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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Do Rio, uma boa solução pra quem anda de ônibus

 Faixas exclusivas e pontos bem sinalizados melhoraram o transporte no Rio (foto: Prefeitura)

De Curitiba

Um dos piores serviços públicos do Rio de Janeiro é o sistema de ônibus - indigno para uma cidade que é, no país, o principal destino de turistas brasileiros e estrangeiros. Mas, de um ano e pouco pra cá, melhorou substancialmente com a reorganização providenciada pela prefeitura.

Uma reestruturação que, aliás, serve de exemplo para outras administrações municipais, porque foi feita dentro de limitações físicas (vias extremamente adensadas e não muito largas) e quebrando alguns paradigmas, enfrentando hábitos nada fáceis de serem modificados - problemas comuns aos de muitas outras cidades.

A reformulação incluiu da padronização visual da frota até a implantação de faixas exclusivas nas entupidas ruas e avenidas da Zona Sul e do Centro, o chamado BRS (Bus Rapid System). Está nesses corredores a principal solução do projeto.

Para implantar os corredores não foram necessárias grandes obras. Apenas divisão, com pintura em solo, das pistas em duas faixas: à direita, para os ônibus, e as duas mais à esquerda para os demais veículos. Os corredores funcionam das 6 às 21 horas nos dias úteis e até às 14 horas no sábado. Nesse período, o estacionamento de qualquer veículo é proibido. Tudo devidamente sinalizado com placas.

As linhas de ônibus foram divididas em três ou quatro grupos (dependendo da via), denominados BRS 1, BRS 2, BRS 3 e BRS 4. Os pontos foram escalonados - em cada um deles só param os ônibus do seu respectivo grupo. Todas as paradas contam com abrigo e paineis que indicam quais linhas param ali e onde está o ponto mais próximo para se apanhar as outras. Nos coletivos, o itinerário eletrônico informa a qual grupo pertence aquela linha.

Claro, no começo houve chiadeira. Os donos dos estabelecimentos comerciais e de serviços e os motoristas de automóveis reclamaram da proibição de estacionamento. Alguns usuários, da necessidade de tomar ônibus em ponto diferente daquele de anos. Com a melhoria na qualidade do serviço, porém, as dúvidas e as críticas foram superadas.

Ainda não é as mil maravilhas. Os ônibus são desconfortáveis, conduzidos por motoristas que fazem manobras arriscadas e param longe da calçada; há sobreposição de linhas para algumas regiões e escassez para outras... Inegável, todavia, o avanço.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Desfile das campeãs: a festa e a aula do carnaval

Detalhe de alegoria da Beija-Flor: a escravidão em São Luiz do Maranhão (foto: Riotur)

De Curitiba

Acabou o carnaval, o ano começa, diz o lugar o comum.

Se isso é fato, sem problema algum.

Porque a alegria dos dias de folia é o combustível pra se encarar as lutas do dia-a-dia. As batalhas pessoais e as coletivas.

E tem mais: se o ano se inicia com o fim do carnaval, só vai acabar quando o próximo chegar. Portanto, teremos os mesmos 365 - ou 366 - dias. O que muda é o mês que abre e o que termina a folhinha.

Né?

Então, deixa o povo curtir. Com moderação e responsabilidade, claro, mas deixa a galera se divertir. 

Se bem que este papo está atrasado. Quem tinha que curtir, curtiu – afinal, voltando ao começo da conversa, o carnaval se foi.

Pra despedida, aqui no Macuco já é tradição acompanhar in loco o desfile das seis primeiras colocadas escolas de samba do Rio de Janeiro.

O “Sábado das Campeãs”. Este de 2012 foi o sétimo, consecutivo.

É, aliás, sobre a apoteose, o lide - que só agora surge neste texto - desta conversa.

Ei-lo, pois.

O Sábado das Campeãs confirmou: desde 2006, este foi o carnaval que reuniu as melhores apresentações das escolas de samba, no Rio. Nem tanto pelo luxo, sim pela qualidade da quase totalidade dos enredos e dos sambas, verdadeiras aulas de história, geografia e artes em forma de festa, transmitidas com criatividade - e competência.

Vila Isabel e Portela deram lição de música com letra e melodia de um samba envolvente. Contagiante pelo ritmo – o da Isabel, temperado com kuduro; o da Portela, com batuques do candomblé – e pela riqueza da letra. Contadores, os sambas, de enredos consistentes – a escola de Noel, sobre a nossa descendência de Angola; a de Paulinho da Viola, com Clara Nunes e os rituais baianos.

O Salgueiro nos falou de literatura, a de cordel, manifestação dessa gente porreta do Nordeste. De lá veio também o Rei do Sertão Luiz Gonzaga da Unidos da Tijuca. Ainda lá de cima, a história de São Luiz do Maranhão - e uma homenagem a um dos seus filhos, Joãosinho Trinta - cantada pelo inigualável Neguinho da Beija-Flor. E mesmo a Grande Rio, que transformou um tema banalizado pela autoajuda, a superação, numa demostração de como somos capazes de superar os obstáculos ou, no caso dos intransponíveis, de saber lidar com eles...

Darcy Ribeiro tinha razão: ô, povo brasileiro!

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Entre a Pioneira e a Campeoníssima

Amazonense também se credencia ao título (foto: @sambasantos)

De Santos

Dá pra cravar: o título do carnaval de Santos vai ficar ou com a X-9 ou com a Brasil.

Mais ainda, dá pra arriscar: deve mesmo é ficar com A Pioneira.

Foi a impressão de muita gente que estava na Dráusio da Cruz, quando terminou o desfile da escola do Macuco, já madrugada desta terça-feira. "Acabou de passar a campeã", sentenciou uma foliã.

Não vai ser assim tão simples porque a Brasil, retornando neste ano ao grupo principal, abriu a segunda noite de desfiles com uma exibição digna da sua alcunha de Campeoníssima.

Na primeira noite, também havia arrancado elogios a Amazonense.

Faltou-lhes, à Brasil e à Amazonense, porém, um pouco da imponência com que veio a X-9.

E, depois da X-9, entrou a Bandeirantes do Saboó para encerrar as apresentações de 2012. Aguerrida, caprichada, com bom samba, mas ainda não o suficiente para faturar o título.

Antes, a União Imperial, cotada para brigar pela primeira posição, enfrentou uma série de problemas - entre os quais o infarto em plena avenida do presidente da Liga e diretor da verde-e-rosa do Marapé, Heldir Lopes Penha, o Aldinho. (Felizmente, o pior já passou; segundo informações da imprensa local, Aldinho se recupera bem, e certamente virá, junto com a União, com tudo em 2013)

Bom, mas estas conjecturas logo poderão ser confirmadas ou descartadas: as notas dos jurados vêm à tona nesta Quarta de Cinzas. A apuração começa às 12 horas e, daqui a menos 24 horas, saberemos quem terá razões para sorrir, chorar, comemorar ou lamentar.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Desfiles das escolas, a apoteose do samba de carnaval

São 15 agremiações: cinco no grupo de acesso e dez no principal (foto: Anderson Bianchi/PMS

De Santos

Logo mais, à noite, assisto in loco à primeira noite dos desfiles das dez escolas de samba do grupo especial de Santos – as cinco do grupo de acesso se apresentaram neste sábado.

Pelo que se pôde acompanhar nos últimos meses, pelos enredos e pelos sambas escolhidos por elas e, ainda, pelo desempenho de cada uma nos carnavais recentes, é bem provável que o equilíbrio prevaleça entre as agremiações.

Difícil apontar as favoritas a faturar e as prováveis rebaixadas.

Em samba, destaque pro da Mocidade Dependente - já abordado aqui em outra oportunidade -, pro da X-9 e pro da Real Mocidade Santista.

(Excelente é também o da Vila Mathias, no grupo de acesso)

É, o samba, ingrediente fundamental, mas não o único importante.

O enredo conta muito, e o desenvolvimento dele na avenida depende demais da expertise da agremiação, da cancha, da tradição, do tamanho da escola. De modo que não dá pra descartar a União Imperial, que vai falar sobre a presença portuguesa em Santos, e a Amazonense, a tratar das lendas e brincadeiras de crianças.

Unidos dos Morros e Império da Vila, se escolheram enredos discutíveis (a primeira, sobre a vida de um político pai de um pré-candidato a prefeito; a segunda, sobre o principal grupo de comunicação da região), desde 2006 vêm crescendo, chegando entre as primeiras, e salvo imprevisto devem se apresentar bem.

Da Sangue Jovem - que, como não poderia deixar de ser, vai falar sobre o centenário do Peixe - e da Bandeirantes do Saboó, pode se esperar um desfile aguerrido e empolgante.

Grande expectativa guarda-se da Brasil, das mais antigas do estado de São Paulo, campeoníssima do carnaval santista nos anos 60 e que, ano passado, desfilou no grupo de acesso, retornando ao principal agora em 2012. Diz-se que vem “mordida”.

Mas se o jogo é jogado e o lambari é pescado, o desfile é desfilado. Esperemos a sirene tocar.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Apesar de tudo, boa viagem!

Linha Santos-Rio é monopólio do grupo da Util (foto: reprodução TV Tribuna)

De Curitiba

Você certamente é um dos 66,7 milhões de passageiros que, por ano, fazem alguma viagem de um estado para o outro utilizando ônibus - em épocas como agora, Carnaval, ou em qualquer outro feriadão, final de semana, durante as férias, pra participar de algum evento...

Sem dúvida, também, depara-se com um, ou com todos eles, ou com boa parte deles, dos problemas desta lista: linhas pinga-pinga, atrasos, tarifas caras, uma empresa só fazendo o trajeto, ônibus nem sempre novos, quase nunca confortáveis, paradas que cobram um absurdo por um pão-de-queijo...

Seus problemas não acabaram, nem vão acabar, ao menos para este e os próximos dias de folga no ano.

Podem, quem sabe, ser minimizados. Pelo menos é o que promete a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e seu ProPass Brasil, programa que consiste na instituição de um novo marco regulatório para o serviço de transporte rodoviário interestadual de passageiros.

As linhas de ônibus entre as unidades da federação serão licitadas, o que nunca antes na história deste país ocorreu.

A se basear, porém, pelas informações que a ANTT tem divulgado, pouco além disso é o mérito do programa: licitar a prestação de um serviço público, como manda a nossa Constituição.

Porque o novo modelo, ao que parece, não vai desatar o principal nó do setor: o oligopólio (sempre ele!), origem dos outros problemas (falta de opções de horários e tarifas, o mais recorrente).

Pelo contrário. A própria ANTT admite, conforme declarações de uma de suas administradoras, Sônia Haddad, publicadas no site da agência reguladora, que o número de empresas atuando vai diminuir. E muito. Das mais de 200 para pouco mais de 100.

A concentração das linhas nas mãos de poderosas companhias, pois, tende a se acentuar.

Uma associação que representa as viações, a Abrati, chama o certame de “licitação das grandes empresas”, porque as exigências operacionais e a distribuição dos lotes inviabilizam a participação de grupos menores.

A se basear, ainda, pela biografia do diretor da ANTT, Bernardo Figueiredo, recentemente exposta pelo senador Requião, difícil crer que a agência vai priorizar a defesa dos usuários aos interesses das grandes corporações.

De qualquer forma, como cidadãos, nos cabe acompanhar - e reclamar, sugerir; o ProPass Brasil está na fase de audiências públicas, de coleta de contribuições para aprimoramento da proposta.


Por ora, boa viagem!

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Das cinzas do Ouro Verde

O teatro é a síntese da imponência de Londrina

De Curitiba

A primeira vez que pisei solo paranaense foi a terra vermelha de Londrina, isso há praticamente 12 anos, março de 2000. Recém-formado em Jornalismo pela UniSantos, àquela altura buscava o interior do país pra começar a carreira.

Calhou de eu vir parar na capital, mas ficou um carinho muito grande por Londrina. De lá pra cá, a trabalho, pude voltar várias vezes à cidade.

Por essa ligação é que me entristeceu a notícia do incêndio do Teatro Ouro Verde, neste domingo. Entrei lá duas ou três vezes e é impressionante como o Ouro Verde sintetiza a história, a força e a importância de Londrina.

Como disse o deputado Cheida no Twitter, que ao menos o incidente possa unir o povo londrinense. (Re)Unirá sim. Recuperar esse patrimônio vai reaproximar os londrinenses de sua história, fazer despertar a cidade.

Claro, não que Londrina merecesse pagar esse preço, tampouco que o Ouro Verde devesse ser sacrificado. Todavia, das cinzas desse fogo pode, sim, começar a reconstrução - e esta, a reconstrução, Londrina merece.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Mais uma da Supervia. Mais uma da privataria

São 14 incidentes graves em menos de três anos, aponta o Jornal do Brasil (foto: www.jb.com.br)

De Curitiba

Entro no restaurante para o almoço e me deparo com o telejornal, na tevê ligada e pendurada no alto do salão, noticiando mais um dia de caos no transporte ferroviário urbano do Rio de Janeiro.

De perturbar o apetite.

Não é possível, o Governo do Estado do Rio de Janeiro ainda não escurraçou essa Supervia?

De acordo com levantamento do Jornal do Brasil, desde 2009, quando do episódio dos seguranças da empresa chicoteando passageiros (relembre aqui), são pelo menos 14 incidentes - inaceitáveis para uma concessionária de serviço público (muito bem remunerado, por sinal) - registrados.

Por que o Executivo, o Legislativo, o Judiciário, o Ministério Público são tão devagar com essa porcaria?

Quem são os donos da Supervia?

O transporte metroferroviário fluminense foi privatizado nos anos 90 pela dobradinha tucana Fernando Henrique Cardoso (presidente da República) e Marcelo Alencar (governador do Estado).

Privatizado e piorado.

Os sistemas de trens das estatais - ESTATAIS! - CPTM, na Grande São Paulo, CBTU, na Grande Recife, e Trensurb (Grande Porto Alegre), em que pesem as falhas, são incomparavelmente melhores, mais eficientes que a tranqueira da Supervia.

Aliás, é só mais um exemplo do desastre que é a iniciativa privada no comando de serviços públicos. Certamente você aí tem problemas com a Oi, com a Tim, com a Telefónica, com a Vivo, com a CPFL, com a Light - e se sente impotente porque, com quem reclamar até tem, só não tem é perspectiva de ver o problema solucionado, e o serviço, melhorado.

No entanto, apesar desses 15 anos de experiência de privataria, acabamos de entregar as chaves dos dos nossos principais aeroportos (portões de entrada e saída do nosso país) - e de mais outros, em breve - à iniciativa privada.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Faltam asas para voar

Vasp e Transbrasil: mais companhias para por fim ao duopólio (foto: Portal Brasil Net/Aviação) 

De Curitiba

Quando se fala na infraestrutura necessária para o Brasil receber a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas em 2016, enfatiza-se a preocupação com a capacidade dos nossos aeroportos, da nossa rede hoteleira, dos sistemas metropolitanos de transportes públicos.

Legítima preocupação, claro.

Especificamente no que se refere ao transporte aéreo há, porém, um ponto pouco abordado, mas tão problemático quanto as condições dos nossos terminais.

É o oligopólio, quase um duopólio, controlando as linhas aéreas que unem o país de norte a sul, de leste a oeste.

Estamos - a continuar assim, estaremos - reféns dos interessantes de apenas dois grandes grupos, o da Tam e o da Gol que, segundo informações regularmente veiculadas pela imprensa, dominam mais de três quartos do mercado.

É inadmissível que num de país das dimensões territoriais como o Brasil, onde cada vez mais mais pessoas utilizam o avião como meio de locomoção, o modal aeroviário ofereça ao público praticamente só duas opções de companhias para se viajar.

Ficamos a mercê das tarifas e das rotas - muitas vezes irracionais, como um "Inter 2 (o pessoal de Curitiba vai entender) de asas" - da Tam e da Gol. Sim, existe a Azul, a Trip, a Avianca, todavia restritas às principais ligações. Pra grande maioria das viagens, não tem muito como escapar da dupla Tam-Gol.
 
Tivéssemos um Estado mais presente, e essa farra acabaria, vetando-se fusões, abrindo-se licitações pra mais empresas privadas, propiciando-se a recuperação daquelas atualmente paralisadas, e até mesmo criando-se uma companhia pública.