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domingo, 1 de junho de 2014

Há 30 anos, Santos voltava a saborear o gostinho de votar


Em 3 de junho de 1984, os santistas puderam, depois de 16 anos proibidos pela ditadura, votar para prefeito. Três candidatos do pleito (Telma, Nobel e Esmeraldo Tarquínio) contam aos leitores do Macuco como foi para a cidade reconquistar a autonomia.

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Postado de Curitiba

Estes dias andando por Curitiba me deparei com a seguinte pichação num muro: "se voto mudasse alguma coisa, seria proibido".

Ou a frase é produto de um fascismo enrustido ou é fruto da desinformação, da ignorância.

Porque o voto já foi proibido no Brasil, sim, e proibido justamente porque o voto era (e é) arma para mudar, definir os rumos.

Nesta terça-feira, por exemplo, minha cidade, Santos, comemora os 30 anos da reconquista desse direito elementar de seus moradores: em 3 de junho de 1984, um domingo, os santistas foram às urnas escolher seu prefeito.

De 1969 a 1984, só interventores
O que hoje é corriqueiro, habitual, à época era um direito tolhido, que custou muita luta, e vidas, para ser readquirido.

Fazia quase 16 anos que os santistas tinham votado para prefeito pela última vez: em 15 de novembro de 1968. E o resultado das urnas não fora respeitado pela ditadura militar vigente. O eleito à época, Esmeraldo Tarquínio Filho, opositor do regime, foi cassado pelos militares. O vice, Oswaldo Justo, negou-se a assumir nessas condições.

O regime nomeou um interventor federal, decretou Santos área de segurança nacional, retirando do município sua autonomia política. Essa autonomia foi - reitera-se, a muito custo, inclusive de vidas - recuperada em 1983 (ver aqui). A eleição para prefeito, porém, só viria no ano seguinte, no 3 de junho de 1984.

Matéria do Jornal do Brasil, 03/06/1984
O processo eleitoral tinha algumas regras bem diferentes das atuais. Entre elas, a que permitia mais de um candidato por partido. 

Foram 11 postulantes ao Palácio José Bonifácio, sendo nove deles de oposição ao regime e ao então prefeito biônico (nomeado pelo regime), Paulo Barbosa (por sinal, pai do prefeito atual, Paulo Alexandre Barbosa): três pelo PMDB, três pelo PT e três pelo PDT. O partido do prefeito e do regime, o PDS, vinha com dois candidatos.

Rubens Lara e Oswaldo Justo, do PMDB, e Telma de Souza, do PT, eram tidos como os candidatos mais fortes - com um pouco mais de favoritismo para Lara. Os santistas deram a vitória a Justo, que tinha como vice Esmeraldo Tarquínio Neto (filho do último eleito, cassado, morto em 1982). Telma seria eleita quatro anos depois, em 1988. 

Justo morreu em 2003 e Lara, em 2008.

O Macuco Blog e o site Ó Minha Santos ouviram três dos protagonistas daquela eleição: a própria Telma de Souza, hoje deputada estadual; Nobel Soares, advogado, e que foi candidato pelo PT também; e Esmeraldo Tarquínio Neto, eleito vice-prefeito com Justo em 3 de junho de 1984. Acompanhe:
  • Tarquínio Neto lembra do "clima de festa" do dia da votação, considera que a eleição significou mais do que uma reparação à "estupidez" sofrida pela cidade pelo regime e avalia que as sequelas da ditadura são para sempre. Leia aqui.
  • Nobel Soares conta a pitoresca história do caixão fúnebre utilizado na campanha, cita o fato que aponta como decisivo para Rubens Lara não ter ganho a eleição e diz que os santistas hoje estão mais "indiferentes aos rumos da administração municipal". Leia aqui.
  • Telma recorda que não foi fácil Santos recuperar a autonomia ("muitos não queriam") e ressalta que a cidade foi "amordaçada" pela ditadura ("tivemos o pesadelo do navio-prisão Raúl Soares"). "Lutamos e vencemos, mas temos de estar vigilantes. Leia aqui.

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