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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Sobre "O Palhaço" e "O Som ao Redor"

Cena de um dos núcleos da história de "O Som ao Redor"
De Curitiba

Finalmente consegui assistir aos dois filmes brasileiros mais elogiados pela crítica nos últimos meses, "O Palhaço" - sucesso ainda do passado - e "O Som ao Redor", destaque já deste ano.

Não chegam a ser excepcionais, todavia são extraordinários.

"O Palhaço" pela atuação do elenco, pela fotografia e pelo roteiro, que aborda com originalidade um enredo nem tão autêntico assim.

"O Som ao Redor", pelo roteiro (que escapa à estrutura tradicional, a do enredo único, com clímax na metade, ou a de enredos diversos que se cruzam no final) e pela temática, principalmente.

Pelo tema, "O Som ao Redor" até pode ser considerado inovador. Nem tanto porque expõe as bizarrices da classe média brasileira, mas porque aborda o latifúndio urbano, a dominação de territórios não em favelas, pelo tráfico, clandestino, sim em áreas nobres, e pela casa grande "legalizada".

Nesse aspecto, a penúltima cena vai no cerne.

Agora, o ponto alto do filme é a cena da reunião de condomínio.

Alguns detalhes de figurino, cenário e diálogo conseguem expressar, com sutileza e ao mesmo tempo com clareza, o que pensa, como se porta e age a fatia da classe média que come mortadela e arrota presunto.

O síndico que carrega o crachá guardado no bolso mas ligado ao cordão pendurado no pescoço; o morador que se considera um exemplar defensor dos direitos coletivos por ter conseguido, por meio do filho, flagrar as cochiladas do porteiro e assim ter elementos para a demissão por justa causa do funcionário; e, sobretudo, a condômina indignada porque - graças à displicência do mesmo porteiro - "recebe a Veja com o plástico rasgado" são figuras que constituem a representação precisa de um recorte de nossa realidade. Cômica, se não fosse lamentável e desprezível.

Andei lendo que "O Som ao Redor" esbarra no desde-sempre problema da produção audiovisual cinematográfica brasileira, a dificuldade de distribuição e exibição.

Parece que ainda não alcançou nem duas dezenas de salas de exibição no país. Mesmo assim, tem atraído público.

Se estiver em cartaz na sua cidade, ou quando estiver, aproveita, vá ver.

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