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domingo, 29 de dezembro de 2013

A Roda de Samba do Ouro Verde no último sábado do ano

Grupo se reúne há 25 anos e já foi tema de documentário (foto: Dose de Inspiração)
De Santos

Ontem à noite estivemos na tradicional Roda de Samba do Ouro Verde, no Marapé.

Espetacular!

O salão do clube estava lotado; na frente, na rua, dezenas acompanhavam de fora o samba entoado lá dentro.

Gente de tudo quanto é idade. De gente da casa, do bairro, a forasteiros, visitantes de primeira vez. Dos típicos sambistas de chapéu panamá e sandália àqueles de camisa polo ou camiseta de time de futebol.

No repertório, clássicos, canções das velhas guardas, paulistas e cariocas.

A roda ocorre todo sábado, começa no início da noite e se encerra às 22 horas (acaba cedo porque a turma respeita a lei do silêncio). A de ontem foi, portanto, a derradeira de 2013. Mas, ano que vem - daqui a uma semana - tem mais, anunciaram os integrantes do grupo.

O Marapé está entre os poucos de Santos a se manter como bairro essencialmente residencial, e a resistir à verticalização desenfreada dos últimos anos. Os chalés que restaram, as casas baixas, os sobrados e os predinhos de três, quatro andares no máximo, mais a roda do Ouro Verde, mantêm, de forma saudavelmente nostálgica, esse pedaço da cidade com um pé no passado.

A Roda de Samba do Ouro Verde, que existe há mais de 25 anos, foi tema de documentário lançado neste ano. Informações e um teaser do filme você confere clicando aqui.

E aqui você assiste a uma matéria da TV Record sobre a história do grupo.

No mais, só mesmo indo lá ao Ouro Verde para saber, sentir.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Trivial, trivial, mas não há nada igual

Pôr-do-Sol visto a partir da Praia do Embaré (foto: WAA)
De Santos

Sobretudo lá na capital do Paraná, me apelidam de embaixador santista, pelo hábito de difundir patrioticamente as coisas da terra.

Pois há pouco coloquei em prática essa fama, ao fazer as vezes de guia turístico a um trio de Curitiba, que aproveita as férias de virada de ano para percorrer a rodovia Rio-Santos de ponta a ponta, a começar, assim, por aqui.

E em oportunidades como esta, a gente se dá conta como as passagens aparentemente mais triviais são, ao olhar estrangeiro, as mais pitorescas.

Claro que os sete quilômetros de jardim a beira-mar, o bonde do Centro Histórico, o estádio do Peixe em Vila Belmiro, o agito do Gonzaga estão, inevitavelmente, entre as principais atrações para quem visita Santos.

Todavia são detalhes como o cinema, a gibiteca e a biblioteca nos postos de salvamento da praia; os quiosques da orla e seus generosos lanches; os prédios inclinados do Embaré e da Aparecida; as avenidas dos canais que cortam a ilha de ponta a ponta; ou o simples hábito de chamar pão francês de "média" ("me vê quatro médias", se ouve dos santistas no balcão das padarias) que chamam a atenção de um jeito diferente, curioso.

Acertei em me enveredar pelo jornalismo e pelo magistério; quando criança, perguntado sobre o que pensava "ser quando crescer", respondia querer ser motorista de ônibus. Mas essa de embaixador-guia turístico tem servido legal também. 

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Então é Natal! E sim, com a Simone

Disco com músicas natalinas foi lançado em 1995
De Curitiba

Já? Sim, já é Natal. Voou, eu sei, sabemos, mas não se preocupe que vai voar cada vez mais.

Bom, às vésperas do 25 de dezembro, aproveito para fazer uma defesa da cantora Simone e seus mais de 40 anos de carreira.

Foi desnecessariamente ofensiva a "campanha" que circulou pelas redes sociais na últimas semanas, contra a execução de "Então é Natal" na voz da intérprete baiana.

Uma absoluta falta de respeito contra uma artista que, repito, está há mais de 40 decênios na estrada.

Simone foi, com músicas como "Começar de novo", a intérprete de canções símbolos de um momento em que a mulher brasileira buscava espaço, reconhecimento e igualdade de direitos, na virada dos anos 70 para os 80.

Naquela época, Simone ajudou a colocar em evidência compositores como Sueli Costa e Ivan Lins, ao mesmo tempo em que gravava Milton Nascimento e Chico Buarque.

A "campanha" contra o "Então é Natal" reduziu Simone a uma simples cantora de jingle natalino, ignorando - porque omitiu ou não se preocupou em mostrar - a trajetória de uma profissional e artista que não é uma picareta, incompetente qualquer. 

Contribuiu, essa "politizada" e "bem humorada" "campanha", pra gente continuar assim, a desmerecer e desqualificar quem tá na lida na área cultural deste país. Depois que a pessoa morre, não adianta vir com homenagens demagogas.

Além disso, há, sim, no fundo, em muitos, uma síndrome de colonizados nessa ojeriza à versão em português de "Happy Christmas - War is Over" (de John Lennon). 

Sejamos francos: não está nem na voz nem na melodia a origem da oposição à atual versão da música. Se a versão tocada por aí fosse de qualquer banda ou cantor ou cantora pop de quinta, mas estrangeiros a tagarelar em inglês, não teríamos esses "ativistas" da vez tão empenhados.

Em tempo: Simone foi também jogadora de basquete, da geração que levou o Brasil ao vice-campeonato mundial em 1971. Formou-se na tradicional Faculdade de Educação Física de Santos (Fefis), todavia depois de parar de jogar preferiu a carreira artística, e não esportiva. Nasceu num 25 de dezembro, de 1949.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

O job é descontinuar o revitalizar (e o descontinuar e o job também)

Algumas até dá para usar, mas com moderação
De Curitiba

Sei que, mesmo faltando 12 dias para o fim de 2013, minha cota de ranzinzice do ano está estourada.

Não de agora, sei também.

Mas é que o febeapá, este também não tem limites.

Já há tempos me seguro pra não expressar aqui a ojeriza com alguns termos, cada vez mais escritos e pronunciados, que - argh! - dão asco.

Alguns, de tão estabelecidos, larguei mão de contestar.

Há outros que também são jogo perdido lutar, no entanto, reclamar contra é preciso.

Deixemos de enrolação.

Uma dessas modas é o tal do "job". Ninguém mais tem trabalho pra fazer, relatório pra escrever, encomenda pra providenciar, incumbência, tarefa pra cumprir. Tem "job".

Toc, toc, toc na madeira.

Outra é o tal do "descontinuado". O produto não mais se acaba, não mais deixa de ser fabricado. Torna-se "descontinuado". O projeto não é cancelado ou extinto, o nome de determinada coisa não é mais deixado de lado. É "descontinuado".

Tucanagem à máxima potência.

Pra terminar, o "revitalizar". Do pote de xampu à placa que anuncia obra pública, está lá o termo: "revitaliza" o cabelo, "revitalização do Centro Histórico". No Aeroporto do Galeão, até a boa e velha, tradicional manutenção, conserto ou reparo de equipamentos está anunciada assim, como "revitalização".

Não prego a descontinuidade dessas palavras, não. São perfeitamente aplicáveis em alguns casos. Faz-se necessário, todavia, revitalizar seu uso. É um job, mas é possível fazê-lo.

Pior que isso, só o siglismo, tema abordado aqui.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

"Quando vi você passar"...O histórico show na Portela

Paulinho, Marisa e a Velha Guarda, encantando a Portela (foto: Ricardo Almeida/Portela)
De Curitiba

O show foi sábado, no Rio, e a esta altura já é quase quarta, e escrevo de Curitiba.

Mas impossível não retomar as escritas neste blog sem deixar de registrar o privilégio de ter presenciado um dos momentos históricos do samba - melhor, da música, da cultura, da arte brasileira.

Falo do encontro entre Velha Guarda da Portela, Paulinho da Viola e Marisa Monte, na sede da escola de Osvaldo Cruz, na noite do último dia 14.

Chegamos e o espetáculo já tinha começado, no entanto nem o atraso nem a dificuldade de encontrar um espaço para se acomodar na lotada quadra diminuíram a emoção do episódio.

Com seus clássicos, Paulinho da Viola puxou um coro de milhares de vozes; Marisa Monte foi recebida pelo povo com um carinho ímpar; a Velha Guarda garantiu o miudinho e a raiz do samba.

O encerramento, ao som de "Foi um rio que passou em minha vida", foi exatamente isto: um rio que passou em nossas vidas e levou nosso coração, que com muito prazer se deixou levar.

A festa seguiu pela madrugada de domingo com a bateria, passistas e o intérprete da escola, Wantuir, a contagiar a quadra com sambas clássicos - boa parte da Portela, e alguns das co-irmãs também.  

Ah, minha Portela...

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Lucro do banco pra bancar a nossa passagem de ônibus

Isenção em 44 cidades demandaria R$ 8 bi/ano (foto: WAA)
De Curitiba

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplica (Ipea) apresentou nesta quinta-feira, dia 12, uma proposta de implantação de gratuidade no ônibus para estudantes, trabalhadores informais e integrantes de famílias de baixa renda.

A proposta prevê a implantação dessa gratuidade em pelo menos 44 cidades brasileiras com mais de 500 mil habitantes. Seriam beneficiados 7,5 milhões de cidadãos.

O trabalho do Ipea vai ao encontro de uma proposta de emenda constitucional (PEC) aprovada semana passada pelo plenário da Câmara dos Deputados.

De autoria da deputada Luiza Erundina (PSB-SP), a PEC (de número 90/2011) inclui na Constituição o transporte como direito social.
  • Leia aqui o que o Macuco já publicou a respeito da proposta
  • E aqui, sobre a aprovação da PEC 90/2011
Ou seja, a PEC da Luiza Erundina assegura o transporte como direito constitucional de todo o cidadão e o estudo do Ipea indica como esse direito pode ser garantido pelo Estado.

Segundo o Ipea, para viabilizar a tarifa zero a 7,5 milhões de trabalhadores e estudantes em 44 cidades, o governo desembolsaria no máximo R$ 8 bilhões/ano.

Oito bi!?, poderá se espantar você

Calma, pra mim, pra você, pra gente pode ser muito. Mas é possível obter essa grana sem tirar um centavo sequer da educação, da saúde, da segurança, da cultura, das obras públicas... Nem aumentar um real sequer de imposto nosso.

Isso mesmo, acompanhe o raciocínio a seguir e você vai ver que esses "oito bi" não são tanto dinheiro assim.

O governo poderia assegurar transporte a quem não pode pagar se tirasse um pouquinho de quem já enche os cofres com fortunas: os bancos.

Repare: só nos primeiros seis meses do ano, o lucro – disse lucro, ou seja, o que sobrou! - de apenas  oito bancos privados somou R$ 20,5 bilhões. Confira na tabela:

Lucro dos principais bancos privados – 1º semestre 2013
Itaú Unibanco    R$ 7 bilhões
Bradesco    R$ 5,8 bilhões
Santander    R$ 2,9 bilhões
Itaúsa    R$ 2,5 bilhões
BTG Pactual    R$ 1,2 bilhão
Safra    R$ 598 milhões
HSBC    R$ 454 milhões
Bic Banco    R$ 54 milhões
TOTAL    R$ 20,5 bilhões
Fonte: Federação dos Bancários do Paraná

Esse é o lucro de um semestre; do ano inteiro teríamos pelo menos o dobro, algo em torno de R$ 40 bilhões.

É uma conta feita por baixo e exclui dezenas de instituições menores. 

Se a soma for da lista completa de bancos privados existentes no país, a montanha de dinheiro seria maior ainda. 

(Ah, excluem-se também os bancos públicos, já que o lucro destes poderia ser prioritariamente reaplicado naquilo que é a função deles: fomentar a agricultura, a indústria,  compra da casa própria, a micro e pequena empresa...)

Pois então, só com esses, por baixo, R$ 40 bilhões, se o governo taxasse 20% disso (isto é, os R$ 8 bilhões necessários) já garantiria a tarifa zero em no mínimo 44 cidades grandes e de médio porte Brasil afora e adentro. E os bancos ainda ficariam com R$ 32 bilhões – o que, convenhamos, não é nenhuma ninharia.

Claro que se a Tia Dilma, ao ler este blog, resolver encampar a ideia e tomar essa decisão, vai ser bombardeada na mídia pelos “analistas”, “economias” e “consultores”.

Estes, “imparciais”, “independentes”, diriam que o risco Brasil subiria, que o governo estaria afugentando “investimentos”, quebrando a “segurança jurídica” do país, “desrespeitando” contratos, “descuidando” das contas públicas, e toda aquela ladainha pró status quo, pró establishment que a gente ouve por aí.

No facebook viríamos postagens e comentários irados “alertando” sobre o “perigo comunista”, o “chavismo” sendo importado e bobageiras do tipo. Afinal, se foi assim pra trazer médico pra atender a nossa gente, imagina como não seria pior se fosse pra mexer com os privilégios dos banqueiros.
  • Para conferir o estudo do Ipea (denominado “Transporte Integrado Social”), clique aqui 

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Bom Senso Futebol Clube: bela jogada, mas bola na trave

Se não incomodar a Globo, tudo muda para ficar como está (foto: Bom Senso FC)
De Curitiba

A temporada 2013 do futebol brasileiro termina neste final de semana e, no balanço de perdas e ganhos, imprescindível destacar a criação do Bom Senso Futebol Clube.

Com exceção de um e outro movimento pontual – como a Democracia Corinthiana de Sócrates, Vladimir, Casagrande e companhia -, nunca antes na história deste país a categoria “jogador de futebol” se uniu e se mobilizou de forma tão abrangente e explícita.

Mas, para o movimento de fato resultar em mudanças significativas na forma como o futebol brasileiro vem sendo tratado, o Bom Senso precisa mirar melhor no gol.

Claro que, sendo a entidade que organiza calendário e estabelece regras e critérios, a Confederação Brasileira de Futebol  (CBF) deve ser a primeira intimida a tomar providências. Não só ela, porém.

Afinal, sabemos quem de fato manda: a Rede Globo.

Você sabe que não é implicância minha com a poderosa organização midiática; todo mundo sabe que os jogos da semana são tarde da noite, que tem partida quase que dia sim dia não, que a divisão da grana é desequilibrada e injusta entre os clubes, que tudo isso ocorre para fazer valer os interesses da Globo.

Hoje, por exemplo, mais um episódio dessa tirania: a Globo tem o direito de transmissão dos jogos, abriu mão de passar a partida da Ponte Preta com o Lanús na final da Sul-Americana, mas não deixa nenhuma outra emissora colocar o jogo no ar. 

O futebol, no Brasil, é mais do que uma modalidade esportiva. É componente da cultura, da identidade brasileira. E esse componente foi apropriado pela Globo e transformado em mais um produto de sua programação, mais um instrumento seu de manipulação.

Jogador que faz três gols numa partida e não “pede música” no Fantástico é criticado. Até comemoração no tal estilo “joão bobão” a toda poderosa nada boba resolveu impor.
 
A Globo, atletas do Bom Senso, precisa ser colocada contra parede também. A partida não pode continuar começando só depois “do beijo do capítulo da novela”, como bem metaforizou o craque Alex, do Coritiba. Não só jogo do Corinthians ou do Flamengo deve ser transmitido. O estádio é do povo, é de todos, não dos privilegiados dos “camarotes” de “famosos” e “artistas globais”.

Tudo o que a Globo quer é que a CBF, só a CBF, fique na mira. Enquanto isso, à distância, ela posa de solidária aos reclamos, e até faz uma força pra algo mude - mude pra que tudo fique como está.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Hoje é A Gota d'Água

De Curitiba

Meu coração não é um pote até aqui de mágoa, mas hoje é o dia d' A Gota d'Água.

Explico: este é o título do curta-metragem feito pelos nossos alunos do curso de Técnico e Produção de Áudio e Vídeo, do Colégio Estadual do Paraná. E o lançamento do filme – trabalho interdisciplinar de conclusão de curso – é nesta terça, dia 3, a partir das 19h, na Cinemateca de Curitiba.

A entrada é gratuita e o evento é aberto ao público. Portanto, apareeeeeeça!

Da concepção do roteiro até à edição, passando pelas gravações, todo o filme é de autoria dos alunos.

O curso de Técnico em Produção de Áudio e Vídeo do Colégio Estadual do Paraná é um curso subsequente ao ensino médio, e tem duração de dois semestres. A primeira turma foi aberta em 2007. O curso alia disciplinas técnicas, finalísticas, a disciplinas que fornecem conteúdo teórico, histórico, sociológico e crítico da comunicação e dos meios audiovisuais e sua linguagem. As aulas ocorrem no período noturno. São abertas duas turmas por ano: uma que inicia o curso em fevereiro e outra, em julho.

No segundo e último período, a turma produz um curta-metragem. A produção do filme é supervisionada pelo professor das disciplinas de Produção de Áudio e de Produção de Vídeo (ministradas pelo professor Tiago Alvarez), e acompanhada pelos docentes das demais disciplinas também (entre eles, este blogueiro), que incluem o trabalho como instrumento de avaliação.

Sinopse do filme: “Jonas, um pacato morador de uma simples casa, tenta desesperadamente repousar após um dia cansativo. Desde o momento em que se prepara para se deitar até o inicio de um novo dia, o ato de se tentar dormir se torna uma batalha insana contra vários adversários implacáveis. Cansaço, frustração, raiva e acidentes preenchem uma trama cheia de comédia e ira”.
PROGRAMAÇÃO DO LANÇAMENTO - 03/12/2013
Das 19h às 19h30 – Recepção do público pelos estudantes e professores.
Das 19h30 às 19h45 – Abertura oficial do evento.
Das 19h45 às 20h15 – Apresentação de trabalhos experimentais dos alunos do primeiro período do curso.
Das 20h15 às 20h45 – Exibição do curta-metragem “A Gota d’Água”Das 20h45 às 21h30 – Bate-papo da turma com o público.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Sobre a partida de Marcelo Déda

No final de outubro, a visita da amiga Dilma (foto postada pelo próprio Déda)
De Curitiba

Com a partida de Marcelo Déda, Sergipe perde seu primeiro governador do campo progressista, e o Brasil fica órfão de uma liderança promissora.

Marcelo Déda, do PT, foi prefeito de Aracaju, entre 2000 e 2006, e deu nova vida à capital. A cidade passou a se destacar em políticas públicas sociais, a ponto de conquistar os melhores indicadores do Nordeste, e a ter visibilidade também pelo seu potencial cultural, artístico e turístico.

Deixou a prefeitura com maciço apoio popular para disputar e ganhar a eleição para governador em 2006, acabando com a alternância das velhas oligarquias do estado no poder.

Meses antes do pleito daquele ano, conversei rapidamente com uma representante do principal grupo opositor a Marcelo Déda: a irmã do então governador João Alves Filho, que era sua secretária de administração, Marlene Alves Calumby (os Alves vêm da Arena e suas derivações).

Era agosto de 2006 e Marlene Alves estava em Curitiba participando de um fórum que reunia secretários estaduais de administração. Atuando na assessoria de imprensa do Governo do Paraná, fui cobrir o evento e, como um filho de sergipanos, assim me apresentei à secretária para saber como estavam as coisas lá pela querida terra de meu pai, minha mãe, tios, tias, primos e primas...

O assunto descambou para o cenário eleitoral e Marlene Alves, já prevendo a derrota do irmão que tentava se reeleger, nobremente reconhecia as qualidades do adversário. Não me lembro exatamente das palavras, mas em síntese Marlene Alves salientava a capacidade de liderança, de comunicação e de empatia popular de Marcelo Déda.

Déda venceu direto no primeiro turno e se reelegeu em 2010, também logo de cara.

Em maio deste ano, licenciou-se para tratar do câncer gastrointestinal. Pelas declarações públicas de amigos e assessores, lutou até o fim. Teve tempo de ver o seu time de coração, o Flamengo, conquistar mais um título - o da Copa do Brasil. No final de outubro, recebera a visita de Dilma.

Antes da doença, Marcelo Déda era um assíduo e hábil usuário do twitter. Não se omitia diante dos questionamentos, e falava com franqueza e veemência sobre aquilo que planejava e defendia.

Praia de Atalaia, na Aracaju que Déda colocou na rota do Nordeste (foto: WAA)

Marcelo Déda é da geração de petistas da qual fez parte, lá em Sergipe, minha tia Dedê, que morreu em 2011. Dedê não se enveredou pra carreira político-partidária; mais de 20 anos atrás tinha se mudado para São Paulo, se afastado da militância. Conservava, no entanto, a defesa dos ideais que lhes motivaram  - a ela própria e a Déda - a escolher, apoiar um partido.

Dedê tinha muito, muito a viver. Déda também. Com suas virtudes e contradições, inerentes a um ocupante de cargo público que assume projetos e desafios, Déda - mesmo sendo de um estado com pouca densidade eleitoral - começava a despontar, e figuraria logo-logo, com certeza, entre as mais destacadas lideranças político-populares deste Brasil.


No Dia do Samba, uma dica de filme


De Curitiba

2 de dezembro é o Dia do Samba, comemorado há 51 anos.

Aqui vai uma dica pra você conhecer um pouco dessa arte: “O mistério do samba”, filme de 2008 ao qual você assiste clicando aí em cima.

O documentário mergulha no universo da Velha Guarda da Portela e foi idealizado e conduzido pela cantora Marisa Monte, depois de pesquisas e entrevistas feitas por ela durante quase dez anos.

Além de muito samba, claro, o filme traz histórias extraordinárias.

Destaco duas passagens.



A primeira, quando Argemiro – que veio a morrer em 2003, antes do documentário ficar pronto – relembra o dia em que foi apresentado, por Paulinho da Viola, a Chico Buarque e Vinícius de Moraes.

Chico e Vinícius, admirados com os elogios que Paulinho fazia de Argemiro, resolveram checar se o crioulo tinha mesmo todo aquele talento exaltado. E então lançaramm o desafio: “Argemiro, se você é bom mesmo, faz um samba agora, sobre qualquer coisa – sobre esta garrafa, por exemplo”.

A resposta, dada com simplicidade, foi para não deixar dúvidas: “Não posso fazer um samba sobre essa garrafa, porque não tô sentindo nada por ela. Pra fazer um samba tem que sentir alguma coisa, ter inspiração".

Não ficou só nisso.

Argemiro voltou pra casa e, inspirado naquele encontro, fez um samba. Um samba sobre o que é fazer um samba. Confere lá no documentário...

A outra passagem é uma conversa entre Marisa Monte e Paulinho da Viola.

A ideia de fazer o filme veio quando Marisa estudava a obra de sambistas portelenses para um disco que gravaria só com músicas da Velha Guarda. Já no final do documentário, Marisa Monte revela a Paulinho: "Eu sabia que a vida seria melhor depois da Velha Guarda”.

Está certa essa Marisa Monte.