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segunda-feira, 29 de abril de 2013

MST, premiado por lutar pela paz

Jornada de Luta das Mulheres Campesinas, em março (foto: MST)
De Curitiba

Se existe um povo demonizado na grande mídia é o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, o nosso MST.

Nem vou me dar o trabalho de enumerar exemplos; a perseguição é tão evidente, escancarada, que não carece de demonstração. Aliás, a midiona própria se assume opositora do movimento.

Agora esta notícia, sim, faço questão de replicar aqui porque esta você não vai ver nos telejornais do horário nobre nem do horário pebleu, tampouco nos jornalões e revistonas que se autointitulam "indispensáveis" ou que "não dá pra não ler".

A notícia é a seguinte: na última sexta-feira, o MST recebeu na Espanha a edição 2013 do Prêmio Guernica pela Paz e Reconciliação.

Repare bem: uma organização brasileira, popular, sendo reconhecida internacionalmente por defender um direito sagrado, qual seja o da terra para plantar e alimentar, não para especular.

E na nossa neutra e imparcial mídia... Nem um piu. Se fosse qualquer ong capitalista a receber um papel que fosse, aí seria diferente.

A justificativa dos jurados do prêmio, pela escolha do MST:
  • "[O movimento é uma] organização que luta pela paz e pela Reforma Agrária no Brasil. Está há 30 anos resistindo, de forma não violenta, e já conquistou mais de 1.500 assentamentos legalizados, que reúnem 350 mil famílias em um total de 5 milhões de hectares".
A matéria completa você lê acessando aqui.

domingo, 28 de abril de 2013

Um espetáculo sem reprise


Cinco torcedores teriam morrido de emoção, noticiou a imprensa
De Curitiba

Assistindo ao Santos e Palmeiras deste final de semana reacendeu a vontade de ver o reprise de uma peleja, antiga, de 55 anos atrás: o histórico Santos 7 x 6 Palmeiras, de 6 para 7 de março de 1958.

O Peixe já tinha um timaço e começava a construir a inigualável trajetória vencedora que deu fama planetária ao clube.

Não eram, no entanto, tempos de câmeras digitais e youtube, de modo que os registros audiovisuais daquele embate são escassos.

Restam-nos as histórias contadas pelos protagonistas daquele espetáculo, e entre eles está José Macia Pepe, o Pepe.

Seo Pepe esteve em Curitiba três anos atrás, em bate-papo no Sesc da Esquina e, claro, entre os causos, falou daquele 7 a 6 do time de Vila Belmiro sobre o do Parque Antártica.

Pepe marcou três, entre eles os dois últimos gols, os que garantiram a vitória praiana.

Do jeitão que só ele sabe contar, Pepe relembrou:

  • O Palmeiras saiu na frente, o Santos empatou, depois o Palmeiras fez mais um, o Santos empatou de novo. Depois só deu Santos.
  • O primeiro tempo terminou 5 a 2 pra gente. No vestiário, no intervalo, o tesoureiro do Santos já fazia as contas para pagar o bicho dos jogadores, já separava os montinhos de dinheiro pro bicho. Pô, com aquele placar, do jeito que a gente tava jogando...
  • Só que o Palmeiras voltou outro pro segundo tempo. Fez três, quatro, cinco; empatou. Fez o sexto, virou.
  • Mas aí fiz dois gols, o do empate [em 6 a 6] e o da virada novamente [7 a 6].
  • Teve gente que sofreu infarto, morreu, não aguentou tanta emoção [a imprensa da época registra que foram cinco mortes].
A parte mais engraçada da história ocorre depois da partida, já em Santos (o jogo tinha sido no Pacaembu). Pepe narrou:
  • Terminado o jogo, voltamos pra Santos. Era de madrugada, fui pegar o ônibus pra São Vicente. Morava em São Vicente e naquela época não era que nem hoje, que jogador tem carro, a gente andava de ônibus. 
  • Peguei o ônibus na Praça dos Andradas, o ônibus vinha cheio de trabalhador, do porto, o pessoal voltando trabalho. Sentei do lado de um, que começou me olhar, me olhava, me encarava.. até que perguntou: "ei, você não é Pepe?". 
  • "Sim, sou". "Vocês jogaram contra o Palmeiras, né?, quanto é que foi o jogo?". "Sete a seis pra gente". "Ah, rapaz, deixa de ser mentiroso". 
  • O cara não acreditou. Realmente, era inacreditável.
Em 2010, uma reportagem do Esporte Espetacular resgatou a memória da memorável partida. Clique aqui para assistir.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

É bom saber mais sobre software livre

Fórum instala e explica funcionamento de programas
 De Curitiba

Ocorre no próximo sábado, dia 27, em mais de 90 cidades do Brasil - entre elas Curitiba, Santos e Aracaju, onde está a maior parte do público leitor deste blog - a edição 2013 do Festival Latino-Americano de Software Livre.

Você pode ir até o local de realização do festival com seu computador de mesa, com seu notebook ou netbook e instalar, de graça, um sistema operacional que vem com navegador de internet, editor de texto, de planilhas, de desenho, programas de edição de fotografias, de vídeo, de áudio, entre tantos outros.

Isso mesmo, de graça, sem pagar nada, e sem piratear nada também.

Além de instalar, você poderá tirar dúvidas sobre o que é o software livre e como operar seus programas, que são uma espécie de genéricos aos programas comerciais, pagos.

Você vai ver que eles têm os mesmos recursos, são tão avançados quanto os photoshops e vegas da vida. Claro, têm outros comandos, outras formas de operação, diferentes daquelas em que você tenha se alfabetizado em informática.

Mas são apenas diferentes, não inferiores.

Esta é uma das grandes resistências que o software livre encontra: por ser "de graça", "genérico", a imagem que as pessoas têm é a de que seus recursos são inferiores, menores, menos evoluídos que os do Windows, Apple e de outras marcas famosas.

Não são, são apenas diferentes.

E com uma vantagem, aliás, baita vantagem: a filosofia, a razão de ser do software livre.

Você sabe que quem não domina informática cada vez mais fica alheio no trabalho, nos estudos, nas relações sociais...

Dominar, no entanto, não significa apenas saber operar. Dominar significa ter o domínio da tecnologia, ter a possibilidade de interferir, de criar, de fazer evoluir essa tecnologia.

Os programas de Windowns, Apple e outras marcas são "fechados". Isso significa o seguinte: por mais que você entenda de informática, saiba manipular programas, não vai conseguir fazer nada além daquilo na forma em que o programa foi construído, para que ele foi feito.

Um programa de software livre é em código aberto, ou seja, sua adaptação, sua alteração, seu aprimoramento, como o nome diz, é "livre" pelo usuário. Você pode alterar o editor de fotos, de vídeo ou de áudio às suas necessidades, pode distribuir à vontade, que você não vai estar pirateando. Você vai estar é contribuindo pra democratizar o acesso à informática.

Só que o jogo contra o software livre é pesado porque, claro, sua popularização significa prejuízos aos interesses financeiros multinacionais das Microsofts e Apples da vida.

Faz parte desse jogo omitir da sociedade as vantagens dos programas em código aberto e faz parte também sustentar essa imagem de que software livre é inferior, mais atrasado - "genérico" no sentido de imitação, de quebra galho. Faz parte fazer crer que quem usa software livre está menos alfabetizado em informática, é menos informatizado.

Não é.

Só não tem grife, mas não é inferior.

Ter em mãos o software livre, dominar o software livre, é garantir a soberania no domínio daquilo que é essencial hoje no mundo do trabalho, nos estudos, no entretenimento, na informação, nas relações sociais: as ferramentas de informática.

O Brasil, pelo governo federal, tem avançado bastante no uso e no incentivo ao software livre.

O Paraná, no governo Roberto Requião, tomou esse caminho e o estado se tornou referência, modelo a ser seguido. Ultimamente, no governo do PSDB, tem regredido - o governador Beto Richa recentemente assinou contrato com a Microsoft. Em São Paulo, como o PSDB governa há 18 anos, o software livre nunca encontrou espaço. Em Sergipe, não sei como está hoje, mas há alguns anos, quando Marcelo Déda, mesmo sendo do PT, era prefeito, estive numa dessas lan houses públicas na orla e, infelizmente, as máquinas eram equipadas com Windows.

Bom, mais sobre o festival (em Santos, no Sesc Aparecida; em Curitiba, na Fesp, e em Aracaju, na Fanese), aqui. E sobre software livre, aqui.

domingo, 21 de abril de 2013

Um presente aos santistas no Dia de São Jorge. Igual ao de Cuiabá

Em Santos e Cuiabá, obstáculos ao uso de ônibus (foto: WAA)
De Curitiba

Dia 23 é Dia de São Jorge e em Santos quem está a colocar uma espada no pescoço dos passageiros de ônibus é a empresa concessionária do transporte coletivo da cidade, montada no cavalo selado pelo prefeito Paulo Alexandre Barbosa, do PSDB.

A partir desta terça-feira, por mais grana que tenha na carteira, o cidadão não vai poder embarcar num coletivo, sem antes ter que se virar pra achar um ponto que venda bilhete ou cartão transporte.

É a importação de uma medida surreal - e, ao que tudo indica, inconstitucional - implantada ano passado em Cuiabá (ver aqui).

A medida proíbe que a tarifa seja paga dentro do ônibus.

A concessionária (Viação Piracicabana, do Grupo Constantino, o mesmo de dezenas de empresas de ônibus país afora, e dono da Gol Linhas Aéreas) há anos tirou os cobradores dos coletivos, sob a bênção dos ex-prefeitos Beto Mansur (PP, hoje deputado federal) e João Paulo Tavares Papa (PMDB). Claro que o sistema, que já era de péssima qualidade, ficou pior ainda.

Nas eleições do ano passado, o fim da dupla função exercida por motoristas foi promessa dos candidatos - entre eles, do tucano vencedor.

Em vez de obrigar a empresa a colocar cobrador de volta nos ônibus, o prefeito Paulo Alexandre Barbosa transferiu para o cidadão a responsabilidade pelo fim da dupla função dos motoristas.

Em janeiro, logo que assumiu o Palácio José Bonifácio, o prefeito determinou que a partir de 23 de abril os passageiros só poderiam embarcar nos coletivos com o cartão de transporte. Não será mais aceito o pagamento com dinheiro em espécie, o que contraria o artigo 43 da lei de contravenção penal, que estabelece como contravenção "recusar-se a receber, pelo seu valor, moeda de curso legal no país" (leia aqui).

Na última quinta-feira, dia 18, o diretório do Psol em Santos formalizou denúncia ao Ministério Público Estadual (acesse aqui). Que o glorioso MP se mexa.

Em Cuiabá, sexta-feira retrasada (dia 12), o Tribunal de Justiça do Estado do Mato Grosso decidiu manter, por unanimidade, liminar que obrigava as empresas do transporte coletivo municipal a manter cobradores nos veículos e, dessa forma, aceitar Real no pagamento da tarifa (confira notícia aqui).

Portanto, santistas, não se deem por vencidos. A decisão do ilustríssimo prefeito é perfeita e absolutamente contestável e revogável. Lutemos.

sábado, 13 de abril de 2013

Si yo fuera Maradona...Faria como ele

O camisa 10 participou de atos da campanha de Maduro (Foto: AVN)
De Curitiba

Maradona entrou em campo para dar sua contribuição em prol da Revolução Bolivariana na Venezuela, cuja continuidade será decidida neste domingo, dia 14, quando os venezuelanos vão às urnas para escolher o sucessor de Hugo Chávez, morto em 5 de março.

Segundo as pesquisas eleitorais, dos mais variados institutos, a sequência da revolução não está ameaçada. O candidato da situação, Nicolas Maduro, lidera em todas elas, com margem de 10 a 15 pontos percentuais.

Além do respaldo dos eleitores de seu país, Maduro tem o apoio da esquerda latino-americana – de lideranças políticas a artistas (entre eles, o craque argentino).

Acompanhei o processo eleitoral mais pelos meus seguidos-seguidores (chavistas, evidente) no twitter do que pela imprensa.

O relato é de que o candidato da oposição, Henrique Capriles, sabedor do legado de Hugo Chávez, forjou, de forma oportunista e tal qual um camaleão, uma mudança de cor. Tentou disfarçar suas umbilicais ligações com a direita venezuelana golpista e submissa aos Estados Unidos assumindo, por ora, um discurso de continuidade – em discursos, Capriles chegou a invocar Simón Bolívar.

Mas, extraordinariamente politizados, os venezuelanos não se embalaram nesse canto da sereia. De forma nenhuma chegaram a crer que Capriles poderia representar a continuidade das políticas populares e nacionalistas de Chávez. É o que indicam as pesquisas, é o que mostra a marea roja que inundou as ruas militando por Maduro.

Gustavo Dal Bo, conterrâneo de Maradona e radicado na Venezuela, onde mantém, com a mulher venezuelana, um hostel na capital, ilustra a diferença de apoio popular às duas candidaturas.

- Em Caracas, nos comícios de Maduro o povo encheu sete avenidas. No de Capriles, apenas duas quadras e meia de uma única avenida.

Além disso, as manifestações da raivosa direita, berço de Capriles, não deixam dúvidas do lado ao qual pertence o pseudoneobolivariano. “Viva o câncer”, pichação feita pelos partidários do candidato conservador, foi uma das expressões utilizadas pela direita no processo. A discriminação social - a competência de Maduro foi questionada por ele ter sido motorista de ônibus (qualquer semelhança com uma aversão a um ex-torneiro mecânico deve ser mera coincidência!) - também demarcou a trajetória dos opositores.

Acompanhe o que conta a estudante María Alejandra Sánchez:

- A campanha da direita está mais suja do que nunca. Fazem-se passar por 'revolucionários e bolivarianos', copiaram os símbolos da revolução, insultaram o povo, dizem que vão 'nacionalizar' os cubanos [profissionais que integram as missões de saúde criadas por Chávez]. Cada vez ofendem mais. Tanto que grupos que apoiavam [Capriles] até retiraram esse apoio. Estamos alertas, porque eles [da direita] têm sérias intenções de não reconhecer os resultados.

Não há um tiquinho de razão para não reconhecer as eleições venezuelanas. A constatação é do ex-presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter (leia aqui), que coordena um grupo que acompanha pleitos eleitorais mundo afora - entre eles, o monitoramento minucioso das votações na Venezuela durante a era Chávez.

Por essas e tantas mais, parafraseio a canção de Manu Chao: si yo fuera Maradona, lo haría como el (assista a videoclipe aqui).

sábado, 6 de abril de 2013

Um presente, como o de Chávez a Obama

"Com afeto", disse o venezuelano
 De Curitiba

Dois vizinhos nossos viverão, nos próximos finais de semana, eleições presidenciais: a Venezuela e o Paraguai.

A eleição venezuelana ocorre em 14 de abril. A paraguaia, no domingo seguinte, dia 21.

Daqui, do Brasil, a impressão que se tem dos dois pleitos, e dos acontecimentos da América Latina em geral, acaba sendo bastante superficial.

A cobertura jornalística que nos apresenta os fatos - e esta cobertura ainda é o principal instrumento utilizado para nos informar - em regra é rasa. Além do mais, é feita sob o ponto de vista das oligarquias políticas locais e, sobretudo, do poder econômico transnacional.

Não é discurso esquerdista não.

A realidade é assim: a verdade é como a gente enxerga, portanto transmitida como a gente enxerga.

“O que Fulano diz de Beltrano diz mais de Beltrano do que de Fulano”, ensina uma máxima da Psicologia.

Quem está mais preocupado com os negócios e os mercados vai relacionar os fatos a essa preocupação. E contá-los sob a ótica dessa preocupação. Quem está mais preocupado com os povos e a soberania nacional vai compreender os acontecimentos sob essa preocupação. E contá-los sob o ponto de vista dessa preocupação.

O que não dá para crer, e agora sim o discurso se torna esquerdista, é que a prioridade aos negócios e aos mercados seja mais importante que a preocupação com a nação e a sua soberania. Muito menos que o privilégio a negócios e mercados leve à nacionalidade e à soberania.

Não.

E então para se vacinar ante essa tentativa de confundir as prioridades, sigo o exemplo do comandante Hugo Chávez, que em 2009, a um Barack Obama recém-empossado presidente dos Estados Unidos, lhe presenteou com “As veias abertas da América Latina”, do escritor uruguaio Eduardo Galeano (relembre aqui).

Chávez, que via no colega um bom sujeito, considerou que se Obama se aprofundasse na história da América Latina compreenderia que - e por que - finalmente, depois de cinco séculos sendo dilapidada, a região começava a trilhar um caminho de independência das “potências” do norte.

Fica, enfim, a sugestão: leia “As veias abertas...”. A quem quiser, empresto.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Prédio da Rádio Nacional, o mais novo velho patrimônio cultural do Brasil

Edifício recebeu os astros da Era de Ouro do rádio
De Curitiba

O edifício que foi palco da chamada Era de Ouro do rádio brasileiro, o A Noite, da Rádio Nacional, no Rio de Janeiro, agora é oficialmente patrimônio cultural brasileiro. 

O tombamento saiu na quarta, dia 3. A seguir, reproduzo release recebido da assessoria de imprensa da Empresa Brasil de Comunicação, a EBC. A notícia, para quem luta pela preservação da memória da nossa nação, é sensacional. Acompanhe:
O apogeu da Nacional se deu ali
"Nesta quarta-feira, 3 de abril, o Edifício A Noite, localizado na Praça Mauá, no Rio de Janeiro, recebeu o título de patrimônio cultural brasileiro, concedido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Construído em 1929, o A Noite foi o primeiro arranha-céu da América Latina e marco da arquitetura Art Déco.

(...)

Pertencente à União, o A Noite é cedido ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), que ocupava 18 dos 22 pavimentos, e à Empresa Brasil de Comunicação, gestora da Rádio Nacional, que mantém no prédio os lendários estúdios e o auditório que marcaram época no rádio brasileiro.

(...)

Construído para ser a sede do jornal A Noite, o edifício viveu nas décadas de 1940 e 1950 o apogeu da Rádio Nacional, lá instalada desde a sua criação, em 1936. Enquanto os auditórios eram tomados por populares, os restaurantes do terraço e do térreo eram frequentados pela elite carioca.

— O A Noite tinha um elevador tão rápido, que as pessoas tinham até medo de subir nele — conta a radialista Daisy Lúcidi, há 61 anos na Rádio Nacional. — Lá, realmente, é a nossa casa. A história da Rádio Nacional está lá — diz, já na expectativa de retornar ao prédio e aos estúdios lendários nos quais interpretou, nos anos de ouro do Rádio, personagens de radionovelas de autores como Dias Gomes e Janete Clair, consagrados depois também na televisão.

Daisy foi parte integrante da Época de Ouro do Rádio, quando novelas irradiadas faziam sucesso semelhante às da TV atualmente. Na música, o auditório da rádio apresentava cantores como Orlando Silva, Francisco Alves e Sílvio Caldas, além de geniais arranjos do maestro Radamés Gnattali, que hoje dá nome ao local. A radialista também comanda na emissora, há 42 anos, um programa diário de prestação de serviços: o Alô, Daisy!

Com 102 metros de altura, o A Noite foi construído em dois anos. Mas, em 1934, o edifício deixou o posto de mais alto da América Latina, com a inauguração do Edifício Martinelli, em São Paulo, com 105 metros. Um ano depois, ambos foram desbancados pelo Edifício Cavanagh, em Buenos Aires, e os seus 120 metros de altura.

O tombamento promete garantir a reforma do edifício, que vai devolver ao A Noite o brilho e fazer juz à sua história.

Outra personagem que fez e faz história na Rádio Nacional, Gerdal dos Santos vê no tombamento do A Noite e, consequentemente, dos estúdios que marcaram a época de ouro do rádio brasileiro, um grande reconhecimento ao serviço prestado pela Rádio Nacional.

— A Rádio Nacional dignifica o A Noite. O tombamento do edifício não apenas representa um marco para a cidade do Rio de Janeiro como consagra a Rádio Nacional como meio cultural e de educação, que unificou o país ao chegar a todos os públicos, a todas as classes, diz.

Gerdal estreou na emissora em 1953, no programa Consultório sentimental, escrito e apresentado por Helena Sangirardi. Também atuou em radionovelas e em programas musicais. Durante o golpe militar de 1964, foi arrolado na célebre lista de esquerdistas afastados da emissora. Além de ser o mais antigo radiator em atividade no país, ainda hoje Gerdal apresenta dois programas na Rádio Nacional: Onde canta o sabiá, das 9h às 10h, aos sábados; e Rádio Memória, aos domingos, das 7h às 9h. O radialista também tem um quadro semanal no programa Redação Nacional, apresentado pela jornalista Neise Marçal, no qual conta a história da Rádio a partir de um grande nome citado pela jornalista.

Palco do qual emanavam e faziam eco em todo o país vozes de intérpretes como Dolores Duran, Cauby Peixoto, Dorival Caymmi, Dalva de Oliveira, Marlene, Emilinha, Carmélia Alves, Orlando Silva, Francisco Alves, Carlos Galhardo, Silvio Caldas entre tantos outros, a Nacional fez história também com O primo rico e o primo pobre, de Paulo Gracindo e Brandão Filho; emocionou com radionovelas como Em busca da felicidade, ou O direito de nascer; e seriados como Jerônimo, o herói do sertão.

— O tombamento do Edifício A Noite é um presente para a Rádio Nacional, para os ouvintes e para a cidade. Não se pode falar em revitalização da Zona Portuária sem que a Rádio Nacional e o Edifício A Noite estejam incluídos. A Rádio Nacional e o Edifício A Noite, construído pelo grupo que a criou, fazem parte do mesmo corpo. Um remete ao outro. O prédio, além de endereço da emissora, é histórico também como ícone arquitetônico, tanto pelo fato de ter sido o primeiro "arranha-céu" da América Latina, como também uma das primeiras grandes edificações em Art-Déco no país, diz o gerente da Rádio, Cristiano Ottoni de Menezes, para quem o tombamento do A Noite é um presente para a Rádio Nacional, para os ouvintes e para a cidade do Rio de Janeiro."

quarta-feira, 3 de abril de 2013

A aposentadoria do Fenemê

FNM, em cena de quase 30 anos atrás: mascote do Porto de Santos (foto: site AlfaFNM)
De Curitiba

Temos sérias restrições ao xoque de jestão tucanodemo, mas as boas iniciativas devem ser ressaltadas e uma delas é o tal Renova SP, que financia a compra de veículos novos, por caminhoneiros autônomos.

Por enquanto, o programa é voltado aos transportadores do Porto de Santos. No final do último mês, os dez primeiros caminhões financiados pelo Renova SP foram entregues pelo governador Geraldo Alckmin.

O programa foi lançado em maio do ano passado e dois aspectos merecem elogios.

O primeiro é o público-alvo. O Renova SP não é voltado às empresas transportadoras, mas sim ao caminhoneiro microempreendedor individual, justamente aquele que tem maior dificuldade em acessar linhas de crédito, porque não dispõe de patrimônio, ou de renda estável.

O outro ponto: não há cobrança de juros. Com isso, o valor da prestação é a metade daquela de uma linha de crédito comum. O financiamento é da Desenvolve SP, agência estatal de fomento do Governo do Estado.

Segundo informações oficiais, o objetivo é tirar de circulação na Baixada Santista cerca de 1 mil caminhões com mais de 30 anos de fabricação. Com isso, diminuir a poluição do ar e acabar com os transtornos ao trânsito ocasionados pelas constantes quebras dos veículos velhos.

Só dá dó do seguinte: com a renovação da frota, a tendência é que desapareçam da paisagem santista os legendários Fenemês (FNMs), alguns circulando há meio século.

Os robustos caminhões são praticamente mascotes do Porto de Santos - e da cidade.

São, também, a memória de um tempo em que o Brasil chegou a ter, em sua indústria automobilística, um fabricante nacional de veículos – FNM, pra quem não sabe, é a sigla para “Fábrica Nacional de Motores”.

A FNM era uma estatal, criada no Governo Getúlio Vargas. Teve seu auge durante o Governo JK. Em 1968, foi privatizada pelo governo da ditadura militar. Em 1985, encerrou sua produção.

Este site, ao AlfaFNM, “resgata um pouco da história desse bravo caminhão, ilustrando-a com comentários, relatos, nostalgia e muitas, muitas fotos”, conforme descreve o texto de apresentação. Confere lá: http://alfafnm.com/

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Os contrastes da seca no Nordeste

O anoitecer é o acalanto e a esperança de que a natureza...

pode trazer a água para acabar com a seca (fotos: WAA)

De Curitiba

A presidenta Dilma Rousseff deve anunciar nesta terça-feira, dia 2, mais uma série medidas para minimizar os impactos da seca no Nordeste.

Dilma estará em Forteleza, conduzindo reunião do conselho deliberativo da Sudene, ao lado de governadores da região.

Estive neste final de semana no interior de Sergipe e, de fato, a paisagem impressiona pela escassez do verde.

Se a natureza não presenteia o sertanejo com a chuva, ao menos o sertão tem o privilégio de, nestes tempos, contar com o extraordinário pôr-do-Sol, seu inigualável luar e o estrelado céu como acalanto.

Uma dávida de cenário esse anoitecer...

Não basta, todavia.

O Nordeste precisa de ações humanas também - entre elas as governamentais.

As medidas a serem anunciadas nesta terça devem ser emergenciais, paliativas.

Somam-se a obras estruturantes, como a questionada transposição do Rio São Franciso e aos investimentos em infraestrutura empreendidos desde o Governo Lula e que, junto com os programas de transferência de renda, propiciam ao Nordeste um processo de crescimento econômico e desenvolvimento social nunca visto antes. 

Crescimento e desenvolvimento que, por sinal, têm amortecido os prejuízos da atual estiagem - apontada como uma das mais acentuadas dos últimos 50 anos. Fosse uma década atrás e esta seca provavelmente seria muito mais trágica. 

Um avanço, no entanto, ainda insuficiente. 

Precisa ser mais radical, isto é, ir à raiz

E a raiz é a questão latifundiária.

Fazer chover a sociedade não consegue, mas distribuir a terra e utilizar o chão para alimentar a gente, proteger o solo e conservar o ambiente, isso a sociedade sabe. É só enfrentar quem não quer.