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quinta-feira, 28 de março de 2013

Samba no Sábado de Aleluia

 De Curitiba

Esta é pra quem gosta de samba, principalmente samba-enredo, e vai estar por Santos.

A Unidos dos Morros promove neste sábado, dia 30, Sábado de Aleluia - véspera da Páscoa - a "Noite dos Intérpretes".

Grandes nomes de grandes escolas da cidade e de São Paulo e Rio de Janeiro vão subir até o Morro da Nova Cintra e na quadra da agremiação, pertinho da Lagoa da Saudade, matar a saudade do carnaval.

Olha só a seleção: Quinho, da carioca Salgueiro; Carlos Júnior, da paulistana Império da Casa Verde; e Zinho e Bolinha, respectivamente das santistas União Imperial e X-9. Ah, sim, claro, e Baby, da escola anfitriã.

Gostaria de ir pra especialmente ver o show do Quinho. Este é o ano em que se completam duas décadas do histórico "Peguei um Ita no Norte" - do refrão "explode coração" - que deu o título de 1993 à Salgueiro, com o Quinho causando terremoto na Passarela Darcy Ribeiro.

"Arreeepiiiiiaaaa, Salgueiro!"

O show dos intérpretes começa às 22 horas. A entrada custa R$ 10.

terça-feira, 26 de março de 2013

Como a direita trata o povo

Flagra registrado em São Paulo por Marcelo Camargo (Agência Brasil);
De Curitiba
Nesta terça-feira, dia 26, dois episódios ilustram a forma como a direita governa.

Sim, há diferenças entre políticos, há diferenças entre partidos, há diferentes posturas ideológicas e administrativas na condução do poder público. Ora mais, ora menos; ora macros, ora pontuais. Mas há diferenças. Colocar todo mundo no mesmo balaio e caldeirão, é isso que o establishment, o poder, gosta e quer.

Vamos aos episódios.

Um deles, a truculenta reintegração de posse de um terreno na zona leste de São Paulo, executada pelo Governo do Estado, por meio de sua Polícia Militar.

O uso da força, sem respeitar crianças e idosos, não é inerente à ação da polícia. É inerente à ação da polícia quando comandada por um grupo político que considera sem-teto tudo um bando de invasor desordeiro desocupado. Porque essa mesma polícia comandada por esse mesmo grupo é bem mais gentil quando se trata de lidar com conflitos envolvendo ricos, interesses econômicos.

Em suma: a polícia age com brutalidade ou com suavidade conforme a ordem que recebe do comando. E a ordem do comando é resultado da sua maneira – sua ideologia – de enxergar o mundo.

A Polícia Militar de São Paulo há quase 20 anos está sob a gestão do governo PSDB/Dem. Crimes de Maio e Pinheirinho, só para citar dois casos mais emblemáticos e recentes, compõem o histórico de ações da polícia administrada pela aliança demotucana.

O outro episódio: greve dos servidores públicos em Santos, a primeira depois de 17 anos.

Durante a campanha, o atual prefeito, Paulo Alexandre Barbosa, também da aliança PSDB/Dem, foi claro: funcionário público, que faz a máquina funcionar e o serviço ser prestado, terá aumento de salário real. Assumiu, em janeiro, reajustando em 9% o seu próprio vencimento e o dos secretários. Para os demais servidores, o reajuste ficou para depois.

A proposta, risível, veio neste mês: 1,5% (um e meio porcento!) de “aumento” para professores, médicos, enfermeiros, engenheiros – para o funcionalismo de um modo geral. Um e meio porcento, isto é: quatro vezes menos que a inflação anual.

Orçamento apertado, gastos com pessoal no limite e argumentos "técnicos" desse tipo.

Só que o argumento, “técnico, não ideológico”, não serve quando o caso é lidar com o poder econômico. Se está preocupado mesmo com as finanças do município, por que Paulo Alexandre Barbosa não revisa o contrato com a Terracom e outros pouco transparentes? Vai cortar as despesas com publicidade que irrigam os jornais e emissoras de televisão da região? É ou não é uma decisão político-ideológica?


segunda-feira, 25 de março de 2013

Para ver depois do BBB, em vez de Tela Quente e CQC

 De Curitiba
 
Depois que acabar o Big Brother hoje, em vez de consumir o enlatado que passar na Tela Quente ou se alienar com o CQC, dá uma olhada neste documentário, o "Ao Sul da Fronteira".

Aproveita que ele está disponível na internet porque, pela temática e o ponto de vista abordados, certamente esse filme nunca vai passar na televisão comercial.

O documentário, de Oliver Stone, foi produzido em 2009. No Brasil, em 2010 esteve em cartaz por um curto período.

Assistindo ao "Ao Sul da Fronteira", você:

  • Vai entender como funciona o processo de manipulação da informação por parte da grande mídia, principalmente quando os privilégios dos poderosos grupos econômicos, políticos e bélicos estão ameaçados;
  • Será capaz de constatar o quão tosca é essa forjada rivalidade entre Brasil e Argentina, entre brasileiros e argentinos, porque vai entender que os adversários de verdade estão na América do Norte e na Europa;
  • Vai se dar conta, pois, que quando a gente deixar de cair nessa lorota de rivalidade e construirmos um ambiente de união, entre sul-americanos, teremos voz e força pra assegurar nossa soberania e não sermos colonizados;
  • Notará que essa união não está tão longe, está em curso, apesar dos bombardeios - não de balas de canhão, sim de contrainformação - sofridos cotidianamente;
  • Vai conhecer um pouco da Venezuela antes e depois de Hugo Chávez e compreender o êxito e a popularidade da Revolução Bolivariana.
Aqui, post do Macuco Blog de 2010, quando "Ao Sul da Fronteira" esteve em cartaz em Curitiba

domingo, 24 de março de 2013

O xoque de jestão em Santos já dá choque

Prefeito tem ido às comunidades. Mas governado para os ricos (foto: PMS)
De Curitiba

Bem que tentei dar um crédito ao novo prefeito, Paulo Alexandre Barbosa (PSDB). Eleito direto no primeiro turno com 57% dos votos, tem (tinha, pelo menos) respaldo popular –  que respeitássemos, então, a vontade do povo, que é soberana.

Além disso, ao que parece, possui sincero carinho pela cidade. Diferentemente dos tucanos em geral, é carismático; embora seja piá de prédio, aparenta se sentir bem no meio do povo; e se diz(ia) comprometido em erradicar as palafitas da Zona Noroeste e os cortiços do Centro Velho, problemas sociais históricos de Santos.

Mas que nada: passado o primeiro trimestre da gestão e as decepções se acumulam.

Primeiro, Paulo Alexandre Barbosa continua a deixar o poder público municipal cada vez mais subserviente aos interesses do poder econômico local.

Em vez de obrigar, por exemplo, o Grupo Constantino a devolver os cobradores aos ônibus da cidade, determinou que o passageiro é que não vai poder mais pagar a tarifa com dinheiro. Vai ter que se virar atrás do cartão. Filas nos pontos de atendimento da Viação Piracicabana são retrato do sacrifício que impôs ao povo para não desagradar o parceiro privado.

Depois, as denúncias de que, quando secretário-adjunto da Educação do Estado, teria sido contemplado com generosos presentes em troca de benefícios a empresários. Ainda estão sendo investigadas pelo Ministério Público, portanto prevalece - até que não haja provas, de facto - o princípio da inocênica. Não podemos, porém, deixar de ficarmos atentos.

Recentemente, contrariando o compromisso de priorizar a saúde, adiou para 2015 a inauguração do Hospital dos Estivadores. Deu lá seus argumentos, mas, sinceramente... Nada convincentes.

Agora, em evidente descumprimento do que prometeu em campanha, propõe a professores, funcionários de escolas, médicos, enfermeiros e outros profissionais da saúde, e ao funcionalismo de um modo geral, um reajuste de 1,5% - um e meio por cento – nos vencimentos. Índice quatro vezes menor que o da inflação anual.

Os servidores marcaram greve para esta terça-feira, dia 26. Tenho minhas restrições à paralisação de funcionários públicos, porque a suspensão dos serviços prejudica o povo e não o governante e seus correligionários. Todavia, quando por tempo determinado e em situações extremas (um reajuste que sequer cobre a perda do poder aquisitivo do salário pode ser uma situação dessas), é até compreensível.

Bom, santistas: aviso aqui foi o que não faltou.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Natal está longe, mas as teles já têm seu Papai Noel

... parece estar sendo aprofundada
De Curitiba

Estarrecido.

É assim que tenho ficado ao ler nas últimas semanas sobre as benesses que o Ministério das Comunicações está a conceder às operadoras de telefonia. 

A gestão atual caminha aceleradamente para alcançar a proeza de acentuar o processo de entrega do patrimônio público do setor de telecomunicações, iniciado pelo governo Fernando Henrique Cardoso. 

Consegue, assim, ser extraordinariamente mais generosa que o precursor choque de gestão neoliberal demotucano.

Você sabe que o serviço prestado pelas operadoras de telefonia é o pior possível e impossível. As empresas do setor, desde que a área foi privatizada, lideram há 15 anos os rankings de reclamação nos Procons.

Controladas por capital estrangeiro, também figuram entre as campeãs de remessa de lucros ao exterior (R$ 1 bilhão em 2012, informa o jornal Hora do Povo). É o “colonialismo dissimulado”, como define o jornalista Mauro Santayana (leia aqui).

Ah, claro, se enviam para fora quantias extraordinárias é porque estão a faturar alto. Quase R$ 1 trilhão em receita líquida (isto é, descontados impostos e algumas outras despesas) nos últimos sete anos, conforme calculou o jornalista Carlos Lopes (leia artigo aqui).

Bom demais, não?

E sabe o que o Ministério das Comunicações, comandado por Paulo Bernardo, fez e prepara?

Para essas mesmas empresas que mandam R$ 1 bilhão/ano em lucros para o exterior; que já obtiveram do BNDES, desde 1998, quase R$ 40 bilhões em financiamentos, e prestam a porcaria de serviço que conhecemos, o governo federal lhes tirou a obrigação de pagar R$ 6 bilhões em tributos que incidem sobre a folha de pagamento. São recursos que deixam de entrar no caixa da Previdência Social, a que paga nossas aposentadorias e pensões.

Tem mais, e o pior.

O Ministério das Comunicações propõe dar às companhias (são apenas quatro, praticamente; um oligopólio: Telefónica/Vivo, Net/Embratel/Claro, Oi e GVT) os chamados “bens reversíveis”.

Trata-se do patrimônio que pertence à União (ao povo, portanto, construído por décadas com o nosso dinheiro) e que as teles devem devolver em 2025, quando encerram os contratos de concessão. São mais de 6,6 mil imóveis em todo o país, infovias de transmissão e rede de dados da Embratel quando estatal, emprestada às operadoras pelo processo de privataria do governo Fernando Henrique Cardoso.

Um patrimônio avaliado, por baixo, em R$ 17,3 bilhões. A Associação Proteste diz que o montante está subestimado (confira aqui).

Mais do que o volume financeiro, o que está em jogo é soberania nacional. Afinal, ao transferir essa infraestrutura ao capital privado, a nossa transmissão de informações – a nossa comunicação – fica sujeita aos humores, aos interesses desse capital – que, como vimos, é estrangeiro.

O Ministério das Comunicações diz que o alívio tributário e a encampação dos bens reversíveis pelas operadoras são a contrapartida necessária para que as companhias ampliem seus investimentos, principalmente os voltados a expandir e melhorar a qualidade da rede de banda larga.

Coitadinhas, realmente estão a precisar de empurrão mesmo essas empresas, não?

Não precisa ser de esquerda ou ter votado na Dilma, basta ter um mínimo de noção de cidadania - ou nem isso: apenas estar preocupado com o próprio bolso e com o próprio serviço que consome - para se espantar com esse histórico de absurdos.

Inadmissível.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Robôs que tuítam

 De Curitiba

Pessoal que estuda o uso das redes sociais pelas corporações, ou simplesmente quer aprimorar a aplicação delas para seus empreendimentos, seja de que porte e para qual finalidade for, mirem-se no anti-exemplo da Light e do Santander.

Deve haver mais por aí, mas é que destes dois casos a gente teve demonstrações evidentes nos últimos dias.

O camarada Eduardo Goldenberg recentemente descarregou merecidos desaforos às duas empresas, via twitter, mencionado a arroba delas nas respectivas tuitadas.

Controladas por robôs (só pode!), as contas de imediato responderam ao Goldenberg: uma – a Light - agradecendo pela menção (isto é, pelo desaforo) – e a outra (Santander) convidando-o a “aproveitar os serviços” da instituição.

Duas respostas automáticas, padronizadas, em total desconexão com o contato inicialmente feito pelo “cliente”, como essas corporações costumam nos chamar.

Repare: se no twitter - essa vitrine para o mundo virtual, a aparência, a fachada, o cartão da visitas da corporação - o desleixo é tamanho, imagina o zelo que essas empresas têm para com os serviços que nos prestam.

Será que prestam?
 

quarta-feira, 20 de março de 2013

A sub-utilização dos painéis no Anel Viário de Curitiba

Painel quando recém-instalado, há exato um ano (foto: PMC)
De Curitiba

Dias atrás questionou-se aqui a qualidade da programação veiculada pelos aparelhos de televisão instalados nos ônibus biarticulados de Curitiba. Agora, e por sugestão do internauta Rodrigo Paes, a dúvida é sobre o aproveitamento dos painéis eletrônicos implantados no chamado Anel Viário, conjunto de vias que circundam a região central da cidade.

Em vez de alertar os motoristas sobre os pontos de lentidão no tráfego, acidentes, interdições, entre outras informações úteis, os painéis têm se limitado a transmitir mais do mesmo.

Restringem-se a advertir sobre a necessidade de se manter distância do veículo à frente, a importância do cinto de segurança, o respeito à sinalização... Enfim, um apanhado de mensagens que, cá entre nós, não precisariam daquele trambolho, que certamente não custou pouco e estão a poluir a paisagem urbana, para serem veiculadas.

A parafernalha eletrônica deve ser mesmo aproveitada, mas para fornecer orientações factuais.
E ao indicar onde há congestionamentos, eventuais desvios, entre outros acontecimentos, os painéis servem não só para motoristas. Pedestres usuários do transporte público, informados pelos equipamentos sobre os gargalos momentâneos no trânsito, podem escolher qual a melhor linha de ônibus para embarcar.

domingo, 17 de março de 2013

O desperdício dos televisores nos ônibus de Curitiba

Ferramenta poderia ser bem mais útil (foto: Prefeitura)
De Curitiba

Gostaria de saber qual a utilidade pública de os expressos biarticulados de Curitiba carregarem televisores que noticiam as últimas do Big Brother Brasil, a repercussão de uma entrevista de não sei quem ou o mais recente espirro da rainha da Inglaterra, entre outros espetaculares acontecimentos com "personalidades".

Por que não aproveitar esses aparelhos para informar a agenda cultural da cidade, o horário de funcionamento dos museus, bibliotecas e postos de saúde, fornecer dicas de alimentação ou prevenção de doenças, ou contar curiosidades da história da cidade, do estado, do país?

Em dezembro, quando anunciou a instalação dos aparelhos de televisão no ônibus, a Prefeitura de Curitiba explicou que 15% da programação seria destinada a informações prestadas pela própria administração municipal; 15% abastecida pela Urbs, empresa estatal que gerencia o transporte coletivo na cidade; 40% por  notícias do portal Uol e 30% por propaganda. Nessa fatia de 40% de notícias do Uol é que estão as bobagens. Com exceção de uma e outra, as chamadas são descartáveis na hora.

Olha que não é nada contra futilidades, mas que estas fiquem no espaço privado - aliás, bastante amplo e farto. No transporte público, que por sinal custa muito, a prioridade deve ser a informação de interesse coletivo, a qual agregue conhecimento útil ao cidadão, não acha?

sábado, 16 de março de 2013

Fórmula 1: acelera, Williams. Acelera, Venezuela

Equipe britância tem gasolina e piloto venezuelanos (foto: divulgação)
De Curitiba

A temporada 2013 de Fórmula 1 começa nesta final de semana com o Grande Prêmio da Austrália e, pela primeira vez em 35 anos, terá apenas um piloto brasileiro.

Um piloto, porém, pouco competitivo - não por lhe faltar talento e competência, sim porque é contratado para ser o coadjuvante. Felipe Massa está a serviço primeiro de Fernando Alonso e da Ferrari; se sobrar, aí sim, pode ir atrás do seu quinhão.

Dessa forma, e mais do que nunca a torcida aqui será pela Williams. Na verdade, é assim há muito tempo - desde criança, quando comecei a acompanhar a modalidade.

Nélson Piquet, Ayrton Senna, Rubens Barrichello e, ano passado, Bruno Senna são os brasileiros que já disputaram campeonato com um Williams. A Petrobrás, por dez anos (1998 a 2008), forneceu combustível à equipe.

Hoje a Williams segue como o mais latino-americano dos times. O venezuelano Pastor Maldonado é seu piloto principal e a estatal de petróleo da Venezuela, a PDVSA, abastece os carros com gasolina e com patrocínio financeiro.

Ano passado, com Pastor Maldonado a Williams conseguiu a primeira vitória desde 2004, quando outro latino-americano - o colombiano Juan Pablo Montoya - levara o time ao topo do pódio.

Pelo feito, inédito para a Venezuela na Fórmula 1, Pastor Maldonado recebeu de Hugo Chávez, via twitter, os cumprimentos. A cada final de semana de corrida, era frequente Chávez expressar, pela rede social, sua torcida pelo compatriota.

O torcedor mais ilustre partiu deste plano. Mas a Williams de Pastor Maldonado será empurrada, além de pelo combustível da PDVSA, por uma nação - a venezuelana - cada vez mais forte e ciente de sua soberania.

Pa'lante, Pastor Maldonado!

quinta-feira, 14 de março de 2013

Quando Chávez esteve em Curitiba - Parte III (Final)

Abraço em 20 de abril de 2006 (foto: Secs/PR)
 
A terceira e última etapa da série retrospectiva da visita de Hugo Chávez a Curitiba resgata o post publicado na antiga versão deste blog, em 22 de abril de 2006, sobre o carinho ao comandante demonstrado pela cantora Beth Carvalho. A sambista participou do ato promovido pelos movimentos sociais, de boas-vindas ao presidente venezuelano, realizado no Teatro Guaíra, em 20 de abril. Bom, mais detalhes, no texto abaixo reproduzido:

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"A BETH ESTAVA LÁ
 
A agenda oficial dizia que Hugo Chávez desembarcaria em Curitiba às 7h50, iria do Aeroporto Afonso Pena direto para o Palácio Iguaçu, onde tomaria café da manhã com o governador Roberto Requião. Em seguida, assinaria acordos de cooperação técnica mútua, entre o Paraná e a Venezuela, e discursaria a empresários, secretários de Estado, e integrantes das comitivas paranaense e venezuelana. Por volta do meio-dia concederia entrevista coletiva, depois almoçaria com Requião e no máximo às 15 horas voltaria ao aeroporto para subir no Airbus 319 oficial da República Bolivariana da Venezuela e decolar.

Mas, sabendo da passagem histórica de Chávez por Curitiba, o povo não se contentaria em acompanhar à distância.

Assim, movimentos populares - MST, Via Campesina, estudantes - prepararam uma solenidade, um ato, para receber, ouvir, abraçar, ovacionar o líder da revolução que está alterando os rumos não apenas da América Latina, como modificando a ordem geopolítica mundial. Reuniram pelo menos 2 mil pessoas, foram ao Teatro Guaíra, e avisaram: contamos com a vinda do comandante.

Os horários estavam apertados - o avião venezuelano aterrissou quase às 10 horas. Todo o cronagrama atrasou, e muito. No entanto, Hugo Chávez não hesitou. "Se o povo chama, eu vou". Deixou de lado o oficialismo da agenda e, acompanhado de Requião, passava das 12 horas quando saiu do Palácio Iguaçu, após falar por 40 minutos e assinar uma dezena e meia de  convênios e acordos, e rumou para a Praça Santos Andrade.

Ao subir o palco do Guaíra, o público foi ao delírio. Difícil na cinqüentenária história do teatro ter ocorrido tamanha euforia com a presença de um protagonista. Pois dessa forma aconteceu. Bandeiras agitadas, gente de pé, saudações, gritos de "viva Chávez" - viu-se e ouviu-se de tudo na entrada do presidente venezuelano, o astro daquela ocasião.

Estavam todos lá para anunciar, assinar o "Manifesto das Américas em Defesa da Natureza e da Diversidade Biológica e Cultural". Um documento, nas palavras de Hugo Chávez, "maravilloso". Firmes, contundentes posições de movimentos sociais na luta pela soberania das nações latino-americanas. Aliás, da nação latino-americana.
 
A América Latina, frisa o comandante, é uma pátria só. Venezuelanos têm a Venezuela como o coração da pátria; tal como brasileiros têm o Brasil, argentinos a Argentina, mexicanos o México, nicaraguenses a Nicarágua, cubanos, Cuba. Todavia, ela - a pátria - é única, "nas densas florestas de cultura, do 'sombrero' ao chimarrão", como bem diz o samba enredo da Vila Isabel, somos todos compatriotas.

Entre os signatários do manifesto (João Pedro Stédile, bispo Dom Ladislau) uma senhora baixinha, de cabelos ruivos, quase vermelhos, leve vestimenta florida no corpo, sorridente, com muito pique e sentimento pelo Brasil e apego as questões nacionais, estava lá para dar sua contribuição. Sambista, compositora, brizolista, Beth Carvalho cantou o belo hino do movimento campesino, leu com o bispo o documento na íntegra, e abraçou fortamente o companheiro. Defendeu o MST, não se conteve em rasgar elogios ao presidente venezuelano.

- O MST é um dos movimentos sociais brasileiros mais importantes, se não o único, e merece todo o respeito. E, um dia, quero ter orgulho e paixão por um presidente brasileiro da mesma forma como tenho orgulho e paixão por Hugo Chávez, esse grande líder latino-americano - declarou Beth Carvalho a jornalistas, logo depois que o evento se encerrou.
 
(Neste link, o post na versão original)

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Confira os dois outros posts desta retrospectiva:

  • AS OITO HORAS - aqui, a reprodução do texto original. E aqui, o post na versão antiga do blog
  • COM OS COMPANHEIROS - aqui, a reprodução do texto original. E aqui, o post na versão antiga do blog

quarta-feira, 13 de março de 2013

Quando Chávez esteve em Curitiba - Parte II

Ao lado de Requião e Beth Carvalho, Chávez saúda o Guaíra lotado (foto: Secs/PR)

Dando sequência à retrospectiva sobre a visita de Hugo Chávez a Curitiba, em 20 de abril de 2006, republico este post de 22 de abril daquele ano, da versão antiga do Macuco Blog. Este texto lembra a calorosa recepção promovida pelos movimentos sociais ao comandante, em ato realizado num Teatro Guaíra tomado pelo povo. Em seu discurso, Chávez entoa versos do samba-enredo "Soy loco por ti, América", da Vila Isabel, campeã daquele carnaval num desfile patrocinado pela estatal de petróleo venezuelana, a PDVSA, e que falou do processo de integração em curso no continente.

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"COM OS COMPANHEIROS

Nas oitos horas em que permaneceu na capital paranaense, entre encontro com empresários, com as comitivas dos governos do Paraná e da Venezuela e com jornalistas na coletiva de imprensa, nitidamente o instante em que Hugo Chávez se sentiu mais em casa foi no Teatro Guaíra, onde quase 2 mil integrantes do MST e Via Campesina aguardavam o presidente venezuelano. Foi lá, na solenidade de assinatura do "Manifesto das Américas em Defesa da Natureza e da Diversidade Biológica e Cultural", já bem depois do meio-dia, que Chávez mais sorriu, acenou, abraçou, cantou, aplaudiu, convocou, falou. Estava, afinal, frente a frente com seus companheiros mais próximos.

Em praticamente uma hora de discurso - das 13h31 às 14h28 -, o líder da Venezuela citou trecho do samba enredo da Vila Isabel ("Soy loco por ti, América"), perguntou se Beth Carvalho não tinha a letra de memória, expôs as mazelas do capitalismo, frisou que o socialismo é a saída para o fim das desigualdades e da submissão ao imperialismo dos Estados Unidos, exaltou a postura dos jovens, e convidou todos a participar da revolução em marcha que está transformando as nações latino-americanas em soberanas.

- 'Soy loco por ti, América'. Es una locura maravillosa (...) Fue linda Vila Isabel, con la figura de Bolívar (...) Devemos recuperar nuestra conciencia, del conocimiento de que somos (...) Es siglo XX fue terrible. Si queremos que el mundo acabe, seguimos con el capitalismo. Si no cambiamos, no habrá vida en futuro (...) El camino de socialismo es lo único que nos liberta (...) Tenemos que luchar. Si no acabamos con el Império, el acaba con nosotros. No estoy pregando la confrontación bélica, pero una batalla de la ideas (...) Es tiempo de hacer. No podemos perder tiempo.
Pouco antes de terminar o discurso, Chávez chamou a atenção ao declarar explicitamente apoio à reeleição do Lula. O presidente Venezuela, dirigindo-se ao líder do MST, João Pedro Stédile, e a integrantes do movimento que estampavam faixa criticando a política econômica do governo federal, alertou: se Lula não continuar no comando do país, a direita volta com força. E o retorno da direita, salientou Chávez, é o redirecionamento do Brasil às mãos do capital especulativo internacional, do neoliberalismo, à dominação do "império".

- Hoy, Lula es el hombre para Brasil. Brasil tiene una importancia muy grande en la geopolítica y geoeconomia de Latino América, y Lula es un compañero en nuestra batalla contra el imperio, por nuestra soberania."

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Amanhã, no encerramento desta série, a participação de Beth Carvalho na agenda da visita de Hugo Chávez à capital paranaense.

Ontem, o texto sobre os acordos de cooperação firmados, por Chávez, entre a Venezuela e o Paraná (acesse aqui).


terça-feira, 12 de março de 2013

Quando Chávez esteve em Curitiba - Parte I

Visita do comandante foi em 20 de abril de 2006 (foto: Secs/PR)

Como antecipado ontem, a partir desta terça, e até quinta-feira, reproduzo aqui os textos que publiquei na versão antiga do Macuco Blog, em 22 de abril de 2006, dois dias depois da visita de Hugo Chávez a Curitiba. Nessa primeira parte, um resumo das oitos horas em que o bolivariano esteve na capital do Paraná. 

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"AS OITO HORAS

A visita de Hugo Chávez a Curitiba, na última quinta-feira, dia 20 de abril [de 2006], resultou em 15 convênios intergovernamentais, sem contar os quase US$ 440 milhões em negócios fechados entre empresários paranaenses e venezuelanos.

Entretanto, a passagem do presidente da Venezuela pelo Paraná traz como saldo muito mais que acordos de cooperação técnica na área econômica, ambiental, educacional, tecnológica, entre outras, ou dividendos medidos em cifras. As oito horas em que Chávez circulou pela capital mais fria do país deixaram marcas na história, e foram carregadas de simbolismos.

Chávez é o ícone da esquerda latino-americana do século XXI, dividindo o posto antes exclusivo de Fidel Castro. Depois da queda do Muro de Berlim, Chávez é o primeiro e por enquanto único líder mundial de expressão a levantar e fincar a bandeira de um novo socialismo, "um socialismo fresco, renovado", como ele mesmo define.

Chávez é a referência política, que extrapola as fronteiras da América Latina, daqueles que se opõem à postura imperialista, ditatorial, intervencionista e bélica dos Estados Unidos de George Bush. E Chávez bota medo, muito medo, pavor no "senhor da guerra". Que esperneia, ameaça, patrocina golpes da elite venezuelana, planeja acabar com a vida do presidente - nada mais que ameaça, no entanto, afinal Bush não é bobo, teme brincar com fogo, cutucar a onça com vara, curta ou longa.

Chávez, embora duramente demonizado pela grande mídia, dia-a-dia conquista novos simpatizantes, agrega novos companheiros revolucionários. Não só pelo discurso afiado e afinado, pela oratória fascinante, pelo dom de prender a atenção. Chávez e sua revolução bolivariana atraem novos adeptos porque o planeta sucumbe às mazelas do capitalismo, e o presidente venezuelano propõe - e aplica - alternativas concretas.

A revolução bolivariana deu ao povo venezuelano a riqueza da nação - o petróleo, até então nas mãos das multinacionais norte-americanas (entende a ira dos EUA e da grande mídia?) foi estatizado -; acabou com o analfabetismo; implementou a reforma agrária; faz gerar riqueza e renda, bem distribuídas, com investimentos na agricultura familiar, na pesca, nas micros e pequenas empresas. Trouxe de Cuba os sistemas de saúde e educação reconhecidos internacionalmente pela eficiência e eficácia.

Há três anos consecutivos, a Venezuela é o país da América Latina com maior crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), superior a 10% anuais, quase quatro vezes mais que a média brasileira.

É este Hugo Chávez, pois, que esteve em Curitiba para consolidar os ideais de soberania, independência, integração latino-americanas, que encontram eco na gestão de Roberto Requião. A visita dele demonstra o prestígio do governador na execução desses ideais, demonstração essa evidenciada no forte abraço trocado por ambos logo que Chávez desceu as escadas do avião oficial que transportou o presidente do Paraguai ao Paraná. Eram exatas 9h55 do dia 20, quando o venezuelano saiu do Airbus 319, pisou a pista do Afonso Pena e, ao ver esticado o braço direito de Requião, apertaram-se as mãos e consolidaram o dito abraço.

- La aproximación de Paraná con Venezuela es el camino de la integración que se construye, no solamente una integración económica, pero sí una integración de cuestiones sociales, fundamentada en solidariedad, fraternidad, enfim, un nuevo modelo de integración latinoamericana - disse Chávez a jornalistas, ainda no aeroporto, minutos depois de pousar em Curitiba, sempre ao lado de Requião.

Chávez, repete-se, firmou acordos, convênios, parcerias. Foi-se às 18h30, quando subiu ao avião oficial, com destino a Brasília, onde se encontraria com Lula. Nesse ínterim, adubou no Paraná os ideais e as ações que se contrapõem à teoria dominante de dependência do capital especulativo internacional, e erguem uma nação, não um mercado de joelhos perante os interesses estrangeiros, e de costas para o povo.

- El mundo está en peligro. Yo y Roberto [Requião] pensamos igual, tenemos una visión nacional, pero somos subyugados de sectários. Es la estratégia de império, que infiltra en las fuerzas armadas, compra periódicos, televisoras, tiene un plan mudial de dominación. Debemos tener nuestra estratégia, recuperar nuestra conciencia, nuestro conocimiento de nación. Eso está en marcha en Sudamérica, Centroamérica. Invito a tenermos el coraje, y hacer la construcción de la Alba, la Alternativa Bolivariana para las Américas.

Chávez, aceptamos la invitación. Vuelva siempre!"

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Amanhã, o post que relembra a participação de Chávez no Manifesto das Américas em Defesa da Natureza, que reuniu mais de 2 mil sem-terra e campesinos, no Teatro Guaíra.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Quando Chávez esteve em Curitiba

Chávez e Requião, no aeroporto Afonso Pena, em 2006 (foto: SECS/PR)
De Curitiba

Pessoal, a partir de amanhã, terça, dia 12, quando se completa uma semana da partida do comandante Hugo Chávez, o Macuco vai resgatar aqui, em três capítulos, posts publicados em 2006, ainda na versão antiga do blog, sobre a visita do presidente da Venezuela a Curitiba.

Chávez esteve na capital do Paraná em 20 de abril de 2006 e, na época trabalhando na assessoria de imprensa do Governo do Estado, cobri para a Agência Estadual de Notícias a agenda conjunta do bolivariano com o então governador Roberto Requião.
 
Infelizmente, o atual governo retirou do ar todo o arquivo de notícias da gestão anterior, então, bem que queria, mas não tenho como linkar o material produzido e veiculado pela Agência sobre a visita - histórica, que selou uma integração econômica, cultural e educacional entre o Paraná e a Venezuela.

Àquela época, contudo, eu já mantinha o blog e dias depois postara as principais impressões, registros da visita. Entre as passagens, o instante em que Chávez, com Beth Carvalho (num evento com movimentos sociais no Teatro Guaíra), arrisca entoar o samba-enredo "Soy loco por ti, América", da Vila Isabel, campeã daquele ano com um desfile patrocinado pela PDVSA, a estatal venezuelana de petróleo.
 
Até amanhã!

quarta-feira, 6 de março de 2013

A notícia da partida de Chávez

De Curitiba

Passava um e outro minuto das 19 horas deste 5 de março quando entrei em sala de aula e saudei os alunos com um "buenas noches".

E em pensamento, continuei: "viva la revolución".

No exato instante, chegava mensagem no celular.

Só pude conferir minutos, quase uma hora depois, era o aviso da Mariana Gotardo: Hugo Chávez partira.

Outra mensagem estava na caixa de entrada, do Rodrigo Gava: "viva la revolución bolivariana".

No twitter, a confirmação oficial da notícia, as homenagens, a repercussão, a tentativa de conforto. "#ChávezVive", "morre o homem, mas não seus ideais", "Chávez é cada um dos venezuelanos na rua", expressavam, em síntese, os dizeres que tentavam amenizar o vazio e a dor da perda.

Evidente que a luta continua. Ou, como disse o professor Zeno Crocetti, a missão de Chávez não está completa, e com a sua partida mais do que nunca nos cabe dar sequência.

Mas que é difícil o consolo, é difícil.

Hugo Rafael Chávez Frías era - é, Chávez vive - a maior liderança a exercer uma função de comando, o grande comandante daqueles que pensam, buscam, querem, trabalham por uma sociedade mais justa, capaz de oferecer oportunidades - a mesma oportunidade, a todos. Daqueles que caminham por uma América Latina nuestra, soberana.

Dar-se conta da partida de Chávez, dar-se conta que essa referência, neste plano, neste mundo, aqui não estará mais, foi, é um baque. Sim, suas ideias frutificam, seu legado nos aponta o norte. Mas faz, fará falta sua palavra, suas decisões diante os desafios. Sua figura, faz, fará falta.

O argentino radicado na Venezuela Gustavo Dal Bo, dono do hostel onde me hospedei quando estive em Caracas em janeiro último, disse que o país está banhado por dois Rios Orinocos. Um, o caudaloso que conhecemos, de quase 3 mil quilômetros de extensão a cortar o território. O outro, o Orinoco de lágrimas, de tristeza e saudade, dos venezuelanos.

Lágrimas como as da estudante venezuelana Maria Alejandra Sanchéz, quem conheci nos dias em que estive em Caracas. "Chorei", contou ela pelo twitter, "chorei como não imaginas. Porém força, amor, paz, respeito, solidariedade e socialismo para seguir na batalha".

Pa'ĺante, pois. Viviremos y venceremos!

Postado por @waasantista

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