Translate

domingo, 30 de junho de 2013

Cadê o coro dos corneteiros derrotistas?

Fred e Neymar, no passeio sobre a Espanha hoje (foto: CBF)
De Curitiba

Gostaríamos de ouvir aqueles que diziam que o Brasil não teria estádios nem seleção para a Copa das Confederações.

Todos os campos foram entregues a tempo e, salvo um e outro imprevisto, ao que consta o caos decretado não aconteceu.

Nem nos estádios, nem nos aeroportos.

Muito menos dentro das quatro linhas.

Os "comentaristas" que traçavam o destino da seleção brasileira só a partir do desempenho em desmotivados amistosos caça-níqueis, também gostaria de ouvir deles como é que foi possível tamanha recuperação.

Só os menos entendidos em futebol, ou os dominados pelo colonialismo, para não enxergarem que nem Espanha nem qualquer outra seleção europeia é imbatível quando o adversário é o Brasil.

Claro que nos impecáveis estádios faltou povo, sobrou elite. Claro que ver um José Maria Marin faturando em cima do êxito do time canarinho é de embrulhar o estômago.

Mas a preocupação dos derrotistas não era - nunca foi - essa. 

Até porque esses derrotistas ou são a própria elite, ou são os que se acham elite ou são os que gostariam de ser elite - ou são os que pensam como elite.

Como diz o Paulo Henrique Amorim, o que deixam inconformados esses derrotistas não são os gastos com a Copa, as interferências da Fifa. O que eles não suportam é o fato de que Lula trouxe e Dilma vai realizar a Copa. É o que está recalcado em seus comentários.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

A emenda que dá acesso ao ônibus

Andar de ônibus passa a ser direito social (foto: WAA)
 De Curitiba

Na penca de matérias de apelo que a Câmara dos Deputados e o Senado colocaram em apreciação nesta semana, a aprovação de uma, embora tenha tido repercussão pequena, é de fundamental importância para a clamada melhoria nos serviços públicos.

Trata-se da Proposta de Emenda Constitucional número 90, de 2011 (PEC 90/2011), de autoria da deputada federal Luíza Erundina (PSB-SP). Pela proposta de Erundina, o transporte público passa a ser definido expressamente na Constituição Federal como um direito social, tal qual hoje já são educação e saúde, por exemplo.
  • Leia aqui sobre a aprovação da PEC 90/2011 pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara
  • E aqui a íntegra da proposta e sua tramitação

Parece uma simples formalidade, mas não é. Ao estabelecer na Carta Magna que o transporte público é um direito social, o Estado passa a ser responsável por assegurar a todo cidadão brasileiro o direito ao acesso a esse serviço.

Assim, levar uma pessoa de um lugar para outro se torna obrigação do poder público tão elementar quanto garantir vaga na escola para toda criança, atendimento médico para qualquer pessoa.

Atualmente, se o cidadão não se encaixa nas situações em que a gratuidade é prevista em lei (idosos, menores de cinco anos, portadores de necessidades especiais), e não tem dinheiro para pagar a tarifa, ele que se vire - vá a pé, de bicicleta. Ou fique onde está.

Com o transporte classificado como direito social, o Estado terá de providenciar políticas públicas que assegurem a universalidade do serviço. 

Entre as possibilidades, está a tarifa zero, que a própria Erundina tentou implantar em São Paulo quando foi prefeita, entre 1989 e 1992 (à época, pelo PT).
 
  • Saiba mais sobre a ideia da tarifa zero
  • E leia aqui sobre a "caixa-preta" do transporte coletivo

Hoje parece inviável oferecer condução sem cobrar tarifa. Ora, se a escola pública não cobra mensalidade, nem o hospital do SUS diária por internação, por que um direito social como o transporte só pode ser usufruido mediante o pagamento de uma passagem?

Claro, outras formas de se bancar os serviços precisariam ser encontradas. Aumentar os impostos dos ricos (que tal taxar grandes fortunas ou o lucro de bancos? E elevar o IPVA de automóveis de luxo? E implantar o IPTU progressivo?) é o caminho mais justo.

O gasto com ônibus impede que muita gente deixe de estudar num curso técnico, ir para a faculdade, fazer acompanhamento e tratamento médico.

Garantir, portanto, a universalidade do transporte público e garantir educação e saúde também.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Manifestantes, manifestem-se contra o bolsa banqueiro

A elite e a mídia batem no bolsa família, mas deixam quieto o banqueiro (foto: MDS)
De Curitiba

Os bem-intencionados “apartidários” poderiam encampar esta luta: contra o bolsa banqueiro.

Não é com o bolsa família que o governo gasta muito. Gasta-se pouco até, e mesmo assim, o programa é responsável por avanços importantes nos últimos dez anos. Confira:

O bolsa família movimenta a economia local; graças ao bolsa família, pela primeira vez na história do Nordeste brasileiro o sertanejo, diante da seca atual que é a mais drástica dos últimos 50 anos, não passa fome.

O bolsa banqueiro, mata a fome, mas a de lucro, dos especuladores.

Suga dinheiro do orçamento público que poderia ser investido em escolas e hospitais “padrão Fifa”; em corredores de ônibus, metrô e VLT; em casas populares, saneamento em básico; em viaturas e equipamentos para a polícia.

Mas contra o bolsa banqueiro, ainda não vi nenhum cartaz nas manifestações “pacíficas” “apartidárias”.

Ou, se alguém levou um, evidentemente não saiu no videoclipe do Fantástico. Nem sairá.

O bolsa banqueiro, claro, não tem oficialmente este nome. Chama-se “superávit primário”.

Uma expressão que remete a algo positivo - “superávit”.

Mas é drástico.

Nesta terça, dia 25, a Agência Brasil noticiou (ler aqui a matéria na íntegra): o superávit primário no acumulado deste ano (janeiro a maio) somou R$ 33 bilhões. Embora seja menor do que o do ano passado e o mais baixo desde 2012, é uma tragédia.

Reparem: são R$ 33 bilhões em cinco meses. É mais que o orçamento anual (ou seja, do ANO TODO) do atacado bolsa família (que é de R$ 23 bilhões).

É mais do que tudo o que está sendo investido (R$ 28 bilhões) em obras de infraestrutura e estádios para a Copa do Mundo de 2014.

A prática do superávit primário é herança dos dois mandatos do PSDB-DEM, da qual os governos do PT não conseguiram (não quiseram? Não puderam?) se livrar. Lula e Dilma, ao menos, promoveram atenuantes – como o bolsa família já citado, o microcrédito, o ProUni, o Luz para Todos etc etc.

Em tempo: superávit primário é a “economia” que o governo faz para pagar os juros da “dívida pública”. Também palavras bem escolhidas para esconder o que significa, na prática: dinheiro que o governo corta do orçamento público para destinar ao mercado financeiro, como remuneração pelos títulos públicos por esse mercado adquirido.

É, enfim, o bolsa banqueiro, como definiu o Plínio de Arruda Sampaio.

Acabar com o superávit (ou ao menos diminuir) é mexer num vespeiro. É fazer com que muita gente (especuladores, bancos) que esteja há 15 anos ganhando muito dinheiro - fácil, sem produzir um sabonete sequer - pare de encher os cofres nessa moleza. É enfrentar interesses econômicos poderosos, gigantes – e esse gigante nunca dormiu, está acordado, à espreita de qualquer governo que tente incomodá-lo.

Portanto, moçada, gritar por “educação de qualidade”, “saúde de qualidade” não surte efeitos se essa reivindicação ficar apenas nisso. Passou da hora de ir à raiz, exigir que se estanque essa sangria de recursos públicos que fazem a alegria dos filiados à "apartidária" Febraban.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Dilma, é hora de voltar à tv para explicar as propostas

Depois da reunião com Passe Livre, ideal era convocar rede nacional (foto: ABr)
De Curitiba

A presidenta Dilma Rousseff acertou em ter se sentado à mesa com o combativo e legítimo Movimento Passe Livre.

Também mandou extraordinariamente bem em chamar os governadores e prefeitos pra assumirem, com ela, os compromissos que considera imprescindíveis pra acelerar o processo de mudança do Brasil - iniciado há dez anos.

Dilma foi precisa, e até ousada, nas propostas.

Cometeu, no entanto, um velho erro de seu governo: deixar que as decisões sejam explicadas na televisão unicamente pelo noticiário dos veículos privados - Globo, Band, Record, SBT etc.

Depois do pronunciamento de sexta-feira, da expectativa gerada em torno das propostas que a presidenta viria a apresentar e, principalmente, da complexidade das decisões, Dilma deveria ter convocado, para hoje, nova cadeia nacional de rádio e televisão.

Pra explicar, didaticamente, as medidas pretendidas - sobretudo aquelas mais suscetíveis a distorções por parte da mídia tradicional (a reforma política via plebiscito e a "importação" de médicos).

É impressionante a dificuldade do governo da presidenta Dilma em se comunicar com a população, e passou da hora de isso ser corrigido.

Nestes dois anos e meio, em vez de investir em comunicação pública, em acabar com o oligopólio da mídia, a Secretaria da Comunicação Social financia, por meio das verbas publicitárias, os grandes conglomerados, na vã expectativa de que estes serão simpáticos e darão voz para o governo se explicar à população.

Não à toa nos facebooks da vida transborda uma coletânea assustadora de asneiras, baseadas em notícias distorcidas das vejas, em comentários enviesados da televisão.

Como o governo não se encoraja em rebater, e sequer tem (porque não cria) meios pra isso (acha que preparar omelete na Ana Maria Braga é o suficiente), as bobagens se espalham, crescem, pioram e estavam estampadas em boa parte dos cartazes das manifestações "pacíficas" "apartidárias".

Se o governo Dilma continuar se contentando com o espaço dado ao "outro lado" nas matérias da mídia convencional sobre as ações do governo, todo esse esforço em entender - e atender - as demandas da sociedade vai ralo dentro.

domingo, 23 de junho de 2013

"Recortes", a manifestação da semana em Curitiba


De Curitiba

Quero convidar você, leitor deste blog que estiver por Curitiba, a ir a uma manifestação nesta semana.

Será na sexta-feira, dia 28, às 19h30.

Não é uma manifestação "pacífica" "apartidária" como estas que pipocaram por aí.

Para estas, nem me chamem que não vou, e também não chamo.

(Confira aqui pra quais manifestações vou e de quais tô fora)

A manifestação desta sexta é artística, cultural, educacional.

É o lançamento do curta metragem de conclusão de curso dos nossos alunos do Técnico em Produção de Áudio e Vídeo, do Colégio Estadual do Paraná.

O filme é totalmente produzido pelos estudantes. Tem a supervisão geral do professor Tiago Alvarez, o acompanhamento de perto do André Barroso, Maciel Paludo, Yara Luna e deste signatário, e a contribuição, com os conhecimentos que transmitiram em suas disciplinas, da Priscila Drosdek, Andrea Zalequett, Mary Donda e Sérgio Zac.

Mas a obra é, sobretudo, fruto do trabalho dos formandos. Do roteiro ao trabalho de divulgação e convite para o evento, passando pela seleção do elenco, produção propriamente dita e edição, o curta é da turma.

No vídeo acima, os bastidores da produção do filme.

A seguir, a sinopse:

  • “Um homem, uma câmera, dois amores. Rodrigo amou Eliza e amou Marcela, mas os atalhos do destino o levaram a tomar escolhas difíceis, e entre recortes do passado e do presente, terá de escolher se prefere viver intensamente o presente, ou entender e aceitar uma tragédia do passado.”

Aqui, a página no facebook pra você conferir fotos e outras informações:


E reiterando o convite: é nesta sexta, a última de junho, portanto a derradeira do semestre; às 19h30, no auditório do Estadual, que fica na Avenida João Gualberto, 250.

Aparece lá?!

sábado, 22 de junho de 2013

Nesta hora difícil, "tamo junto"

Encontro (não com Fátima, com Dilma), em Paranaguá, janeiro de 2007
De Curitiba

Tenho divergido muito de ti de um ano para cá, pelo deslocamento à direita do teu governo, por ter deixado na gaveta algumas pautas progressistas.

Há pelo menos uns quatro ministros do núcleo central que a senhora poderia tirar de campo; me incomoda a aproximação com gente como a Kátia Abreu e o distanciamento de grupos como o sem-terra e os indígenas, entre outros movimentos sociais que mereceriam ser recebidos pela senhora com mais frequência.

Esse descontentamento venho expressando pelo twitter e neste blog mesmo.

Expus minha discordância com a privatização do sistema portuário e com os leilões dos blocos de petróleo (relembre aqui). Sobre a omissão na guerra contra os índios imposta pelo "agrobusiness", também reclamei aqui.

No Dia das Mães, publiquei uma carta aberta a Vossa Excelência: está neste link.

As críticas, no entanto, não me impedem de continuar reconhecendo os avanços do teu governo e do teu antecessor, Lula.

O governo Lula-Dilma tirou milhões de brasileiros da miséria, implementou políticas sociais que possibilitam que o jovem filho de família pobre possa fazer faculdade, levou luz pro sertão e está levando água, promoveu a aproximação com os povos latino-americanos e africanos, reativou os cursos técnicos profissionalizantes, implantou campi de universidades públicas nos centros mais desenvolvidos e nos mais atrasados, criou o Samu e as UPAs etc etc.

Por esse legado (que ainda está longe de ser o ideal, poderia ser mais acelerado, mas é muito mais do que foi feito em 500 anos), é que nesta hora difícil, em que a elite se aproveita dos neoindignados "pacíficos" "apartidários" para, com a grande mídia, dar o golpe - já que pelo voto popular não conseguiu lhe tirar da Presidência da República -, é que estou contigo, Dilma Vana Rousseff.

Por esse legado, porém não só; pelo respeito à democracia.

Estar contra Dilma agora não é estar só contra a presidenta; é estar a favor de um golpe o qual - basta conferir a cobertura da Globo e a capa da Veja desta semana - está sendo muito bem orquestrado.

Todo mundo tem o direito de estar a favor ou contra o governo Dilma. Os que estão contra, todavia, têm que tomar cuidado pra não serem massa de manobra de interesses que nada têm a ver com as boas intenções dos que clamam por um Brasil melhor.

Quem estiver contra o governo Dilma pode perder o medo e reforçar a militância dos partidos de oposição para, dentro das regras do jogo (legais e legítimas), lutar para eleger um candidato, ou candidata, que se contraponha a Dilma. Ano que vem tem eleição e eleição se ganha no voto, via partido político, não em enquete ou "petição online" no facebook.

Só advirto, aos que realmente almejam um Brasil melhor, a não se precipitar na escolha do partido. Afinal, há uns partidos fortes na oposição por aí que a vida toda foram governo e dilapidaram o patrimônio público, deixaram o país às escuras no apagão, provocaram arrocho salarial, elevaram a carga tributária pra custear a bolsa banqueiro e aumentaram a distância entre a maioria mais pobre e a minoria mais rica.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

A tortura na fisioterapia

MST há tempos está na rua apanhando da polícia, da mídia, dos "apartidários" (foto: MST)
De Curitiba

Vocês sabem que mês e meio atrás machuquei o pé esquerdo, fiquei quase quatro semanas com aquela bota imobilizadora e, desde terça-feira passada, estou fazendo fisioterapia.

São dez sessões. Hoje, quinta-feira, faço a oitava.

Não imaginei que seria tão dolirido.

Não pelos exercícios, nem pelo pé. Nesse aspecto, tudo beleza, em plena recuperação - já estou andando normalmente, só não dá pra correr ainda.

O problema é que caí numa clínica que concentra o maior número dos parcos leitores de veja de Curitiba por metro quadrado. Uma verdadeira sucursal dos institutos millenium da vida. Um ipes do século XXI.

A conversaiada entre pacientes e entre estes e o profissional, quando descamba pra assuntos da nação, pra política, não dói no pé - dói no estômago.

E calhou de eu estar nesse clube de adesistas da tfp justo nestes dias de manifestações "pacíficas", "apartidárias".

A televisão fica ligada, claro, na Globo e, diante da cobertura ampla, geral e irrestrita que o Encontro com Fátima Bernardes (as sessões de fisioterapia são no final da manhã) tem dado aos atos "pacíficos", "apartidários", a turma lá em tratamento descarrega, em seus comentários "politizados", "apartidários", todo ódio e preconceito de classe, todo o colonialismo.

Lula, "que só toma uísque caro", repete uma figura, citando até a marca (leu na veja) da bebida, é o culpado de tudo; os protestos na Europa é que devem inspirar os nossos "indignados", "apartidários" do facebook.

Para ocultar seu lado demotucano-udenista, papagaiam as bravatas cequecianas, de ojeriza aos políticos em geral, à Brasília do Congresso, aos "corruptos".

Não se conformam, e nem precisa ser muito entendendor da teoria freudiana para identifcar o recalque, é com o fato de ter que registrar a empregada doméstica em carteira, viajar ao lado de pobre no voo do recesso de julho ou das férias de final de ano, saber que os filhos têm, na faculdade, um colega emergido da classe c que conseguiu entrar na universidade graças às cotas ou Prouni, em parar no sinal de trânsito e ver o carrinheiro ao lado com um celular da hora.

É essa ideologia que noto cada vez mais predominante nas manifestações que se iniciaram com o legítimo e politizado Movimento Passe Livre, reivindicando redução nas tarifas de ônibus, e que se transformaram nesses atos "pacíficos", "apartidários", "contra o que está aí".

O Brasil já está mudando de forma mais intensa há dez anos.

O Brasil está acordado há séculos. Pra ser mais contemporâneo, há décadas que sem-terra, sem-teto, professores, operários estão nas ruas apanhando da polícia, apanhando da mídia - e apanhando dos "apartidários".

A fisioterapia termina segunda-feira. Até lá, 'güento as pontas.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Manifestações: as que vou e as que tô fora

Brasileira em ato em Portugal, nesta terça. Tô com ela (foto: Agência Brasil)
De Curitiba

Pra participar dessas "manifestações" que estão acontecendo por aí, nem me chamem.

Participo de manifestação com bandeira clara, popular, progressista, com lideranças que se apresentam, se expõem, e não se camuflam na fantasia do "apartidarismo".

Manifestação "apartidária", contra "a política, os políticos", contra "tudo que está aí", guiada por "indignados" do facebook não é ato de cidadania, de rebeldia. É jogar a favor da direita, do establishment, do status quo - involutariamente, ou por má fé mesmo.

Agora, quando for pra ir pras ruas apoiar o bolsa família, as cotas para as universidades, o Prouni, o Sisu, os 100% dos royalties da educação, o piso salarial do magistério, vou, já fui. Pra pedir "escolas padrão Fifa", tô fora.

Quando for pra ir pras ruas defender o financiamento público de campanha, a reforma do Judiciário, no Ministério Público, moralizar as coligações partidárias, pra isso vou, fui. Pra simplesmente chamar os políticos de "ladrão", tô fora.

Quando for pra ir pras ruas pedir a reforma agrária, a ocupação dos prédios abandonados dos centros das cidades para transformar em moradia popular, a desapropriação de latifúndios improdutivos, vou, fui. Pra invadir câmaras, assembleias, prefeituras e outros prédios públicos, tô fora.

Quando for pra ir pras ruas pedir taxação sobre o lucro dos bancos, imposto sobre fortunas, IPTU mais alto nos bairros nobres e simbólico na periferia, IPVA elevado para automóveis e reduzido para ônibus, vou, fui. Pra pedir um "basta à robalheira", tô fora.

Quando for pra ir pras ruas pra reivindicar a reestatização da Vale e dos blocos de petróleo, e reverter os dividendos para o SUS, vou, fui. Pra pedir "hospitais padrão Fifa", tô fora.

Quando for pra ir pras ruas exigir uma lei de meios que ponha fim ao oligopólio privado nas comunicações, vou, fui. Pra agredir o Caco Barcellos, tô fora.

Quando for pra ir pras ruas pra sustentar as conquistas dos últimos dez anos que mudaram o Brasil, e cobrar avanços mais acelerados, vou, fui. Pra gritar "acorda, Brasil", tô fora.

Afinal, o Brasil está acordado faz tempo. Há décadas que sem-terra, sem-teto, trabalhadores rurais e urbanos, professores, minorias estão nas ruas apanhando da polícia, apanhando da mídia. Os neoindignados do facebook é que estavam no modo soneca, como disse alguém no twitter hoje.

O Brasil está mudando e não é de hoje, nem de ontem. O filho de pobre tem acesso à universidade, a empregada doméstica tem direitos trabalhistas básicos, a diarista não precisa mais se sujeitar aos caprichos do patrão, o atingido pela seca não é mais refém do coronel. A renda das famílias aumentou, estamos em fase de pleno emprego.

Evidente que há absurdos adoidados, alguns históricos, antigos, estruturais, outros novos, inventados. Injustiças inadmissíveis persistem e parecem longe de desaparecer. Alguns retrocessos - inclusive do Governo Dilma, o qual apoio, embora ultimamente venho expondo uma série de críticas, e aqui e agora reitero essas críticas - estão ocorrendo.

Mas omitir ou distorcer os avanços não é ser "apartidário", "consciente", "politizado", "indignado". Ou é ser mal informado ou há aí um recalque.

Estar ao lado desses atos do jeito que eles estão se configurando não soma na luta antiretrocessos. Pelo contrário: engorda as fileiras dos que querem retroceder.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Requião: a guerra contra os índios e a (surpreendente) omissão do governo

De Curitiba

Os discursos do senador Requião são de precisão cirúrgica e, quando postados aqui, têm trazido audiência para o Macuco Blog.

Se são, pois, ricos em informação e denúncia, e despertam interesse, 'bora replicá-los neste espaço.

O mais recente, desta terça-feira, dia 11, escancara a descarada guerra entre o poder econômico e os índios, verdadeiros donos desta terra desde sempre.

Triste nisso tudo, além dos mortos e feridos, é a omissão de um governo eleito justamente para ficar do lado dos indígenas, não dos interesses do capital.

Como diz o senador no discurso, nossa presidenta Dilma Rousseff recebeu até as rídiculas caxirolas do Carlinhos Brown, mas até agora não manteve uma audiência sequer, protocolar que fosse, com algum representante da população indígena.

Dilma, querida presidenta bem bolada, acorda, fia.

O discurso de Requião, por escrito, pode ser lido clicando aqui.

Confere lá, confere o vídeo, é uma aula de história do Brasil.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Cartas de amor entre Bolívar y Manuelita, história para o Dia dos Namorados

De Curitiba

Tudo bem que a data existe mais para aquecer as vendas do comércio e a produção da indústria do que propriamente para celebrar as relações sentimentais, mas sendo inevitável escapar dos apelos da propaganda e de outras estratégias mais, aproveito o mote do Dia dos Namorados para lhes trazer como dica de leitura uma coletânea de apaixonadas trocas de correspondências entre duas figuras heróicas da América Latina.

Quem sabe as correspondências desse casal lhes inspirem para os sms, tuitadas ou mensagens de facebook a serem destinadas ao seu par neste 12 de junho.

A coletânea está em "Cartas de Amor entre Bolívar y Manuelita", livro que reproduz o teor de dezenas de correspondências entre o libertador da América, Simon Bolívar, e sua amante e não menos decisiva para os destinos deste continente, Manuela Saenz, a Manuelita.

O livro reúne correspondências trocadas entre os dois por oito anos, de 1822 a 1830. Você vai ver que mesmo uma relação ocorrida há 200 anos, e envolvendo uma das maiores lideranças político-intelectuais do continente, não é diferente da trajetória de um namoro dos dias de hoje.

O encantamento do começo, a paixão do início, as juras na sequência, os ciúmes, as cobranças, o clamor por atenção, as dúvidas absolutamente sem motivo, as reconciliações depois das brigas, a amizade e a lealdade que se solidificam, tudo isso, que faz parte de um relacionamento entre um homem e uma mulher deste século XXI, é identificado também nesse caso de amor de dois séculos atrás.

Mas, claro, o livro não serve só pra gente viajar nas declarações de amor eterno entre dois enamorados. É, principalmente, um instrumento para conhecer melhor o processo de independência dos países da América Latina, sobretudo da Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia.

Grande parte das correspondências trocadas se deu quando Bolívar seguiu rumo às nações andinas para liderar a luta pela independência dos países da região. Ao atualizar Manuelita de onde está e o que está a fazer, pensar e planejar, Bolívar aborda as batalhas enfrentadas contra os espanhóis e contra as elites locais, em busca seu grande sonho e amor, o da Pátria Grande

De uma história de amor, a história da América.

Clicando aqui, você pode baixar o livro.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

A carestia de Santos nas páginas da Carta Capital

Metro quadrado dos mais caros do país expulsa santistas da cidade
De Curitiba

Cidade de tantos exemplos, Santos passa a ser reconhecida nacionalmente por mais um, embora deste – como de alguns outros – não haja motivos para o orgulho: o encarecimento dos imóveis, seja para compra ou locação. O (elevado) custo para se morar no município é destacado na reportagem “Brasil, caro pra chuchu”, da revista Carta Capital desta semana.

A reportagem, manchete de capa da edição, aborda os “exorbitantes” preços no Brasil para serviços que vão de cabeleireiro a moradia, “resultado da estrutura econômica [historicamente] criada para o consumo de poucos”.

Entre os casos que ilustram o problema, está o do segurança aposentado Márcio Mello Soares, que, depois de 46 anos vivendo em Santos, viu-se forçado a migrar para Itanhaém. Disse o aposentado à revista: “De 2007 para cá, o aluguel começou a ficar muito caro e comprar uma casa na cidade está impossível”.

O texto cita a era do pré-sal como a responsável principal pelo boom que levou – e segue levando – Santos a registrar um dos metros quadrados mais caros do país.

Claro que a solução do problema foge das atribuições poder público local, mas se o governo do município estiver realmente preocupado com os santistas e o futuro da cidade, pode tomar decisões e implementar medidas que minimizem os efeitos dessa lógica de mercado.

E nem é preciso de ideia mirabolantes. Basta fazer valer o Estatuto das Cidades, que fornece às prefeituras mecanismos que combatem a especulação imobiliária.