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terça-feira, 27 de agosto de 2013

Tão logo este tempo passe

Centro Cívico, noite do último domingo: trégua invernal, que nada (foto: WAA)
De Curitiba

Tão logo este tempo passe volto a atualizar este blog com mais frequência.

É que nestas semanas polares, letras, palavras e frases ficaram congeladas. Só as necessidades e obrigações básicas mereceram maiores esforços.

Sábias são as espécies animais que hibernam no inverno. Aos humanos além-trópicos bem que essa dádiva poderia ser concedida.

Pior é que a noite de domingo até anunciava uma trégua definitiva, com uma temperatura noturna amena como há muito não se sentia. Era esperar a segunda-feira amanhecer para ver os ipês anunciarem o cessar fogo.

Mas que nada.

Minha capacidade de raciocínio é curta para conceber as vantagens do frio. Todavia não reclamemos, que há um teto e relativo conforto no abrigo. 

Dramática mesmo está a situação das famílias da Grande Porto Alegre, que além das temperaturas geladas estão a enfrentar os alagamentos causados por temporal recente.

E inalcançável, inconcebível mesmo é o reacionarismo dessa gente letrada e estudada que está a ofender os irmãos cubanos. Profissionais que estão a desembarcar aqui para fazer o serviço que aqueles - os letrados, estudados, bem nutridos e abrigados, bem vestidos de jaleco branco - rejeitam fazer.

Tá na hora de o verão voltar.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Por mais bermuda e chinelo de dedo nos estádios

Vila Belmiro ainda mantém arquibancada "a la geral" (foto: WAA)
De Curitiba

Há uns três meses, Romário, deputado federal pelo PSB do Rio de Janeiro, em exemplar pronunciamento na tribuna da Câmara sobre as negociatas no futebol brasileiro, criticou o processo de elitização que tem afastado o povo dos estádios.
  • - Não se vê mais na arquibancada o torcedor de bermuda e chinelo de dedo. A "geral" dos estádios foi eliminada. Os preços dos ingressos são exorbitantes.
Foram, em síntese, estas as palavras do baixinho.

Assino embaixo.

E aplaudi a decisão do São Paulo Futebol Clube de oferecer ingressos a R$ 2 para o jogo desta quinta-feira, dia 15, contra o Atlética Paranaense.

Tomara que o Santos faça o mesmo. Estádio tem que estar cheio, e cheio de povo, de famílias - de trabalhadores, não só de "artistas".

Mas qual não foi a minha surpresa ao ler um texto de um tal "consultor" de "marketing e gestão esportiva", publicado no Lance!, principal diário esportivo do país. É um tal de Almir Sommogi quem escreveu isto:
  •  - Não sei quem tomou essa decisão (...) Você possibilitar que o torcedor pague só R$ 2 (...) Quando o preço cai muito, o nível do torcedor que vai ao estádio é muito pior.
Pasmem, mas foi isso mesmo que ele escreveu:
  • - Quando o preço cai muito, o nível do torcedor que vai ao estádio é muito pior.
Pode conferir . E tem mais:
  • - Inclusive, atrai um perfil de público que devemos abolir dos estádios, que é uma bandidagem. Não estou dizendo que só vai ter isso, mas existe esse risco também de ficar um clima muito pior no estádio do que a realidade anterior. Então, quando vi essa notícia [do ingresso mais baixo] fiquei bastante chocado.
Expressão mais sincera do coxinhização do futebol brasileiro não poderia haver.

Esses "consultores", "comentaristas" e "apresentadores" engraçadinhos, "celebridades" dos camarotes não querem dividir o espaço com o sujeito de bermuda, chinelo e radinho de pilha no ouvido.

"É uma bandidagem", generaliza essa gente.

Como se não houvesse bandido de roupa Nike, iphone no ouvido, a postar no instagram suas peripécias, com cartazes e outros adereços para chamar atenção da televisão.

Esse pessoal deve estar "inconformado" com a decisão do governo brasileiro de reservar ingressos  da Copa do Mundo mais baratos para beneficiários do bolsa família. Haverá cota também para operários que trabalharam na construção dos estádios (saiba mais aqui).

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Por mais elétricos nas cidades

Um dos seis trólebus Mafersa que sobrevivem em Santos (foto: PMS)
De Curitiba

São Paulo, Santos e Grande ABC são as únicas regiões do Brasil onde ainda existem sistemas de trólebus.

O de Santos, que completa meio século neste 12 de agosto, resiste com meia-dúzia de veículos, que rodam na linha 20.

Em São Paulo e no ABC, ao contrário.

A frota vem sendo ampliada e renovada. Veículos maiores (inclusive articulados), modernos, com bateria reserva que dá autonomia ao ônibus para rodar em caso de falta de energia ou de deslocamento por alguma via sem rede aérea, têm sido incorporados nos últimos anos.
  • Leia aqui sobre os novos elétricos que estão circulando na capital paulista
  • E aqui sobre os 50 anos dos trólebus em Santos
Ou seja, trólebus está longe de ser um modal arcaico, ultrapassado, que atravanca o fluxo de veículos.

Pelo contrário. 

São ônibus mais confortáveis, menos barulhentos, não poluentes, bem mais duráveis que os movidos a diesel. São sustentáveis. Absolutamente pós-modernos, portanto.

O governo federal poderia criar um programa de estímulo à implantação de sistemas de trólebus, pelas prefeituras, a exemplo do que ocorreu entre o final da década de 70 e início dos anos 80.

Àquela época, por meio da Empresa Brasileira de Transportes Urbanos (EBTU), o governo financiou a compra e a produção dos ônibus elétricos e a implantação de redes de energia para circulação dos veículos. Com os subsídios, em Santos, por exemplo, a tarifa nas linhas de trólebus chegou a ser mais barata do que o preço da passagem dos ônibus a diesel.

Mas aí veio o tsunami neoliberal dos anos 90, que diminuiu e afastou o Estado de políticas públicas como essa; os sistemas de transporte urbano foram, então, privatizados.

Prevaleceu a lógica de mercado, não o desenvolvimento de soluções. E assim, como dito, só em São Paulo, Santos e Grande ABC os trólebus conseguiram sobreviver.

domingo, 11 de agosto de 2013

Um 'pedacinho' do Museu da Língua Portuguesa

Painéis com fotos e mapas, vídeos e programas de computador compõem exposição (foto: PMS)
De Santos

Começou por Santos uma exposição itinerante do Museu da Língua Portuguesa. Por aqui, a mostra segue até o dia 31 de agosto. Depois, percorre mais seis cidades do Estado de São Paulo.

Vale conferir!

A exposição é pequena, se comparada com o material disponível na sede do museu, na Estação da Luz, na capital paulista. É só um pedacinho. 

Mas é bastante instrutiva e informativa.

Aproxima a gente de outros povos lusófonos; ilustra a evolução do idioma e ressalta a contribuição de línguas indígenas e africanas para o português contemporâneo. Fala, aliás, da diversidade desse português - só no Estado de São Paulo, exemplifica um painel na mostra, o português-santista se difere do paulistano, que por sua vez também não é igual ao interiorano.

Uma produção audiovisual relaciona a interrelação entre língua portuguesa e manifestações como música, literatura, dança, culinária, religião e esporte.

Enfim, só indo lá para saber mais.

(Leia aqui sobre o projeto de exposição itinerante e aqui sobre a estreia em Santos)

sábado, 10 de agosto de 2013

Alex, do Coxa: no ângulo

Meia fala o que poucos ousam: Globo manda no futebol (foto: Divulgação/Coxa)
De Curitiba

O camisa 10 do Coritiba Foot Ball Clube marcou mais um golaço.

Alex, que em campo às vezes parece disperso, desligado, mas quando menos se espera apronta para os adversários - eu que o diga; vi de perto o balde de água fria que ele derramou sobre a molecada do Santos no empate com o Peixe na Vila Belmiro em 21 de julho - não teme nem zagueiros nem os adversários fora de campo.

O gol desta vez, todavia, foi com as palavras. Numa entrevista ao Lance, nesta semana, o meia criticou: quem manda no futebol brasileiro é a Globo. 
  • "A gente sabe que a Globo trabalha na dependência da novela. A gente brinca aqui no Coritiba que os jogos de quarta-feira só rolam depois do último beijo da novela."
Alex foi mais além. A ingerência da emissora é ruim para jogadores, pior ainda para torcedores. A Globo, mais preocupada em faturar, castiga o brasileiro e a brasileira apaixonados por futebol, uma marca cultural nossa.
  • "Pô, a gente joga bola dez horas da noite. Eu, que vou jogar, vejo uma situação ruim, preciso ficar no hotel o dia inteiro esperando um jogo dez horas da noite. Isso é ruim. Mas estou dentro de um hotel, confortável, tranquilão, vou jogar 90 minutos, tomar banho e vou embora para casa. E o torcedor? O cara sai de casa ou do trabalho, precisa ir para o estádio dez horas da noite, assistir ao jogo, voltar para casa, e ainda precisa acordar sete horas da manhã no outro dia. Poxa, isso é desumano. Por isso que os estádios estão vazios."
Na entrevista o camisa 10 coxa-branca fala ainda dessa praga que empesteia os clubes: os empresários de jogador (leia aqui).

Alex é craque com a bola e, se os ingressos não fossem tão caros, a cada partida do Coritiba aqui no Couto Pereira iria pra ver o meia jogar.

Mas o que Alex mostrou mesmo é ter personalidade para tocar no assunto que poucos no futebol, sequer das emissoras concorrentes, ousam mencionar: a subserviência aos interesses da emissora dos Marinho. 

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Nigel Mansell, 60 anos: sem gasolina e carona para Senna

Piloto protagonizou rixas históricas, mas sempre leais (foto: Williams F1)
De Curitiba

Amanhã, quinta-feira dia 8 de agosto, é aniversário do ex-piloto Nigel Mansell. Campeão da Fórmula 1 em 1992 e da Fórmula Indy em 1993, o inglês completa 60 anos de idade.

Foi na Williams que Mansell protagonizou os melhores momentos da carreira; memoráveis disputas com Niki Lauda, Nélson Piquet, Ayrton Senna e Alan Prost.

Nesta semana, a escuderia britânica convidou seus seguidores no twitter a relatarem o fato mais marcante da trajetória de Mansell na equipe.

Fã que sou da figura e de seu estilo de pilotar, cito dois:
  • O fim da gasolina na última volta do Grande Prêmio do Canadá em 1991. Nigel Mansell dirigia a praticamente imbatível Williams de número 5. Liderava com folga, com larga vantagem, a prova. Na derradeira volta, já acenava pra galera. Até que de repente o carro perde velocidade. Mansell começa a socar o volante, como que tentando empurrar a máquina de dentro do cockpit. Não tinha mais jeito: sem combustível viu o rival (e amigo) Nélson Piquet ultrapassar e faturar a corrida. Confira o vídeo aqui.
  • Na mesma temporada, meses depois, foi a vez de Ayrton Senna ficar a pé por falta de combustível. Mansell, com sua Williams amarela, azul e branca, passa e dá carona pro brasileiro. E lá se vão os dois: o "leão" (como era chamado pelo estilo arrojado) a guiar sua máquina, com o adversário (e também amigo) sentado na carenagem. Relembre aqui.
Leia também:

domingo, 4 de agosto de 2013

Não tem 8 a 0 que arranhe esta história





De Curitiba

Pra quem desconhece ou se esqueceu, este vídeo acima - uma reportagem especial do programa Esporte Espetacular, da Rede Globo - mostra um pouco da história vitoriosa do Santos Futebol Clube.

A reportagem - da série "Campeões do Brasil" - aborda "só" os oito títulos nacionais do Peixe.

Você sabe que, além de octacampeão brasileiro, o alvinegro da Vila Belmiro é tri da Libertadores, bimundial, bi da Recopa Sul-Americana, penta do Torneio Rio-São Paulo, 20 vezes campeão paulista, uma vez campeão da Conmebol e uma da Copa do Brasil. Conquistou ainda incontáveis taças em torneios na América Latina, Europa, África e Ásia.

Confira aqui a relação de títulos do Santos ano a ano e verifique, por exemplo, que a reportagem acima tem uma incorreção, ao dizer que o Peixe ficou 18 anos (entre 1984 e 2002) "na fila" - nesse meio tempo o time faturou o Rio-São Paulo (1997) e a Conmebol (1998), torneios extremamente disputados e de importância, sim, para a época.

Toda trajetória rendeu ao praiano o reconhecimento, da Fifa, de maior time do século XX nas Américas, e o quinto principal do mundo (ver aqui).

Contra a desinformação, informação. Ante a memória fraca, história.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Há 30 anos, Santos resgatava sua autonomia






De Curitiba

A minha ainda pátria sofre as sequelas dos tempos da ditadura militar.

Entre tantos exemplos, o de hoje.

Nesta sexta-feira, completam-se exatos 30 anos do decreto-lei 2.050, de 2 de agosto de 1983, que devolveu a Santos sua autonomia política (reproduzido acima).

Classificada como "área de segurança nacional" em 1969, pelos civis e militares que deram o golpe e depuseram em 1964 o presidente João Goulart, Santos perdeu o direito de eleger seu prefeito e decidir seus rumos. A administração do município foi delegada a interventores escolhidos pelo militar de plantão na Presidência da República.

Na virada dos anos 70 para os 80, com o desgaste do regime vigente, a classe política e a sociedade local conseguiram se mobilizar e, graças a essa pressão, veio o resgate da autonomia, no decreto assinado pelo presidente em exercício, Aureliano Chaves.

A eleição do novo prefeito só viria em 1984, em 3 de junho.

Bom, por que percebo evidências de que o regime militar conseguiu anular o que marcava a sociedade santista, qual seja uma politização à esquerda, progressista?

Primeiro, porque no ano em que Santos comemora três decênios do resgate de sua independência, o prefeito do município é justamente o herdeiro político do último prefeito biônico (nomeado pelo regime), Paulo Alexandre Barbosa, do PSDB, filho de Paulo Barbosa (Arena, PDS). Paulo Barbosa pai deixou o Paço Municipal, em 1984, sob ovos e vaias (confira aqui).

E, no dia para se lembrar daquela data histórica, não se tem notícia de nenhum ato público, manifestação, evento em celebração a esse marco

Enfim, a autonomia definitiva Santos conquistaria de fato em 1984, com as eleições para prefeito e vereador em 3 de junho daquele ano, e a posse do eleito - Osvaldo Justo (PMDB) - em 9 de julho (recorde aqui).

Portanto, ano que vem teremos os 30 anos da independência plena. Que o aniversário seja devidamente celebrado. Aqueles anos de escuridão precisam ser recontados às duas, três gerações que talvez não tenham a exata dimensão do que aquilo representou para a história e o futuro da vida santista.