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quinta-feira, 14 de agosto de 2014

A “excitação mórbida” dos analistas logo depois da tragédia, por Maria Frô e Rodrigo Vianna

De parte do povo, o exemplo: homenagem às vítimas na Vahia de Abreu

Tão logo se confirmou se tratar do avião de Eduardo Campos, palpiteiros da mídia deixaram de lado as informações sobre o acidente e, de forma fria e calculista, passaram a fazer conjecturas sobre o cenário político-partidári.
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Postado de Curitiba

Os corpos ainda não haviam sido localizados. Os bombeiros ainda procuravam as caixas pretas do avião em que viajavam Eduardo Campos e mais seis pessoas. Mas o “mercado” e a gloriosa mídia brasileira já faziam suas contas.

O Blog da Maria Frô captou bem essa onda que foi invadindo a internet durante esse trágico 13 de agosto. A “Veja” especula com números da Bolsa. A “Folha” adianta-se e faz pesquisas, já perguntando: “ontem, o candidato Eduardo Campos morreu em um acidente de avião; na sua opinião o PSB deveria: 1 lançar Marina Silva como candidata a presidente, 2 lançar outro candidato…”

Começo da tarde: comentaristas da “GloboNews” tentavam estabelecer o “novo quadro político”. No rádio, uma “analista de mercado” dizia que a morte de Eduardo (os outros seis mortos nem são levados em conta) cria “um fato novo” na campanha eleitoral.

A analista chegou a dizer que isso poderia ser “positivo para o Brasil”.

Há certa excitação no ar. Excitação mórbida. Comentaristas gagos, acadêmicos globais e outros quetais animam-se com a possibilidade de que Marina seja candidata e ajude a levar a eleição ao segundo turno. É a torcida da revista “Veja”. Torcida que se exalta, sem respeitar os mortos, nem as famílias, nem nada mais.

Não me espanta. Tenho ouvido coisas incríveis pelas ruas. O Brasil está envenenado.

Sim, Marina pode ser candidata. O DataFolha já registrou até pesquisa eleitoral com o nome de Marina Silva na corrida.

A elite brasileira tem pressa. É preciso definir o que fazer. Qual será o canto de sereia a convencer Marina? É preciso sondar humores.

FHC, numa rádio, respondia que a entrada de Marina muda tudo. “Não sei se ganha, mas aumenta a chance de segundo turno”.

Esse é o papel (falta combinar com a ex-ministra) reservado a Marina, nos sonhos de colunistas, comentaristas gagos e urubus de toda ordem: levar a eleição pro segundo turno, carregando o cadáver de Eduardo se preciso. Desde que no segundo turno esteja Aécio, e não a própria Marina.

Mas o quadro se complica. O eleitor nordestino de Eduardo é muito sensível ao que indicar Lula. O ex-presidente guarda um silêncio respeitoso, enquanto  revistas da marginal e marginais de revistas fazem cálculos, contas e insuflam a onda de ódio no Brasil.

Tudo isso por cima dos cadáveres de Eduardo e das outras vítimas do acidente.

Marina é útil? Ótimo. Falta combinar com o eleitor.

(Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil/Fotos Públicas)

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