Brasileira em ato em Portugal, nesta terça. Tô com ela (foto: Agência Brasil) |
De Curitiba
Pra participar dessas "manifestações" que estão acontecendo por aí, nem me chamem.
Participo de manifestação com bandeira clara, popular, progressista, com lideranças que se apresentam, se expõem, e não se camuflam na fantasia do "apartidarismo".
Manifestação "apartidária", contra "a política, os políticos", contra "tudo que está aí", guiada por "indignados" do facebook não é ato de cidadania, de rebeldia. É jogar a favor da direita, do establishment, do status quo - involutariamente, ou por má fé mesmo.
Agora, quando for pra ir pras ruas apoiar o bolsa família, as cotas para as universidades, o Prouni, o Sisu, os 100% dos royalties da educação, o piso salarial do magistério, vou, já fui. Pra pedir "escolas padrão Fifa", tô fora.
Quando for pra ir pras ruas defender o financiamento público de campanha, a reforma do Judiciário, no Ministério Público, moralizar as coligações partidárias, pra isso vou, fui. Pra simplesmente chamar os políticos de "ladrão", tô fora.
Quando for pra ir pras ruas pedir a reforma agrária, a ocupação dos prédios abandonados dos centros das cidades para transformar em moradia popular, a desapropriação de latifúndios improdutivos, vou, fui. Pra invadir câmaras, assembleias, prefeituras e outros prédios públicos, tô fora.
Quando for pra ir pras ruas pedir taxação sobre o lucro dos bancos, imposto sobre fortunas, IPTU mais alto nos bairros nobres e simbólico na periferia, IPVA elevado para automóveis e reduzido para ônibus, vou, fui. Pra pedir um "basta à robalheira", tô fora.
Quando for pra ir pras ruas pra reivindicar a reestatização da Vale e dos blocos de petróleo, e reverter os dividendos para o SUS, vou, fui. Pra pedir "hospitais padrão Fifa", tô fora.
Quando for pra ir pras ruas exigir uma lei de meios que ponha fim ao oligopólio privado nas comunicações, vou, fui. Pra agredir o Caco Barcellos, tô fora.
Quando for pra ir pras ruas pra sustentar as conquistas dos últimos dez anos que mudaram o Brasil, e cobrar avanços mais acelerados, vou, fui. Pra gritar "acorda, Brasil", tô fora.
Afinal, o Brasil está acordado faz tempo. Há décadas que sem-terra, sem-teto, trabalhadores rurais e urbanos, professores, minorias estão nas ruas apanhando da polícia, apanhando da mídia. Os neoindignados do facebook é que estavam no modo soneca, como disse alguém no twitter hoje.
O Brasil está mudando e não é de hoje, nem de ontem. O filho de pobre tem acesso à universidade, a empregada doméstica tem direitos trabalhistas básicos, a diarista não precisa mais se sujeitar aos caprichos do patrão, o atingido pela seca não é mais refém do coronel. A renda das famílias aumentou, estamos em fase de pleno emprego.
Evidente que há absurdos adoidados, alguns históricos, antigos, estruturais, outros novos, inventados. Injustiças inadmissíveis persistem e parecem longe de desaparecer. Alguns retrocessos - inclusive do Governo Dilma, o qual apoio, embora ultimamente venho expondo uma série de críticas, e aqui e agora reitero essas críticas - estão ocorrendo.
Mas omitir ou distorcer os avanços não é ser "apartidário", "consciente", "politizado", "indignado". Ou é ser mal informado ou há aí um recalque.
Estar ao lado desses atos do jeito que eles estão se configurando não soma na luta antiretrocessos. Pelo contrário: engorda as fileiras dos que querem retroceder.
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