Translate

quinta-feira, 20 de junho de 2013

A tortura na fisioterapia

MST há tempos está na rua apanhando da polícia, da mídia, dos "apartidários" (foto: MST)
De Curitiba

Vocês sabem que mês e meio atrás machuquei o pé esquerdo, fiquei quase quatro semanas com aquela bota imobilizadora e, desde terça-feira passada, estou fazendo fisioterapia.

São dez sessões. Hoje, quinta-feira, faço a oitava.

Não imaginei que seria tão dolirido.

Não pelos exercícios, nem pelo pé. Nesse aspecto, tudo beleza, em plena recuperação - já estou andando normalmente, só não dá pra correr ainda.

O problema é que caí numa clínica que concentra o maior número dos parcos leitores de veja de Curitiba por metro quadrado. Uma verdadeira sucursal dos institutos millenium da vida. Um ipes do século XXI.

A conversaiada entre pacientes e entre estes e o profissional, quando descamba pra assuntos da nação, pra política, não dói no pé - dói no estômago.

E calhou de eu estar nesse clube de adesistas da tfp justo nestes dias de manifestações "pacíficas", "apartidárias".

A televisão fica ligada, claro, na Globo e, diante da cobertura ampla, geral e irrestrita que o Encontro com Fátima Bernardes (as sessões de fisioterapia são no final da manhã) tem dado aos atos "pacíficos", "apartidários", a turma lá em tratamento descarrega, em seus comentários "politizados", "apartidários", todo ódio e preconceito de classe, todo o colonialismo.

Lula, "que só toma uísque caro", repete uma figura, citando até a marca (leu na veja) da bebida, é o culpado de tudo; os protestos na Europa é que devem inspirar os nossos "indignados", "apartidários" do facebook.

Para ocultar seu lado demotucano-udenista, papagaiam as bravatas cequecianas, de ojeriza aos políticos em geral, à Brasília do Congresso, aos "corruptos".

Não se conformam, e nem precisa ser muito entendendor da teoria freudiana para identifcar o recalque, é com o fato de ter que registrar a empregada doméstica em carteira, viajar ao lado de pobre no voo do recesso de julho ou das férias de final de ano, saber que os filhos têm, na faculdade, um colega emergido da classe c que conseguiu entrar na universidade graças às cotas ou Prouni, em parar no sinal de trânsito e ver o carrinheiro ao lado com um celular da hora.

É essa ideologia que noto cada vez mais predominante nas manifestações que se iniciaram com o legítimo e politizado Movimento Passe Livre, reivindicando redução nas tarifas de ônibus, e que se transformaram nesses atos "pacíficos", "apartidários", "contra o que está aí".

O Brasil já está mudando de forma mais intensa há dez anos.

O Brasil está acordado há séculos. Pra ser mais contemporâneo, há décadas que sem-terra, sem-teto, professores, operários estão nas ruas apanhando da polícia, apanhando da mídia - e apanhando dos "apartidários".

A fisioterapia termina segunda-feira. Até lá, 'güento as pontas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário