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domingo, 29 de janeiro de 2012

Dependente. Do samba


De Santos

Das caçulas do carnaval de Santos - fundada em 2008, depois da retomada dos desfiles em 2006 - a Mocidade Dependente do Samba, no Estuário, vai se constituindo numa das mais carismáticas escolas da cidade.

A começar pelo nome, o "Dependente do Samba" - genial, de cara chama a atenção

Mas os enredos escolhidos também têm despertado interesse.

Neste ano, a escola vai falar sobre Toninho Dantas, dramaturgo morto em 2010. Nascido em Vicente de Carvalho, na Baixada Santista, Toninho Dantas era conhecido como "agitador cultural" pelo que criou, desenvolveu, dirigiu, defendeu.

Foi ele quem idealizou, por exemplo, o Curta Santos - Festival Santista de Curtas Metragens. Também coordenou edições do Festival Santista de Teatro Amador (o Festa, o mais antigo em atividade no país). Além do trabalho artístico, destacou-se como cidadão: foi um dos grandes batalhadores pela anistia, nos anos 70, o que lhe rendeu prisão durante a ditadura militar.

Estive neste sábado na quadra da escola, conversando com o presidente da Dependente do Samba, Abelardo Fernandes da Silva, o Piu. As expectativas para o quarto desfile da história da escola são as melhores possíveis. A confecção das fantasias e a montagem dos carros alegóricos seguem o cronograma esperado. A procura de gente interessada em participar, principalmente por pessoas atraídas pelo enredo, tem sido grande - mas ainda há vagas em três alas. Os ensaios, às segundas, quartas e sextas, produtivos. A bateria esquenta os tamborins integrando duas bandas que vão às ruas na programação de pré-carnaval da cidade, a Dragões e a Peixe.

- Estamos cumprindo nossos objetivos: no primeiro ano (2009), como estreante, alcançar a pontuação mínima para integrar o grupo de acesso. Depois (em 2010), subir para o grupo principal. Ano passado, o objetivo era o de nos mantermos no grupo especial. Agora, começar a figurar entre as que mais se destacam.

Tomara!

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Santos, aos 466 anos

Vista aérea a partir da Ponta da Praia (foto: Tadeu Nascimento/PMS)

De Santos

Quem navega por este blog sabe da paixão do blogueiro por Santos.

Porque é a terra-mãe. Foi, e é, o chão que sustentou, que sustenta. É o porto sempre pronto a ser ancorado.

Porque é bela. Um dos rincões mais bonitos do planeta, por natureza.

Porque é fera. Foi pioneira pela abolição, foi brava na luta contra a repressão.

Santos, sempre Santos.

(Em 26 de janeiro comemora-se o aniversário de Santos, porque, em 1839 a então vila fora elevada à categoria de cidade. A fundação ocorrera séculos antes: em 1546. São, portanto, 466 anos contados a partir da colonização portuguesa - mas, claro, muito antes a história já era construída pelos nativos que pela região viviam)

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

A ideia da tarifa zero nos ônibus

Hoje, paga mais justamente quem menos pode pagar (foto: WAA)

De Curitiba

Uma vez por ano a tarifa de ônibus em sua cidade aumenta, não é mesmo? Um reajuste que nem sempre é passivamente aceito pela população - há poucos dias assistimos à Polícia Militar de Pernambuco reprimindo manifestações em Recife; tempos atrás situação semelhante ocorreu em Vitória, Londrina, Florianópolis...

Pois bem, existe uma ideia, nem é tão nova assim - foi tentada em São Paulo em 1990 -, que merece e deve ser discutida pela sociedade. Aliás, pré-candidatos a vereador e prefeito nas eleições deste ano, façam o favor de colocar o tema em debate.

Trata-se do "Tarifa Zero", nome fantasia de um projeto que altera drasticamente a forma de custeio do transporte público. Em vez de você, usuário, pagar a passagem cada vez que subir no ônibus, faria o pagamento de forma indireta - isto é, por meio dos impostos que a gente já paga.

Pra ficar mais claro: o custeio seria semelhante ao de outros serviços públicos, como saúde, educação, segurança pública, coleta de lixo.

(Neste artigo publicado aqui, Lúcio Gregori, o secretário de Transportes do Município de São Paulo que tentou implantar a ideia, explica melhor como funciona)

Num primeiro momento, soa inviável - fica difícil a gente imaginar ônibus circulando por aí com a galera embarcando e desembarcando sem desembolsar nada. Mas é só resultado da nossa resistência a quebrar paradigmas. O que o "tarifa zero" inviabiliza mesmo são os lucros exorbitantes das empresas concessionárias, conquistados às custas do suor dos trabalhadores e estudantes.

Transporte coletivo não é mercadoria, é serviço público tão essencial como educação, saúde, cultura, segurança. Afinal, é pelo transporte que se pode chegar ao posto de saúde, à escola, ao cinema, ao ginásio de esporte. Transporte caro restringe o acesso a esses serviços.

Pra saber mais: www.tarifazero.org

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Sempre pensando nelas

Nara Leão faria 70 anos (foto: www.jb.com.br)
De Curitiba

Triste coincidência nesta data de 19 de janeiro de 2012.

Seria o 70º aniversário de Nara Leão. São 30 anos da morte de Elis Regina.

Duas das maiores cantoras da música brasileira - sem ufanismo, duas das maiores cantoras do mundo.

Pode tocar "O bêbado e a equilibrista" a qualquer hora, em qualquer circunstância, que, na voz de Elis, é de arrepiar.

E "Diz que fui por aí", com Nara Leão? É só começar a ouvir que a gente acalma, viaja, deixa-se levar como um barquinho...

Anos atrás a gente pôde matar a saudade de Nara Leão com Fernanda Takai, que gravou um disco e realizou uma turnê interpretando canções eternizadas pela "musa de todas as bossas".

Agora, é Maria Rita que vai fazer a gente lembrar um pouquinho da Elis Regina. Por incontáveis vezes Maria Rita já declarou que sempre evitou "imitar" a mãe. Pelo contrário, tem declarado ela: nunca quis gravar músicas de Elis, não escuta e não assiste às atuações da "Pimetinha", justamente para não se deixar influenciar, não dar margem a comparações.

Mas não tem jeito, por mais que se esforce, é genético, é da natureza. Os gestos, os olhares, o sorriso, a introspecção de Maria Rita no palco tudo é muito, muito parecido com Elis Regina.

Com as águas de março vem o disco e começa a turnê de Maria Rita em memória da mãe. Fãs de Elis, apreciadores da música nacional aguaredam com expectativa essa chuva, essa promessa de vida.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Do Centro de Paqueras à Praia do Joinville

 O CPE, sob as bênçãos de Santo Antônio, na orla santista (foto: www.melhordesantos.com.br)

De Santos

Tão interessante quanto descobrir a origem dos nomes dos lugares, os oficiais, é conhecer as curiosidades que cercam a origem dos apelidos, daqueles batismos extraoficiais de determinados pontos de um bairro, de uma cidade.

Mais que isso: saber por quanto tempo esses apelidos duram - se a alcunha de outrora é inferida pelas gerações atuais e se, pelo andar da carruagem, tem vida curta ou, não, ainda será utilizada por anos e anos e, quem sabe, até se transformar em toponímia oficial.

Essa reflexão surgiu dia destes, caminhando pelas praias de Santos - nelas justamente estão alguns desses pontos identificados por nomes que não se encontram nos mapas.

Um deles, o "CPE", Centro de Paqueras do Embaré. É a região da Praia do Embaré, na altura da Igreja de Santo Antônio, onde está um conjunto de quiosques de lanches. Um lugar onde, 40 e poucos anos atrás, quando surgiu a concentração daquelas barraquinhas, a galera se encontrava para comer e flertar - sob os auspícios do santo casamenteiro.

A palavra "paquera" é demodê mas, se não com a fama de antes, o CPE ainda é assim conhecido. Os sites dos quiosques, por exemplo, fazem questão de estampar a expressão, ao informar onde, dentro dos sete quilômetros da orla santista, estão localizados.

Outra referência parece ter pedido força, todavia permanece. É a Praia do Joinville. Não adianta procurar nos guias, no GPS, nas placas de sinalização de trânsito, que oficialmente essa identificação não existe. "O Joinville" é um faixa da Praia do Boqueirão, na direção da tradicional "Confeitaria Joinville", localizada na avenida beira-mar, próximo à Rua da Paz.

Ontem, sexta-feira início da noite, uma foca foi encontrada por ali. Acontessesse isso pares de anos atrás e o jornal e a televisão, ao dar notícia, diriam que o animal apareceu na Praia do Joinville. Não foi assim. O noticiário informou que o mamífero marinho perdeu-se na praia, próximo ao Canal 3.

Depois de dez horas tratada por veterinários e biólogos, a foca voltou ao Atlântico. E eu a buscar saber se "Praia do Joinville" havia caído no esquecimento, era coisa do passado. Ufa!, não. Há comunidades no Orkut (se bem que este está em extinção) e as barracas de praia daquele ponto e o Moby Dick, concorrida balada vizinha à confeitaria que homenageia a maior das cidades catarinenses, fazem menção ao tradicional apelido.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Já se "semba" de cá

Capa do CD dos sambas deste ano do carnaval do Rio de Janeiro, nas lojas desde dezembro

De Curitiba

Um pouco de samba pra alegrar.

De samba de enredo pra esperar o carnaval chegar.

Olha, não é porque a Vila Isabel e a Portela são as preferidas - quem acompanha minhas considerações sabe que se não está do agrado, digo -, mas os sambas dessas duas escolas são dois primores entre os hinos de 2012.

A Vila Isabel, falando de Angola, com o seu "semba de lá que eu sambo de cá" tem tudo pra empolgar a Sapucaí. A letra, que apenas por trazer um refrão só já se diferencia, é cantada e tocada mais a semba que a samba, e essa temperada contagia.

Se o samba da Vila Isabel tem apenas um bis, o da Portela se destaca ao conter três refrões - um deles, sensacional: "No mar/ Procissão dos Navegantes/ Eu também sou almirante/ De Nossa Senhora Iemanjá". A Portela vai falar das rezas e rituais da Bahia, com referências à filha Clara Nunes, a começar pelo título ("Bahia: E o povo na rua cantando... É feito uma reza, um ritual").

Outra escola que vem com um samba muito bom, bem diferente dos últimos anos (até porque, finalmente, aposta num enredo interessante, sobre Luiz Gonzaga), é a Unidos da Tijuca. A ligeira pitada de forró ajuda a se mergulhar na letra.

A Beija-Flor, pra variar, mandou bem no samba, fazendo com que um enredo corriqueiro - a história de um lugar, no caso Maranhão - seja abordado de forma criativa. Não chega a ser, porém, um samba espetacular como o dos últimos anos. Só que a escola tem o Neguinho, e com ele na avenida todo samba agita.

Outro intérprete que salva um samba sem maiores destaques é o Wantuir, da Grande Rio. O refrão principal de "Eu acredito em você! E você?", forte, faz puxar o restante da letra.

Ah, por fim uma referência ao samba do ótimo enredo da novata Renascer de Jacarepaguá, sobre Romero Brito. É a menor das agremiações do grupo especial, tem dificuldades pra aprontar um desfile com o requinte e luxo das concorrentes, entretanto fica a torcida pra se manter no grupo das principais.

Bom, é isso. Ari e Rosa, até o sábado das campeãs estarei com os sambas na ponta da língua. Preparem-se por aí também.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

O rei pendura a coroa

Babi, o Rei Momo do carnaval santista desde 2001, passa a faixa neste ano. (foto: PMS)

De Santos

Depois de 11 carnavais, o Rei Momo de Santos, Darwin Ferreira Barbosa, o Babi, vai passar a faixa. A escolha do sucessor é hoje à noite no Teatro Municipal, e a assunção do reinado no sábado, na quadra da União Imperial.

Conheci o Babi em 2006, nas entrevistas para o livro que fiz, "Duas Noites - o re-encontro de Santos com o samba de carnaval".

Uma figura, um sujeito bom daqueles pra gente conversar pra conhecer um pouco do passado, de história.

Um estivador aposentado, apaixonado por samba, por carnaval e, sobretudo, pela X-9 - a escola do Macuco, bairro onde Babi fincou raízes.

Tem na ponta da língua sambas xisnoveanos de 40 anos atrás.

Apesar de X-9 confesso e sempre exaltar a escola do coração, é defensor de um carnaval sem rivalidades - e buscando essa harmonia cumpriu seu reinado.

Foi o rei da folia, bem humorado, mas sempre discreto, e com humildade. Nunca quis aparecer mais do que ninguém. Pelo contrário. Na passarela, era ele quem se curvava.

Não à toa é querido pelo mundo do carnaval santista. Só está pendurando a coroa por vontade própria. "Já é hora de deixar os outros se deliciarem com essa coisa", declarou ao jornal A Tribuna.