o Marapé. Menciona a origem do nome, os pontos de referência do bairro (que são ícones da cidade também) e ressalta a solidariedade de sua gente. "Nesse bairro onde o amor, ô ô/ faz do amigo um irmão", homenageia a letra.
Outro primor é o samba da Amazonense, sobre os migrantes nordestinos, mostrando como um povo ergueu os símbolos do progresso urbano do Sudeste e, ao mesmo, tempera a vida com suas manifestações artísticas. Pra variar, a escola do Guarujá é favoritaça.
Outra favoritíssima é a Unidos dos Morros, que desde a retomada dos desfiles, em 2006, tem estado sempre ali, pertinho do título. O samba se, por um lado, aborda um tema recorrente - a natureza e a necessidade de preservação do meio ambiente -, propicia elementos visuais de impacto, e nesse ponto a agremiação da cidade alta tem se destacado nos últimos anos. Vem que vem, portanto.
Duas escolas fazem referência à África. A Império da Vila, enfatizando as heranças culturais do continente-mãe, num samba com uma letra muito rica. A Sangue Jovem, interrelacionando a biografia de três afrodescendentes "guerreiros da paz": Nelson Mandela, Luther King e Pelé.
A campeoníssima Brasil é aguardada com muita expectativa. Depois de tropeçar em 2010 e ser rebaixada, conseguiu o acesso em 2011 e, ano passado, esteve bem perto do título do grupo principal. O samba-de-enredo 2013 viaja pela evolução nas formas de comunicação interpessoal - das mais primitivas maneiras de dar um recado aos mais instantâneos recursos tecnológicos disponíveis. Tem tudo para ser lúdico, assim como deverão ser os desfiles da Vila Mathias, sobre a influência das cores na humanidade (destaque para a inconfundível voz do intérprete do samba, o Joãzinho), e o da Real Mocidade Santista, que aborda a arte do teatro de bonecos - das mais remotas origens às manifestações contemporâneas, como as do carnaval pernambucano.
As duas escolas do Macuco resolveram encarar desafios nada simples. A Padre Paulo, o de explicar o que é a maçonaria, um universo tido como, no mínimo, misterioso pra quem é de fora. Já a X-9, o de trazer elementos concretos que ilustrem um enredo abstrato ("Bem o mal, falem de mim"). O samba da Padre Paulo privilegia a origem histórica e as lutas maçons; o da X-9 é um recado (não chega a ser agressivo, todavia é enfático) de que, pode-se dizer o que for, mas impossível não reconhecer a força da Pioneira.
Por ora é isso. Mais detalhes, no ótimo portal oficial do carnaval santista: www.santos.sp.gov.br/carnaval
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