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segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

A descoberta de um pedaço de Portugal na Rua XV santista

Entrada do restaurante, em um dos casarões da Rua XV (fotos: WAA)
De Curitiba

'Cês sabem que vivo numa ponte aerohidrorrodoviária Curitiba-Santos, de modo que neste final de semana estive mais uma vez (a primeira, no ano) na terra praiana, para comemorar os 468 anos de fundação da cidade. 
 
E, embora esteja tão lá quanto cá, sempre há descobertas.

No sábado, a gente planejara almoçar no Estação Bistrô, restaurante escola montado pela Prefeitura e pelo Ministério do Turismo na antiga Estação Ferroviária Santos-Jundiaí. Em razão do aniversário da cidade, o cardápio seria especial.
 
Chegando lá, a constatação: um bocado de gente teve a mesma ideia, a julgar pelo tamanho da fila que encontramos.
 
Boulevard da Rua XV, com a Bolsa do Café ao fundo
Resolvemos, então, caminhar algumas quadras até a histórica Rua XV de Novembro e, pertinho da Bolsa do Café, encontramos o Tasca do Porto. Uma casa portuguesa, com certeza.
 
(Coincidência que só agora, a escrever este post, me dou conta: no caminho do Macuco ao Valongo, numa esquina da Rua Campos Melo, parados num semáforo, avistamos do carro uma placa desbotada, a dizer "Rua República Portugueza". Assim mesmo - a placa, reparamos, era do tempo em que "portugueza" se escrevia com "z". Enfim, a sinalização era anúncio de que a tarde seria lusitana, ou luzitana)
 
Em garrafinha de 200ml, a leve cerveja portuguesa
Na Tasca do Porto, experimentamos uma cerveja além-mar, uma feijoada portuguesa, badejo (é badêjo ou badéjo?, cantaria o Arranco de Varsóvia) e, para reiterarmos a condição de latino-americanos, um filé de frango à cubana.
 
Pratos saborosos, a preços razoáveis.
 
Mas outra descoberta saborosa foi na música. O almoço era servido ao som da apresentação da banda Filhos da Tradição, grupo de amigos e parentes santistas, umbilicalmente ligados às raízes de Portugal. 
 
O repertório, de primeira - o ponto alto fica por conta da versão da banda para Grândola Vila Morena (Zeca Afonso) e Tanto Mar (Chico Buarque), ambas referentes à Revolução dos Cravos.
 
Pra quem está em Santos, imperdível!
 

sábado, 25 de janeiro de 2014

Santos, 468 anos

Por-do-Sol visto da altura do Canal 4, Praia do Embaré (foto: WAA)
De Santos
 
Replico aqui texto que fiz para o Ó Minha Santos, em referência ao aniversário da cidade, neste domingo, 26 de janeiro:
 
"Este espaço costuma ser utilizado para a exposição dos problemas e dos desafios de Santos - até porque o Ó Minha Santos tem se mostrado como um dos poucos, se não o único, meio de comunicação local a tratar dos males da cidade abordando-os pela raiz. Todavia, às vésperas de mais um aniversário, aproveitemos a oportunidade para exaltar as qualidades da nossa terra. Afinal, as temos, e são motivo de orgulho.

Este verão, por exemplo, tem rendido imagens espetaculares do anoitecer santista. Seja dos píeres da Ponta da Praia, seja do quebra-mar do Emissário Submarino, ou do alto do Monte Serrat, temos o privilégio de apreciar um por-do-sol que está entre os mais belos do planeta. Apesar da ocupação verticalizada desenfreada do nosso território, a qual cria muros diante do nosso horizonte, a natureza foi tão generosa com Santos que ainda conseguimos contemplar suas melhores formas.

A especulação imobiliária pôs - e continua colocando - abaixo nossa história. Entretanto, o patrimônio arquitetônico e cultural construído ao longo de mais de quatro séculos pela gente santista é tão onipresente que retratos desse legado (ainda?) podem ser apreciados. E não só no Centro Histórico, onde esse patrimônio está mais à mostra.

Uma caminhada pelo Macuco, pelo Marapé, pela Pedro Lessa, pela Vila Mathias, pelo Campo Grande, e a gente se depara com chalés, sobrados, construções ímpares, que servem ou serviram de lar ou de estabelecimento comercial. Cada um deles, certamente, guarda um passado raro.

O território plano em boa parte da ilha convida a caminhadas e a rolezinhos de bicicletas. Mas temos, no nosso quintal, a altitude dos morros e a vista propiciada de seus topos. A Mata Atlântica, um dos biomas mais ricos do planeta, esta também temos no nosso quintal, ali na área continental. Os manguezais, berços da natureza, embora criminosamente mal tratados e cuidados em razão das desigualdades sociais históricas que obrigaram nossa gente a ir morar em palafitas, esses também estão ali, sobretudo na Zona Noroeste.

Aqui temos o maior porto da América Latina, temos um clube que encantou o mundo com um dos maiores times de futebol de todos os tempos, abrigamos quilombos e estivemos entre os pioneiros a abolir a escravidão, resistimos à ditadura militar implantada pelo golpe de 64, revelamos esportistas, artistas, políticos e trabalhadores anônimos que ajudaram e ajudam a construir a nação brasileira.

Santos tem beleza natural e construída; tem passado, tem presente, e precisa cuidar melhor do seu futuro. Mas segue como um dos rincões mais agradáveis para se viver. Vivamos, Santos! Parabéns pelos 468 anos!"

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

O cd dos sambas de enredo já toca

Portela e Salgueiro, os destaques deste ano

De Curitiba

O ano virou, as férias acabaram.

Agora é esperar pelo carnaval.

Em março, vamos manter a tradição de ir à Passarela do Samba Darcy Ribeiro, o sambódromo da Marques de Sapucaí, para assistir aos desfiles das campeãs do Rio de Janeiro.

O cd com os sambas de enredo começa a tocar por aqui com mais frequência.

O samba, você sabe, não é único quesito a contar na classificação da escola. Mas é o ingrediente principal, é o combustível.

Um bom tema, um enredo bem trabalhado pelo samba põe a escola em vantagem diante das outras.

Nisso, para 2014 destaco Portela e Salgueiro. Os sambas de enredo das duas, os dois melhores, sem dúvidas (na minha avaliação, claro. Mas nos últimos anos, tenho acertado).

Acima da média também os sambas de Vila Isabel e Mangueira.

A minha escola preferida, você sabe, é a Vila Isabel de Martinho e Noel. Todavia há espaço no coração também para a Portela de Paulinho, Monarco, Marisa Monte e, claro, da ímpar Velha Guarda.

Pela qualidade do samba, são grandes as chances de Vila e Portela estarem entre as seis e participarem do desfile da apoteose.

Oxalá as reencontre em 8 de março!

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

As super poderosas que não estão para brincadeira

Essas divertem. As tratadas a seguir, se divertem
De Curitiba

São seis as grandes irmãs às quais nos referimos aqui: Odebrecht, CCR (Camargo Correa), OAS, Triunfo, Queiroz Galvão e CR Almeida.

Guarde bem estes nomes.

Não é o “Estado”, o “governo” que tem o poder.

É o poder econômico que manda; é o poder econômico que, de fato, tem poder.

Essas seis irmãs estão cada vez mais poderosas.

Já eram gigantes e, com as recentes “concessões” de rodovias, portos, aeroportos, veículos leves sobre trilhos e monotrilhos, tocadas tanto pelo governo federal como por administrações estaduais e municipais, esses conglomerados cada vez mais se apossam do Brasil.

O transporte de carga, o transporte de nós, pessoas, a água e a energia que abastecem nossa casa; tudo isso cada vez mais passa pelas malhas e redes - a encher os cofres -  dessas super poderosas.

Que vereador, deputado, senador, prefeito, governador, presidente, juiz, meio de comunicação vai ter coragem de enfrentar o interessas dessa meia-dúzia de irmãs, quando esse interesse divergir do interesse coletivo, do interesse público?

Aceitemos e incentivemos os investimentos privados, o capital produtivo, mas algumas regras claras e rígidas precisam ser impostas. Entre elas, mecanismos que impeçam esse oligopólio, esse loteamento do Brasil entre alguns poucos megaconglomerados.

O que está em curso é a divisão da infraestrutura brasileira (rodoviária, ferroviária, elétrica, aquífera) em capitanias; a distribuição entre compadres e comadres.

Para se ter uma ideia, dos sete leilões de concessões realizados do final do ano passado para cá pelo governo federal, seis ficaram com as super poderosas. Acompanhe:
  • Aeroporto do Galeão: Odebrecht
  • BR-163 (MT): Odebrecht
  • Aeroporto de Confins: CCR (Camargo Correa)
  • BR-163 (MS): Odebrecht
  • BR-060-153-262: Triunfo Participações
  • BR-040: Invepar (OAS)
  • BR-050: Consórcio Planalto
Há uma penca mais de concessões prometidas pelo governo; inadmissível que essas corporações continuem a abocanhar, abocanhar... O Estado precisa mediar, equilibrar esse jogo.

Até porque esses megaconglomerados já são "donos" de um monte de coisa. Confira um resumo, feito a partir de informações disponíveis nos sites dos próprios grupos:
  • O grupo Odebrecht, entre incontáveis outros negócios, tem as concessões do terminal Embraport (Porto de Santos), dos trens urbanos do Rio de Janeiro (Supervia), do Maracanã, de 700 quilômetros de rodovias pelo país, da Linha 4 do metrô de São Paulo (junto com a CCR), além, agora, do Aeroporto do Galeão e das novas estradas federais obtidas.
  • O grupo CCR, por sua vez, domina, entre outros empreendimentos, a concessão da Via Dutra, da Porte Rio-Niterói, das barcas Rio-Niterói, de rodovias no interior do Paraná e São Paulo (entre elas, o Rodoanel), da Linha 4 do metrô paulistano, além, como já citado, das estradas federais recentemente leiloadas. A CCR pertence à Camargo Correa.
  • A Triunfo Participações controla estradas no Paraná, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, terminais portuários em Navegantes (SC) e Manaus, o Aeroporto de Viracopos (Campinas, SP), fora hidrelétricas e outros negócios, e sem contar também o trecho de rodovias federais conquistado há pouco.
  • A OAS, antes da BR-040, já tinha, entre outras concessões e obras, a da Linha Amarela, no Rio de Janeiro, a do metrô carioca e a do Aeroporto de Guarulhos.
  • A Queiroz Galvão, que vai construir o VLT em Santos, opera rodovias no Paraná e Rio de Janeiro, concessões de serviços de água e esgoto, usinas de energia e outros empreendimentos.
  • A CR Almeida tem a concessão de rodovias no Paraná, Espírito Santo e São Paulo - entre elas, o movimentadíssimo Sistema Anchieta-Imigrantes, canal de escoamento de boa parte da produção nacional para o Porto de Santos.
Insisto: o Brasil carece de investimentos em infraestrutura, é óbvio. Não, todavia, a qualquer custo, a custo da soberania do interesse público.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Estreia do Big Brother: boa hora para falar de ley de medios

Estreia da 14ª edição do programa é nesta terça, dia 14
De Curitiba

Volto ao Brasil e reencontro a tensão pré-Big Brother Brasil, que acomete as rodas de conversa há uns dez janeiros e, há menos tempo, as discussões nas redes sociais.

De um lado, odiadores do reality show que chega em 2014 à sua 14ª edição. De outro, gente que curte dar uma espiada e, mais ainda, repercutir, comentar, torcer.

Qualquer que seja o teu lado, o debate em torno da qualidade da programação da televisão brasileira, sucitado pelo tal BBB, deve ser aproveitado para levar a uma discussão mais profunda.

É a necessidade, urgente, de reformas profundas na legislação que diz respeito à mídia.

É o que chamamos de "ley de medios", semelhante ao processo pelo qual passaram recentemente, por exemplo, Argentina e Inglaterra.

O marco regulatório da mídia no Brasil é de 1962 - obviamente, bastante defasado. Não contempla premissas garantidas pela Constituição de 1988 nem muito menos a evolução tecnológica dos últimos tempos.

Uma ley de medios não acabaria com Big Brother nem com programa algum, porque a regulamentação da mídia não é censura, não é controle da programação.
 
Projeto de lei de iniciativa popular amplia a liberdade de expressão
Reforma da mídia é acabar com o latifúndio, com o oligopólio do setor (concentração dos meios de comunicação nas mãos de poucas, mas poderosas, empresas). 
 
É, assim, abrir espaço para mais canais de rádio e televisão - privados, estatais e públicos.

Ou seja, se você não gosta de Big Brother Brasil, mas não quer trocar a televisão por outro passatempo, teria muito mais opções de emissoras e programas. 
 
Se você gosta, sem problemas também, afinal seu programa não acabaria e, em outros horários, você teria também mais opções.

Mais canais de rádio e televisão e distribuídos de forma mais equilibrada entre instituições privadas, estatais e da sociedade civil organizada é mais espaço para a comunidade. 

É, portanto, assegurar liberdade de expressão a mais gente. Colabora, dessa forma, para a consolidação da democracia.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

"Submerso", o túnel que vai mergulhar Santos no atraso

Moradias históricas que vão ser derrubadas para dar passagem ao tráfego (foto: WAA)
De Santos

Nestes quase dez dias em que estive em Santos, a todo instante na televisão assisti a inserções comerciais do Governo do Estado sobre obras na cidade e região.

Certamente o governo paulista gastou uma fortuna para transportar santistas e turistas a um mundo de realizações, a um presente que projeta um futuro próspero, moderno.

A milionária, ou melhor, milhonária propaganda mascara, no entanto, uma realidade bem diferente. A gestão de Geraldo Alckmin e toda a turma do PSDB e aliados, no Governo do Estado, com o apoio do prefeito de Santos, Paulo Alexandre Barbosa, e seus parceiros do mesmo PSDB e assemelhados, essa turma está prestes a mergulhar Santos num mar cinza.

Tudo por conta do tal "Túnel Submerso", a ser construído por debaixo do canal do estuário, ligando o Macuco a Vicente de Carvalho, em Guarujá.

O "Submerso" caminha na contramão da humanidade. Enquanto no planeta inteiro se discutem alternativas ao uso do automóvel particular, se procura devolver às pessoas espaços tomados para os carros, o Governo do Estado de São Paulo projeta para Santos exatamente o inverso.

Para que o "Submerso" seja implantado, centenas de moradores do Macuco, traidicional bairro operário de Santos, terão de se mudar dali. Construções históricas como as moradias da foto, que tornam o Macuco peculiar e num futuro próximo poderiam ser atrativo turístico, serão derrubadas sem dó nem piedade.

E para quê?, ora para quê!, pra que o espaço seja ocupado por asfalto sobre o qual vão rodar milhares e milhares de veículos, a produzir barulho, fumaça...

O Macuco, que carece de praças para o lazer de suas crianças, vai ter pista de rolamentos para automóveis e caminhões. E os meninos e meninas, vão jogar bola, andar de bicicleta, brincar de pega-pega e esconde-esconde onde, Alckmin e Paulo Barbosa?

Em suma, o Governo do Estado, com o apoio da Prefeitura Municipal, repete a velha e comprovada fracassada solução de buscar resolver um problema de trânsito estimulando a geração de mais tráfego. 

Até se admitiria um túnel, se fosse ele unicamente para o transporte coletivo (por exemplo; exclusivamente para uma linha de veículos leves sobre trilhs, os chamados VLTs).

Afinal, obras desse porte inevitavelmente trazem impactos, mas esses impactos só compensam se for para propiciar melhorias e benefícios, duradouros, à coletividade, e não para, em vez de resolver, agravar um problema.

E o pior é que, com exceção de uma e outra manifestação, predomina-se na imprensa local, entre os vereadores, o Ministério Público e outra lideranças da sociedade o silêncio, a conivência ou, no mínimo, a omissão.