Exploradores de trabalho escravo são poupados (foto: MTE) |
De Curitiba
Dia destes ouvi comentário de que determinada figura que apresenta certo programa de televisão "tem coragem".
Porque detona político, questiona a segurança pública, critica a impunidade, fala da falta de leis, pega pesado com criminosos.
Tudo assim, generalizado. Bravo, com bravatas, mas generalizadas.
Argumentei, no entanto, que para isso não é preciso muita coragem não. É preciso talento e competência para utilizar as palavras certas, num tom convincente.
Tentei mostrar que, na verdade, a crítica generalizada, por mais pesada que seja, pouco expõe quem realmente deve na praça e deve ser exposto.
Dizer que "os políticos não fazem nada, só querem roubar" não atinge os que "não fazem nada e só querem roubar".
Pior: só faz esconder esses "que não fazem nada e só querem roubar".
Porque coloca todo mundo no mesmo balaio: os que fazem muito, inclusive fazem pelos que nada ou pouco fazem, e os que não fazem nada "ou só roubam".
Fica todo mundo rotulado como pilantra. Quem não é, fica prejudicado com a pecha. Quem é pilantra, nem se importa: afinal, como todo mundo acha que todos são pilantras, ele pode pilantrar à vontade que outros vão levar a culpa também.
Ultimamente, a coragem maior não é a de criticar, é a de enaltecer. Ou, se for criticar, que seja a crítica pontuada, especificada, nominada.
Um exemplo: semana passada, no interior de Goiás dezenas de crianças foram intoxicadas depois que um avião que pulveriza lavouras despejou agrotóxico no pátio de uma escola.
Não vi, li ou ouvi os tais corajosos darem nome aos bois: identificarem o dono do latifúndio, mostrarem que a prática é recorrente no agronegócio monocultor, explicarem (já que gostam tanto de falar dos "políticos") que no Congresso Nacional existe uma bancada ruralista forte que resiste a qualquer medida que restrinja essas pulverizações...
Nada.
É assim também quando a fiscalização flagra trabalho escravo em fazendas ou confecções, fato cada vez mais recorrente.
Dos ditos corajosos não se vê a exposição dos responsáveis pela exploração. Não se ouvem explosões contra as grifes ou as transnacionais do agronegócio que lucram com a exploração da mão de obra.
Agora, quando o assunto é redução da maioridade penal... ai os discursos, estes sim, são carregados em tinta, bradados, inflamados... Que coragem!
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