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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Espalhando "Luiz Poeta"

Biografia do trabalhador rural é contada em filme (foto: divulgação)
De Curitiba

Tuitei ontem, e hoje posto aqui, porque merece ser compartilhado, replicado, disparado, espalhado...

Aproveitemos as tecnologias da informação nas nossas mãos para romper com o gargalo - resultado do oligopólio, e multinacional - que é a distribuição da produção audiovisual no Brasil.

Funil que emperra, principalmente, a transmissão de obras que fujam à linguagem e à temática recorrentes no circuito comercial, mercadológico. Que entope, sobretudo, o canal para escoar a produção independente nacional.

Não é trololó ideológico não, os dados oficiais, da Ancine, estão aí para sustentar essa constatação.

Mas nem vou trazer tais dados aqui e agora, primeiro porque a simples observação do cenário já permite a conclusão a que nos referimos - de modo que a exposição de estatísticas neste momento é dispensável. Além do que, e justamente porque nem se faz necessário o apanhado de indicadores para chegar à mencionada avaliação, estou com preguiça danada de lidar com números a esta hora da noite, final de uma puxada quarta-feira.

Ops, o papo não é esse, porém; o objetivo é reforçar a divulgação do curta metragem "Luiz Poeta", um documentário que mostra um pouco deste genial brasileiro mais que centenário: trabalhador rural, nascido em 1908, militante do Movimento dos Sem-Terra e, como a alcunha indica, poeta.

O curta metragem tem qualidade técnico-estética (fotografia, roteiro, edição) e, mais do que isso, cumpre uma função social exemplar. Não à toa tem sido premiado - não com Oscar, claro, que a tal academia não é dada a esse tipo de trabalho. Todavia em festivais outros, "Luiz Poeta" tem chamado a atenção sim.

Confira, clicando aqui, mais informações sobre o filme e, claro, assista à obra também. É curta, pois. 13 minutos.

E espalhe, replique, dispare, compartilhe...

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O índio vira doutor. Por causa das cotas

Josenildo, diplomado, volta à aldeia para exercer a Medicina (foto: UnB)
De Curitiba

Escutei n' A Voz do Brasil desta segunda-feira, dia 25, fui pesquisar sobre e encontrei mais informações na Agência de Notícias da Universidade de Brasília (UnB).

Este cidadão acima é Josinaldo Silva, da aldeia Atikum, de Salgueiro, no sertão de Pernambuco, e acaba de se tornar, aos 35 anos de idade, o primeiro índio brasileiro a obter o diploma de graduado em Medicina.

Pois é, já por estas terras muito antes de os europeus por aqui atracarem, só na segunda década do século XXI é que a população indígena do Brasil conseguiu formar um doutor.

E isso graças ao sistema de cotas implantado pela UnB há dez anos e, desde o ano passado, regulamentado em lei federal aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pela presidenta Dilma Roussef.

Josinaldo Silva entrou na faculdade pelas cotas e sai pela sua competência, dedicação aos estudos.

Quem sabe diante de exemplos assim fique mais fácil aos resistentes entenderem a importância das cotas. Índios e negros, e pobres, e índios e negros pobres, desde-sempre foram sacrificados com as cotas às avessas. Garantir-lhes reserva de vagas no ensino superior é uma reparação a essa injustiça histórica. Sabemos que não foi você quem sustentou a dizimação dos nossos índios, também que você nem era nascido na época da escravidão. Mas, repare: você usufrui uma sociedade constituída a partir, inclusive, desses erros. Deve, da mesma forma que se beneficia, dar sua parcela de sacrifício na reparação dessas atrocidades.

Josinaldo vai se especializar em Saúde da Família e pretende atuar em comunidades indígenas. Para saber mais da história dele, confira aqui a matéria d' A Voz do Brasil (cuja veiculação deve, sim, permanecer obrigatória em rede, às 19 horas) e, aqui, a da Agência UnB.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Sobre "O Palhaço" e "O Som ao Redor"

Cena de um dos núcleos da história de "O Som ao Redor"
De Curitiba

Finalmente consegui assistir aos dois filmes brasileiros mais elogiados pela crítica nos últimos meses, "O Palhaço" - sucesso ainda do passado - e "O Som ao Redor", destaque já deste ano.

Não chegam a ser excepcionais, todavia são extraordinários.

"O Palhaço" pela atuação do elenco, pela fotografia e pelo roteiro, que aborda com originalidade um enredo nem tão autêntico assim.

"O Som ao Redor", pelo roteiro (que escapa à estrutura tradicional, a do enredo único, com clímax na metade, ou a de enredos diversos que se cruzam no final) e pela temática, principalmente.

Pelo tema, "O Som ao Redor" até pode ser considerado inovador. Nem tanto porque expõe as bizarrices da classe média brasileira, mas porque aborda o latifúndio urbano, a dominação de territórios não em favelas, pelo tráfico, clandestino, sim em áreas nobres, e pela casa grande "legalizada".

Nesse aspecto, a penúltima cena vai no cerne.

Agora, o ponto alto do filme é a cena da reunião de condomínio.

Alguns detalhes de figurino, cenário e diálogo conseguem expressar, com sutileza e ao mesmo tempo com clareza, o que pensa, como se porta e age a fatia da classe média que come mortadela e arrota presunto.

O síndico que carrega o crachá guardado no bolso mas ligado ao cordão pendurado no pescoço; o morador que se considera um exemplar defensor dos direitos coletivos por ter conseguido, por meio do filho, flagrar as cochiladas do porteiro e assim ter elementos para a demissão por justa causa do funcionário; e, sobretudo, a condômina indignada porque - graças à displicência do mesmo porteiro - "recebe a Veja com o plástico rasgado" são figuras que constituem a representação precisa de um recorte de nossa realidade. Cômica, se não fosse lamentável e desprezível.

Andei lendo que "O Som ao Redor" esbarra no desde-sempre problema da produção audiovisual cinematográfica brasileira, a dificuldade de distribuição e exibição.

Parece que ainda não alcançou nem duas dezenas de salas de exibição no país. Mesmo assim, tem atraído público.

Se estiver em cartaz na sua cidade, ou quando estiver, aproveita, vá ver.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

É pra não se entender

Siglas do Ministério da Saúde. Setor privado segue o mesmo caminho
De Curitiba
Reclama-se muito do gerundismo, dos textos abreviados e cheios de carinhas e bocas da internet, do estrangeirismo, mas o que tem incomodado mesmo é uma mania que se espalha pelas corporações, públicas e privadas: a de se por sigla em tudo.

Nenhum setor, nenhum projeto, nenhum programa, nenhum evento, nem a mais corriqueira das reuniões, nada mais tem nome por extenso, é chamado por uma palavra, uma expressão compreensível. Pra tudo se inventa uma sigla, só reconhecida por quem inventou - e, no máximo, por meia-dúzia ao redor.

É uma praga, que empesteia, como a semente transgênica espalhada pelas transnacionais do agronegócio.

É “depê não sei quê” pra cá, “ceapetê” pra lá, “jotagêagáefe” pra acolá...

Uma sopa de letrinhas em placas, memorandos, e-mails: “CPBZR”, “DGHR”, “SPQWPYZ”...

Por que não chamar o setor de contabilidade de “contabilidade”? O almoxarifado de “almoxarifado”? A reunião semanal de gerentes de “reunião semanal de gerentes”? Não... É “Decontab”, “Sealmox”, “RSG” e pérolas do tipo.

Ah, não tem como deixar de fora - até porque são campeões - os textos acadêmicos. Os artigos, teses, dissertações, que deveriam trazer conhecimento a ser compartilhado, são um emaranhado de siglas por centímetro quadrado. É cada mostrengo, parece que feito para realmente não ser entendido.

Quer saber? VTNC!*

(Em tempo: sigla para “vai tomar no copo”)

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

A surpreendente manchete d' O Dia

 De Curitiba

Precisei me beliscar para acreditar que não era sonho quando, numa banca do Rio do Janeiro, bati o olho na capa da edição do último domingo de O Dia.

“MST tem 15 marcados para morrer”, dizia a manchete. “Longe do enredo poético da campeã Vila Isabel sobre o homem do campo, aumenta a tensão pela disputa pela terra em Campos. Acossadas por pistoleiros, famílias são retiradas às pressas de ocupação em área de antiga usina”, acrescentava a linha fina.

Que jornalão deste país daria destaque a uma notícia dessa? Aliás, que jornalão ao menos daria uma notícia como essa, ainda que escondida numa notinha?

A defesa dos interesses do poder econômico – e isso passa por desconstruir quem minimamente pode mexer com um tiquinho só desses interesses – parece ter se tornado a função primordial dos veículos de comunicação empresariais.

E o MST é o campeão em ser demonizado pela grande mídia, até por isso a surpresa maior com a manchete dada pelo O Dia.

Mas o diário carioca, com essa edição domingueira, mostra que o respeito à realidade factual, para o bem do jornalismo, ainda suspira, encontra eco.

A matéria não é partidária da luta do movimento. Faz apenas o jornal cumprir seu papel, o de informar ao público que militantes de uma causa, legítima e legal, estão sendo ameaçados de morte, num evidente atentado ao direito à liberdade de expressão, à luta, à mobilização social. E ameaçados, assinale-se, pelos desde-sempre poderosos latifundiários.

Evidentemente, saí da banca com um exemplar – era o último, por sinal – debaixo do braço. Ficará guardado. Afinal, é peça rara, coisa de museu.

À repórter que assina a matéria e à coluna do leitor estou a enviar um e-mail parabenizando a redação do jornal por escapulir do discurso único e dominante, o discurso do poder - o qual, como prega a essência do jornalismo, deve ser fiscalizado, questionado.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

As duas notícias da semana

A foto é de quinta-feira, divulgada pelo Governo da Venezuela
De Curitiba

A semana terminou com uma excelente notícia: as fotos da recuperação do presidente da Venezuela, Hugo Chávez.

Semana que havia começado com o extraordinário desfile da Vila Isabel, o qual lhe rendeu o título do carnaval carioca de 2013.

As imagens de Chávez ao lado das filhas expõem ao rídiculo os veículos de comunicação que davam como verdade o que não passava de boato, especulação - ou "torcida", em parte dos casos.

Mas isso é o que menos importa, porque a esse desapego à realidade factual de que fala Mino Carta já estamos vacinados.

O que vale mesmo é saber que o comandante da Revolução Bolivariana está, dentro do possível, bem.

Chávez é torcedor da Vila Isabel, desde que em 2006 a escola do bairro de Noel e Martinho foi campeã com um enredo sobre a América Latina e os ideais de Simón Bolívar.

Quando esteve em Curitiba, em abril daquele ano - portanto, meses depois do carnaval - em evento com movimentos sociais no Teatro Guaíra, Chávez enalteceu a iniciativa da Vila Isabel. Anos depois, em entrevista, salvo engano, ao Kennedy Alencar, no "É Notícia" (Rede TV), chegou a arriscar os primeiros versos do samba.

- Soy loco por ti, América!

Pois o presidente venezuelano e todos os amantes do carnaval foram presenteados com o excepcional desfile da Vila Isabel, conduzido mais uma vez por um primor de samba-de-enredo.

Amanhã, sábado, estaremos no Rio para o desfile das campeãs e conferir, mais uma vez, o espetáculo da Vila.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Festa no Rio, luto em Santos

Samba da Vila Isabel cativou o sambódromo (foto: Ascom /Riotur)
De Santos

Cheguei do Rio de Janeiro há pouco e encontrei Santos triste com a fatalidade ocorrida na madrugada desta terça-feira de Carnaval, a que fecharia a série de três noites de desfiles das escolas de samba da cidade.

As apresentações das escolas - depois da Sangue Jovem, desfilariam Unidos dos Morros, X-9 e União Imperial - bem como os blocos e as matinêns nas tendas da orla da praia foram cancelados. Mas, como disse o presidente da Liga das Escolas de Samba de Santos, Heldir Lopes Penha, o fim antecipado do Carnaval 2013 "é o que menos importa agora". O momento é de solidariedade com as famílias das vítimas. "É muita tristeza", declarou ao jornal A Tribuna.

Estive na Passarela Dráusio da Cruz na noite de sábado para a domingo, quando desfilaram cinco das dez escolas do grupo especial. O sambódromo foi remodelado e suas instalações em boa parte agora são fixas, permanentes. O espaço está mais amplo e com boa infraestrutura.

A área da dispersão, onde ocorreu o problema com o carro alegórico da Sangue Jovem, essa ao que consta não passou por intervenção. Mas os desfiles ocorrem ali há sete carnavais consecutivos e não se tem notícia de nenhum episódio que haja colocado em risco a vida dos foliões. O acidente com a Sangue Jovem, ao que tudo indica, parece ter sido mesmo uma fatalidade.

Sobre a passagem no Rio, fui à Passarela Darcy Ribeiro cobrir a segunda noite dos desfiles. As primeiras impressões andei enviando via twitter, de lá mesmo. Mais, na matéria que sairá no The Brazilian Post

A expectativa, desde já, é de título para a Vila Isabel. A escola de Noel e Martinho veio, pelo segundo ano consecutivo junto com a Portela, com o melhor samba-de-enredo. A apresentação da Portela não vi, mas a da Vila Isabel, foi de campeã.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

No bonde do Carnaval cabem todos

Carnabonde, em Santos, sábado passado (foto: Tadeu Nascimento/PMS)
De Curitiba

O Carnaval serve para todo mundo.

Repare: se alguém no reveillón opta pela reclusão, é motivo de preocupação. Depressão? Dificuldade de socialização? E quem não entra no clima do Natal ou da Páscoa? Pode levar a pecha, por exemplo, de materialista ao extremo.

No Carnaval, não.

Pra quem gosta de festar, é só cair na folia, até agüentar. Pra quem prefere o sossego, é só descansar, sem neuras. Aos aventureiros, é só inventar uma peripécia pra encarar.

Pra quem gosta de samba, os desfiles das escolas estão aí. Pra quem gosta de frevo, os blocos pernambucanos. Pra quem prefere axé, os trios elétricos baianos. Pra quem curte uma praia, as bandas à beira-mar. Aos interioranos, as marchinhas nos centros históricos. E aos que querem colocar em dia a leitura e o cinema, a hora é essa inclusive.

Bom, mas pra quem vai trabalhar, não se aperreie. O seu Carnaval também vai chegar.

Aproveite, ao seu modo, ao seu gosto, à sua preferência, o seu Carnaval!


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

A vez das escolas de samba de Santos

Comissão de frente da Unidos dos Morros, em 2012 (foto: Divulgação PMS)
De Curitiba

Aviso aos navegantes: de agora e pelos próximos dias, a tendência é de que se fale aqui só sobre desfiles de escolas de samba.
O esquenta começou sexta-feira passada, com as impressões sobre os ensaios da Acadêmicos da Realeza. Um pouco antes, no final do ano, as considerações iniciais sobre os sambas do Rio de Janeiro.

A vez agora é do carnaval santista.

Pelo que tenho acompanhado, a festa deverá ser bonita na Passarela Dráusio da Cruz e a disputa, tanto no grupo de acesso como no principal, bastante acirrada.

Pra começar, o sambódromo já contará, este ano, com parte de sua estrutura física definitiva. Durante o ano, abrigará oficinas culturais para os moradores da Zona Noroeste e um memorial do samba; no carnaval, para os desfiles, servirá de camarotes e tribuna para imprensa.

O que virá dos barracões?

As cinco escolas do grupo de acesso, que desfilam na noite de sábado, vêm com enredos e sambas com abordagem bastante originais.

Pela maior tradição, Unidos da Zona Noroeste (falará sobre o povo cigano, num samba muito rico em informação) e Bandeirantes do Saboó (sobre os diferentes preconceitos, inclusive os de classe social) até podem ter ligeiro favoritismo.

Mas o samba da Mocidade Dependente ("Ilê-Ifé, o berço da terra") é extraordinário, talvez o melhor - comparando-se, inclusive, com os sambas das dez agremiações do grupo especial. E a escola do Estuário, novata (completa cinco anos em 2013), tem se caracterizado pela ousadia - se for bem compreendida pelos jurados e público, sobe.

Tentando surpreender, a Dragões do Castelo fez um samba que aborda com clareza as diversas formas de jogo e competições desta vida; a vicentina Camisa Alvinegra fala sobre as festas populares e o folclore brasileiro. Tomara as duas encantem também, que o povo quer, antes de tudo, beleza, alegria.

Entre as dez do grupo especial (cinco desfilam domingo, cinco, segunda-feira), muito, muito bom mesmo o verdadeiro hino que União Imperial fez ao seu chão, o Marapé. Menciona a origem do nome, os pontos de referência do bairro (que são ícones da cidade também) e ressalta a solidariedade de sua gente. "Nesse bairro onde o amor, ô ô/ faz do amigo um irmão", homenageia a letra.

Outro primor é o samba da Amazonense, sobre os migrantes nordestinos, mostrando como um povo ergueu os símbolos do progresso urbano do Sudeste e, ao mesmo, tempera a vida com suas manifestações artísticas. Pra variar, a escola do Guarujá é favoritaça.

Outra favoritíssima é a Unidos dos Morros, que desde a retomada dos desfiles, em 2006, tem estado sempre ali, pertinho do título. O samba se, por um lado, aborda um tema recorrente - a natureza e a necessidade de preservação do meio ambiente -, propicia elementos visuais de impacto, e nesse ponto a agremiação da cidade alta tem se destacado nos últimos anos. Vem que vem, portanto.

Duas escolas fazem referência à África. A Império da Vila, enfatizando as heranças culturais do continente-mãe, num samba com uma letra muito rica. A Sangue Jovem, interrelacionando a biografia de três afrodescendentes "guerreiros da paz": Nelson Mandela, Luther King e Pelé.

A campeoníssima Brasil é aguardada com muita expectativa. Depois de tropeçar em 2010 e ser rebaixada, conseguiu o acesso em 2011 e, ano passado, esteve bem perto do título do grupo principal. O samba-de-enredo 2013 viaja pela evolução nas formas de comunicação interpessoal - das mais primitivas maneiras de dar um recado aos mais instantâneos recursos tecnológicos disponíveis. Tem tudo para ser lúdico, assim como deverão ser os desfiles da Vila Mathias, sobre a influência das cores na humanidade (destaque para a inconfundível voz do intérprete do samba, o Joãzinho), e o da Real Mocidade Santista, que aborda a arte do teatro de bonecos - das mais remotas origens às manifestações contemporâneas, como as do carnaval pernambucano.

As duas escolas do Macuco resolveram encarar desafios nada simples. A Padre Paulo, o de explicar o que é a maçonaria, um universo tido como, no mínimo, misterioso pra quem é de fora. Já a X-9, o de trazer elementos concretos que ilustrem um enredo abstrato ("Bem o mal, falem de mim"). O samba da Padre Paulo privilegia a origem histórica e as lutas maçons; o da X-9 é um recado (não chega a ser agressivo, todavia é enfático) de que, pode-se dizer o que for, mas impossível não reconhecer a força da Pioneira.

Por ora é isso. Mais detalhes, no ótimo portal oficial do carnaval santista: www.santos.sp.gov.br/carnaval

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

O MST faz bem

Assentamento no Paraná dá oportunidade a 4 mil famílias (foto: Joka Madruga)
De Curitiba

Considero o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra uma das mais respeitáveis organizações sociais do Brasil, e a visita da presidenta Dilma Rousseff hoje ao Assentamento do MST Dorcelina Folador, em Arapongas (PR), é uma demonstração de que seu governo reconhece a importância e a legitimidade do movimento na luta contra a raiz das injustiças sociais deste país, que é a concentração da propriedade da terra.

O MST, na voz de sua principal liderança, José Stédile, com razão tem feito críticas à superficial política de reforma agrária dos últimos anos. Mas é lúcido o suficiente para compreender que tanto Lula como Dilma só conseguiram se eleger graças a uma aliança que envolve representantes dos mais variados espectros ideológicos e interesses econômicos, e para implantar os avanços sonhados precisa constantemente negociar com essa composição de forças.

Ao contrário de alguns partidos de esquerda, o MST sabe que o adversário principal não é o PT, os governos de Lula e Dilma. Da mesma forma que a crítica precisa e é feita pelo MST, o movimento também dá o respaldo necessário para que o governo consiga encarar esse embate de forças e de poderes político-econômicos divergentes. Sem tal apoio, a direita e o latifúndio voltam a encontrar terreno livre para atuar.

Na visita ao assentamento - um antigo latifúndio improdutivo que agora gera emprego e renda para 4 mil famílias - Dilma lançou o programa "Terra Forte", que põe R$ 600 milhões para fomentar a industrialização de assentamentos rurais.

É pouco diante das benesses desde-sempre concedidas à monocultura do agronegócio, ao sistema financeiro, à indústria automobilística de capital estrangeiro. É, porém, uma conquista só possível pela histórica e firme mobilização do MST e por termos na República uma presidenta progressista, minimamente comprometida em diminuir as desigualdades e acabar com a miséria no país. Se estivéssemos eleito o PSDB de José Serra, Aécio Neves e Fernando Henrique Cardoso, o governo estaria - como esteve nos anos em que o partido comandou - de costas para a agricultura familiar, e de joelhos para as transnacionais do agrobusiness.


sábado, 2 de fevereiro de 2013

Das curvas da estrada até Santos. Há 25 anos...


De Curitiba

O facebook tem muita tranqueira, especialmente em tempos de indignação seletiva, mas nos põe em contato com umas obras incríveis.

Uma delas é este vídeo compartilhado pelo Anderson Hashimoto, colega de turmas nos tempos de ensino fundamental, na Escola Municipal Cidade de Santos.

É o registro de uma viagem feita a Santos por um grupo de amigos, aparentemente japoneses, em 1988. A gravação começa na Via Anchieta, ainda no planalto, no ABC. Termina no Canal 3, na Encruzilhada, com direito a parada na Pompeia, quando o bairro formalmente nem existia - a área pertencia ao José Menino.

Fiz uma rápida decupagem para destacar os trechos que mais chamaram a atenção. Principalmente para os santistas, um deleite. Confira:

  • 2'05'': os viajantes passam pela fábrica da Karmann Ghia do Brasil, em São Bernardo do Campo, ícone da fase de implantação da indústria automobilística no país.
  • 8'55'': começa a descida da Serra do Mar. No rádio do carro dos viajantes toca "Separação", na voz de Simone.
  • 17'30'': "fim do trecho de serra", como diria a placa hoje instalada (na época do vídeo, não existia. Aliás, a sinalização da rodovia é bem mais acanhada que a de hoje).
  • 19'30'': final da Via Anchieta, início da Avenida Martins Fontes, no Saboó - "as quatro pistas" ou a "entrada da cidade", como dizem os mais antigos. Destaque para os "azuiszinhos" e "amarelinhos", como os santistas chamavam os ônibus da Viação Santos-São Vicente, que marcaram a paisagem de Santos nos anos 70 e 80.
  • 23'35'': o carro passa ao lado da rodoviária, onde se pode avistar o terreno hoje ocupado pelo terminal de ônibus urbano do Valongo.
  • 24'28'': do Túnel Rubens Ferreira Martins até a Avenida Francisco Glicério, via Canal 1, os viajantes seguem na cola de um ônibus da Samavisa, empresa que fazia linhas entre o Litoral, a região de Mogi das Cruzes e o Vale do Paraíba. Depois as linhas foram incorporadas pela Expresso Brasileiro; atualmente estão com a Cometa.
  • 24'58": o grupo filma o campo do complexo Chico Guimarães que, nos anos 90, se transformaria no Centro de Treinamento do Santos Futebol Clube, o CT Rei Pelé.
  • 25'50": é a vez de encontrar o Ulrico Mursa, estádio da Portuguesa Santista, a Briosa.
  • 31'50: a turma faz uma parada em frente à Igreja da Pompeia.
  • 33'09'': um dos registros mais históricos. Na rádio sintonizada, o anúncio de um show de Chico Buarque "para o sábado dia 22, no ginásio do Regatas Santista". Pois é, Chico já foi de fazer shows mais acessíveis. O locutor enfatiza: "Santos vai parar para assistir, no sábado que vem, ao melhor show da MPB: Chico Buarque de Holanda. O grande mito da música popular brasileira!".
  • 36'00'': passagem pela feira da Francisco Glicério, sendo desmontada.
  • 37'00": a viagem vai chegando ao fim. O carro pega o Canal 3 sentido Cidade e, logo após a Rodrigues Alves, o grupo desembarca no número 193.
Enfim, viaja-se junto. Pela estrada, pelo túnel, do tempo.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Curitiba tem e dá samba sim

Mestre Márcio Brinco comanda a bateria (foto: Everson Bressan)
De Curitiba

Extraordinários os ensaios que a Acadêmicos da Realeza tem feito às terças e quintas, na Arena Mercês, antigo Vasquinho.

Mostram que na capital da terra das araucárias se samba – e se samba bem - o samba de carnaval.

O samba-enredo, sobre São Jorge, é espetacular (não é porque sou amigo dos compositores, não; o samba é bom mesmo!), tanto que é entoado com toda a garra pelo pessoal que frequenta os ensaios. Quem já sabe, tem na ponta da língua; que não sabe, basta uma colinha pra entrar no ritmo de vez.

No ensaio da última quinta-feira, dia 31, a Acadêmicos da Realeza recebeu a visita do prefeito Gustavo Fruet. Louvável a iniciativa do prefeito de verificar in loco a manifestação artística dessa comunidade curitibana, a do samba. Quem sabe, se sensibilize e, para 2014, providencie um local mais apropriado, mais digno, para os desfiles.

Os deste ano ainda serão na Cândido de Abreu, no Centro Cívico, no sábado. Pra quem quer fazer como o prefeito e se arriscar nos ensaios, semana que vem é, portanto, a última oportunidade antes da apoteose.

  • Nesta série de matérias da Agência de Notícias da Prefeitura, um registro de como as escolas da cidade estão se aquecendo para o carnaval. 
  • Aqui, a vinheta do samba-enredo 2013 da Realeza.
  • E aqui, treileir de "Caras de um carnaval", documentário sobre "a gente que vive em Curitiba e ama carnaval".