Translate

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Manifestações: as que vou e as que tô fora

Brasileira em ato em Portugal, nesta terça. Tô com ela (foto: Agência Brasil)
De Curitiba

Pra participar dessas "manifestações" que estão acontecendo por aí, nem me chamem.

Participo de manifestação com bandeira clara, popular, progressista, com lideranças que se apresentam, se expõem, e não se camuflam na fantasia do "apartidarismo".

Manifestação "apartidária", contra "a política, os políticos", contra "tudo que está aí", guiada por "indignados" do facebook não é ato de cidadania, de rebeldia. É jogar a favor da direita, do establishment, do status quo - involutariamente, ou por má fé mesmo.

Agora, quando for pra ir pras ruas apoiar o bolsa família, as cotas para as universidades, o Prouni, o Sisu, os 100% dos royalties da educação, o piso salarial do magistério, vou, já fui. Pra pedir "escolas padrão Fifa", tô fora.

Quando for pra ir pras ruas defender o financiamento público de campanha, a reforma do Judiciário, no Ministério Público, moralizar as coligações partidárias, pra isso vou, fui. Pra simplesmente chamar os políticos de "ladrão", tô fora.

Quando for pra ir pras ruas pedir a reforma agrária, a ocupação dos prédios abandonados dos centros das cidades para transformar em moradia popular, a desapropriação de latifúndios improdutivos, vou, fui. Pra invadir câmaras, assembleias, prefeituras e outros prédios públicos, tô fora.

Quando for pra ir pras ruas pedir taxação sobre o lucro dos bancos, imposto sobre fortunas, IPTU mais alto nos bairros nobres e simbólico na periferia, IPVA elevado para automóveis e reduzido para ônibus, vou, fui. Pra pedir um "basta à robalheira", tô fora.

Quando for pra ir pras ruas pra reivindicar a reestatização da Vale e dos blocos de petróleo, e reverter os dividendos para o SUS, vou, fui. Pra pedir "hospitais padrão Fifa", tô fora.

Quando for pra ir pras ruas exigir uma lei de meios que ponha fim ao oligopólio privado nas comunicações, vou, fui. Pra agredir o Caco Barcellos, tô fora.

Quando for pra ir pras ruas pra sustentar as conquistas dos últimos dez anos que mudaram o Brasil, e cobrar avanços mais acelerados, vou, fui. Pra gritar "acorda, Brasil", tô fora.

Afinal, o Brasil está acordado faz tempo. Há décadas que sem-terra, sem-teto, trabalhadores rurais e urbanos, professores, minorias estão nas ruas apanhando da polícia, apanhando da mídia. Os neoindignados do facebook é que estavam no modo soneca, como disse alguém no twitter hoje.

O Brasil está mudando e não é de hoje, nem de ontem. O filho de pobre tem acesso à universidade, a empregada doméstica tem direitos trabalhistas básicos, a diarista não precisa mais se sujeitar aos caprichos do patrão, o atingido pela seca não é mais refém do coronel. A renda das famílias aumentou, estamos em fase de pleno emprego.

Evidente que há absurdos adoidados, alguns históricos, antigos, estruturais, outros novos, inventados. Injustiças inadmissíveis persistem e parecem longe de desaparecer. Alguns retrocessos - inclusive do Governo Dilma, o qual apoio, embora ultimamente venho expondo uma série de críticas, e aqui e agora reitero essas críticas - estão ocorrendo.

Mas omitir ou distorcer os avanços não é ser "apartidário", "consciente", "politizado", "indignado". Ou é ser mal informado ou há aí um recalque.

Estar ao lado desses atos do jeito que eles estão se configurando não soma na luta antiretrocessos. Pelo contrário: engorda as fileiras dos que querem retroceder.

Nenhum comentário:

Postar um comentário