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sábado, 26 de fevereiro de 2011

Luz iluminada

Falou-se mais de espirros de Ronaldo do que da despedida da fenômeno

De Curitiba

Certamente você se enjoou de tanto ouvir falar em Ronaldo nas duas últimas semanas.

Desde que ele anunciou, numa coletiva que teve o horário alterado para coincidir com a transmissão do Globo Esporte, o fim da carreira, é um bombardeio diário, em tudo quanto é programa de televisão, sobre a vida - profissional e pessoal - do ex-jogador.

Este post não vem para negar o talento e o legado de Ronaldo. Tampouco para contestar homenagens, quando merecidas.

Mas vem para mostrar que tanta exposição na mídia se deve mais ao peso dos patrocinadores do jogador do que propriamente ao que fez como atleta. E que tantas homenagens, tanta repercussão, pautadas pelos bancos, marcas de tênis, cervejarias e operadoras de celular, são um atentado contra o esporte brasileiro.

Uma outra despedida, nesta semana, torna isso bem evidente.

Na última segunda-feira, a armadora Helen Luz, 38 anos, 20 deles dedicados ao basquete e à seleção brasileira, também anunciou que está encerrando a carreira.

Ao contrário de Ronaldo - que na verdade parou de jogar há um ano -, Helen estava em plena atividade, e forma.

Helen Luz foi, para o esporte brasileiro, tão importante quanto Ronaldo. Ou até mais.

No mínimo, Helen deu mais contribuições ao basquete nacional que Ronaldo ao futebol.

Helen também foi campeã mundial com a seleção, em 1994. Tem uma medalha de bronze em Olimpíadas - a da Sidney, em 2000. Duas Copas Américas: em 1997 e em 2001, quando foi eleita a mais importante jogadora da competição.

Em clubes, também acumula conquistas admiráveis e atuações pelos mais badalados do planeta. 

Helen jogou pelo Barcelona, onde foi campeã da liga espanhola em 2005. Disputou três temporadas da WNBA (2001, 2002 e 2003), pelo Washington Mystics. Esteve entre as melhores do campeonato (o que significa dizer, do mundo) nos arremessos de três pontos.

No Brasil, além de títulos paulistas, tem seis campeonatos nacionais.

Fenômeno é a família Luz: Helen tem duas irmãs craques de basquete, Silvinha e Cinthia, e um pai treinador que já vendeu bens particulares para pagar salários e manter times que se viram abandonados pelos sempre escassos patrocinadores.

Helen Luz também foi vítima de contusões. Uma delas, em 1996, impediu a armadora de fazer parte da equipe que faturou a prata nas Olimpíadas de Atlanta.

Agora, com um histórico de lutas e vitórias desses, a despedida de Helen na midiona comercial teve menos destaque que um espirro de Ronaldo.

Para um país que vai sediar Jogos Olímpicos, é vergonhosa essa discriminação, essa subserviência ao interesse das multinacionais, e não aos interesses do esporte.

Neste domingo, no intervalo da final da Liga Nacional, entre Ourinhos e Santo André, Helen será homenageada pela Confederação Brasileira de Basquete.

Dos torcedores, dos que acompanham esporte, ou dos que simplesmente são nacionalistas e patriotas, Helen merece todos os aplausos e agradecimentos.

Da midiona, espera-se um mea culpa, e o mais-que-devido destaque. Afinal, é obrigação constitucional dessa midiona a promoção da cultura e dos valores nacionais.

(Mais sobre Helen em www.irmas-luz.com e em www.cbb.com.br)

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Para uma ideia na cabeça

Nona edição do evento ocorre em setembro. Em breve, inscrições

De Curitiba

A dica é para quem gosta ou quer se enveredar pros lados da produção de vídeo.

Está marcada para setembro a nona edição do Festival Santista de Curtas Metragens, o Curta Santos.

O festival aceita inscrições de trabalhos de qualquer canto do país, em diversas categorias. Conta, além da mostra das produções aprovadas, com oficinas, debates e atividades correlatas que tratem de cinema.

O Curta Santos vem crescendo a cada ano e se consolida como um dos maiores festivais, do segmento, no país.

O período de inscrições, de acordo com o que a organização vem divulgando no twitter nos últimos dias, deve ser aberto em breve.

Acompanha lá (@curtasantos) e saiba mais sobre o festival em www.curtasantos.com.br.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Começo do fim

Final de tarde de verão nas praias de Santos (foto: WAA)

De Curitiba

Nesta semana alguém tuitou algo parecido com isto: "do fundo do meu coração detesto o fim do horário de verão".

De acordo.

O fim do horário de verão é o fim dos prolongados fins de tarde.

E fim de tarde é o momento mais agradável, prazeroso do dia.

O fim do horário de verão é o começo do fim do verão.

E verão, ainda mais em plagas como esta em que os invernos são rigorosos, é a mais inspiradora, motivadora e libertária estação do ano.

Mas tudo bem.

Não há - ao menos ainda - como alterar os movimentos de rotação e translação da Terra, de modo que lamentemos, sim, pra mostrar nosso descontentamento, no entanto nos conformemos.

O que não dá para se conformar é com achatamento salarial, aumentos nas tarifas de ônibus, acréscimo  recorde na tarifa de água, entrega do patrimônio público aos interesses privados, e por aí vai.

Nesses casos, porém, só lamentar não basta.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Primeira chamada

De Curitiba

A presidenta Dilma se mostra realmente disposta a investir pesado em educação.

Em seu primeiro pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão, por exemplo, anunciou medidas para ampliar o acesso de jovens a cursos técnicos-profissionalizantes.

Tendo, primeiro, o hoje senador Cristóvam Buarque à frente do ministério e, depois, o competente e engajado Fernando Haddad, o Governo Lula promoveu os maiores investimentos em educação pública da nossa história.

Ampliou de forma recorde a rede de instituições federais de ensino superior e de ensino técnico; com a criação do ProUni e a reformulação do Fies, quase 1 milhão de filhos de trabalhadores tiveram condições de cursar uma faculdade. Também foram recordes os repasses a Estados e Município, para os ensinos fundamental e médio (transporte escolar, material didático, infraestrutura).

Identificar e enaltecer os avanços não significa, porém, ignorar ou se conformar com as mazelas que persistem.

Se o acesso melhorou consideravelmente, a qualidade ainda patina. A presidenta, desde a campanha eleitoral, nunca omitiu isso.

A busca pela qualidade plena passa pela valorização dos educadores.

E a valorização, claro, começa com remuneração digna, com planos de cargos e salários que incentivem o contínuo aperfeiçoamento profissional.

A valorização depende também do reconhecimento da sociedade, sobre a importância do professor para a formação de cidadãos, para a construção de uma nação mais justa, solidária.

Neste início de ano letivo, uma ótima campanha publicitária do Ministério da Educação contribui para consolidar essa valorização.

"Seja um professor" mostra o respeito que o educador tem em países de todos os cantos do mundo, convoca os jovens a olharem e se engajarem na profissão, dá dicas e orientações aos interessados.

Os vídeos estão sendo veiculados na televisão e há um portal específico na internet, o http://sejaumprofessor.mec.gov.br.

É evidente que só o marketing não basta. Se não estiver associado a medidas concretas, reais - e aos poucos elas têm se efetivado -, esvai-se. Mas a campanha, bem elaborada e bem aplicada, mostra-se fundamental.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Cidades para caminhar e pedalar

De Curitiba

Da mesma forma que os gestores públicos se preocupam com a implantação de binários, anéis viários,  corredores para ônibus, poderiam planejar e estabelecer vias destinadas à circulação de bicicletas e a caminhadas, para serem utilizadas pelos cidadãos nas suas locomoções diárias de casa para o trabalho, escola, lazer, compras, serviços.

Uma iniciativa exemplar foi adotada pelo Governo do Rio de Janeiro, que está elaborando um Plano Diretor de Transporte Não Motorizado, em 27 municípios do Estado. No último dia 3, um seminário que envolveu governo estadual, prefeituras, universidades e organizações não-governamentais colheu as primeiras sugestões.

Curitiba, por exemplo, tem uma malha cicloviária aproveitável para pedaladas por esporte, mas nada prática - na verdade, inútil - para o deslocamento do dia-a-dia. As ruas e avenidas (como as vias rápidas ou as de canaletas do expresso) onde estão os pontos geradores de tráfego, isto é, onde estão o comércio, os bancos, as lojas, as instituições de ensino, as repartições públicas, não são dotadas de ciclovias ou ciclofaixas.

Em Santos (foto), cidade plana portanto convidativa a pedaladas e deslocamentos a pé, as ciclovias até seguem percursos racionais. São ainda, no entanto, em extensão tímida. A expansão da malha deve ser acelerada.

Ciclovias como a em construção no Canal 1 certamente podem ser levadas aos demais canais, inclusive os no Marapé, Jabaquara e Zona Noroeste. A Avenida Nossa Senhora de Fátima também precisa com urgência de uma ciclovia, que se integre à da Avenida Martins Fontes.

Ciclofaixas podem muito bem ser implantadas ao lado do canteiro central das avenidas Pedro Lessa e Rodrigues Alves e na faixa da esquerda dos binários formados pelas ruas Carvalho de Mendonça e Joaquim Távora; e Floriano Peixoto/Galeão Carvalhal/Pedro de Toledo/Epitácio Pessoa e Guaiaó/Conselheiro Ribas/Conselheiro Lafayete/Amílcar Mendes Gonçalves/Azevedo Sodré/Euclides da Cunha.

E para "andar a pé"?

Bom, para isso as autoridades municipais devem por fim à privatização das calçadas. Os passeios têm que ser públicos, implantados, recuperados, desobstruídos, conservados e fiscalizados pela municipalidade.

As calçadas devem ter piso plano, serem ajardinadas, arborizadas, e em esquinas mais amplas ou em ilhotas e canteiros que separam fluxos das vias, bancos e coberturas para sombra se estabeleceriam como pontos de parada para descanso, ou de convivência, de encontro.

Hoje, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 20% das locomoções urbanas são feitas a pé ou de bicicleta, enquanto que 37% se dão por carro ou moto. É hora de se inverter isso.  Teríamos cidades muito mais saudáveis e "sustentáveis" (como está na moda dizer), não teríamos?

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Na chocadeira: xoque choca Baixada

De Santos

O Governo de São Paulo, o governo do xoque de jestão do PSDB, colocou de volta na chocadeira dois fundamentais e inadiáveis projetos para o desenvolvimento de Santos e região: a ponte entre a Ponta da Praia e o Guarujá e o metrô leve (VLT, veículo leve sobre trilhos) entre São Vicente e o Macuco.

A Baixada Santista está chocada.

Chocada com o xoque de jestão, porque foi duramente - não por falta de aviso, ressalve-se - golpeada pela turma desse xoque.

A ponte e o metrô leve fazem parte das promessas dos tucanos desde os tempos de Mário Covas, ou seja, há 16 anos.

Nos recentes tempos de José Serra, a inauguração de uma maquete da ponte e o lançamento do edital de licitação do metrô leve deram a impressão de que, finalmente, as promessas seriam cumpridas.

Na última campanha eleitoral, Geraldo Alckmin conseguiu votos na Baixada assegurando a conclusão das obras.

Qual não foi o choque, porém, quando, passado o pleito, descobriu-se que a turma do xoque excluiu do orçamento 2011 previsão de recursos para o metrô leve.


Na última quinta, dia 3, mais um choque com a turma do xoque: Alckmin anunciou a suspensão de R$ 3,6 bilhões em obras em todo o estado, entre elas a da ponte entre Santos e Guarujá.

Até o jornal A Tribunal, geralmente comedido em críticas aos governos tucanos, desta vez não aliviou.

"Era bom demais para ser verdade. Ponte na gaveta" e "VLT já começa trafegando para trás" são os títulos de duas ótimas matérias que explicitam bem o choque com o xoque. Com o golpe.

A região metropolitana da Baixada Santista tem cerca de 1,5 milhão de habitantes. A mobilidade urbana está entre os mais graves problemas. O sistema de transporte de massa que existia, o trem metropolitano, foi desativado pela turma do xoque de jestão há mais de dez anos, com o compromisso de ser substituído pelo metrô leve. A ponte, por sua vez, eliminaria o gargalo na ligação entre Santos, Guarujá e o Litoral Norte.

Dá-lhe xoque!