De Curitiba
Pra começar reitero que torço o nariz pras expressões como esta "só que não".
Só que tive que me render desta vez porque define com precisão este caso.
Falo do mea culpa que a Rede Globo fez dias atrás, ao publicar um texto em que admite ter sido um erro o apoio que deu ao golpe civil-militar de 1964.
("Ressurge a democracia" é o bizarro título do editoral que o jornal O Globo exibiu na primeira página da edição de 2 de abril de 1964, um dia depois da deposição do presidente trabalhista João Goulart)
O texto de dias atrás parece e faz parecer um arrependimento, só que a leitura atenta mostra que não, não há arrependimento.
Há apenas a confissão, 50 anos depois, de uma postura, condenável e que cada vez mais custa caro à imagem da Rede Globo.
Mesmo os que ideologicamente não estão no campo da esquerda ou não dispensam restrições ao comportamento da mídia identificam a Globo como apoiadora e beneficiada pela ditadura civil-militar de 1964 a 1985.
No seu texto (leia aqui) a Globo assume o erro do apoio ao golpe mas não confessa as vantagens obtidas pelo conglomerado com o regime de então. Tampouco se desfaz de seu conservadorismo, da defesa dos interesses das elites e do poder econômico.
Pelo contrário, no mea culpa de agora a Globo repete a aversão às reformas de base que o governo trabalhista de João Goulart propunha e deixavam os conservadores em pânico. Em nenhum momento a Globo reconhece que se tratava de um delírio o temor de que se instaurava uma "ditadura sindicalista".
Como analisou o sociólogo Emir Sader, neste artigo publicado na Carta Maior no sábado, nem arrependimento, nem vergonha - o que levou a Globo confessar o erro foi a conveniência.
O que não é de todo mal. Quem sabe daqui a algumas décadas a Globo se confesse sobre o caso Proconsult (tentativa de golpe para impedir a eleição de Leonel Brizola ao governo do Rio de Janeiro em 1982; saiba mais aqui), assuma o apoio a Fernando Collor, reconheça-se perseguidora dos governos populares da América Latina, etc etc etc.
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