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sexta-feira, 8 de abril de 2016

Mortes de sem terra no Paraná: começa a luta por uma apuração rigorosa e punição exemplar

Ministério da Justiça colocou Polícia Federal para acompanhar o caso
Dois trabalhadores rurais sem terra foram assassinados, e seis ficaram feridos, no acampamento Dom Tomás Balduíno, na região de Quedas do Iguaçu, no Paraná. De acordo com o MST, o acampamento foi invadido na tarde desta quinta-feira, dia 7, por equipes da Polícia Militar e seguranças da empresa Araupel, situada na área onde o acampamento está localizado.

O movimento informa que foram assassinados os trabalhadores rurais Vilmar Bordim, de 44 anos, casado, pai de três filhos; e Leomar Bhorbak, de 25 anos, que deixa a esposa grávida de nove meses.

O Governo do Estado do Paraná dá uma outra versão: em matéria na Agência Estadual de Notícias, alega que os policiais caíram numa emboscada feita pelos acampados.

Trata-se, porém, de uma versão incompreensível, afinal todas as vítimas – os mortos e os feridos – são trabalhadores sem terra. Como seria possível isso: os que prepararam a emboscada são os que foram emboscados? A nota oficial do governo paranaense ignora essa falta de lógica, e não explica nada sobre.

O texto diz, ao final, que o caso será apurado. A apuração tem de ser rigorosa, minuciosa, e todos aqueles que lutam por democracia devem acompanhar de perto o desenrolar dos fatos e exigir justiça.

O MST vai precisar do apoio de toda a sociedade – ao menos daqueles que não caem na demonização do movimento feita pela mídia e forças reacionárias.

As instâncias de todos os poderes da República, em todas as esferas de governo – municipal, estadual e federal – têm de alguma forma, e dentro de suas competências, se envolver no processo.





O episódio de Quedas do Iguaçu ocorre dias antes de se completarem 20 anos do Massacre de Eldorado de Carajás (Pará), em 18 de abril de 1996. Foram 19 mortos.

E ocorre dias antes também de se completar um ano do Massacre do Centro Cívico, quando o Governo do Estado Paraná se utilizou de suas forças policiais para bombardear professores e estudantes, entre outros trabalhadores, em 29 de abril de 2015.

A seguir, a nota do MST divulgada horas depois do ocorrido:

“Na tarde dessa quinta-feira (7), duas equipes da Polícia Militar do Paraná, acompanhadas de seguranças da empresa Araupel atacaram o acampamento .

Até o momento existe a confirmação de dois mortos e aproximadamente seis feridos – o número exato ainda não foi confirmado -, pois a polícia militar está, nesse momento, impedindo a aproximação de integrantes do Movimento no local.

Histórico


O acampamento, localizado em uma área pertencente a empresa Araupel, está organizado com 2500 famílias, cerca de sete mil pessoas.

Os Sem Terra do local sofrem com constantes ameaças por parte de seguranças e pistoleiros da empresa, ameaças essas que contam com a conivência do governo e da Secretária de Segurança Pública do Estado.

Conflitos agrários no estado


Este cenário reflete parte do clima de tensão que nasce na luta pelo acesso à terra e contra a grilagem na região. O conflito tem relação com o surgimento de dois acampamentos do MST na região centro-sul do Paraná, construídos nas áreas em que funcionam as atividades da empresa Araupel, exportadora de pinus e eucalipto.

O primeiro acampamento, Herdeiros da Terra, está localizado no município de Rio Bonito do Iguaçu. A ocupação aconteceu em 1º de maio de 2014 e hoje abriga mais de mil famílias. Ali, elas possuem aproximadamente 1,5 mil hectares para a produção de alimentos.

O segundo acampamento, Dom Tomás Balduíno, cuja ocupação teve início em junho de 2014, possui 1500 famílias e fica na região de Quedas do Iguaçu. Ao contrário da outra ocupação, esta possui 12 alqueires de área aberta, sendo apenas 9 – cerca de 30 hectares – utilizados para o plantio.

Procurado, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) informou não poder se posicionar sobre o caso, já que trata-se de um acampamento, e não assentamento. Já a Ouvidoria Agrária Nacional informou que não tem informações sobre o caso, mas que está verificando o ocorrido.”


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Em tempo 1: até 12h30 desta sexta-feira, dia 8 – portanto há mais de 20 horas depois do ocorrido – nem o Ministério do Desenvolvimento Agrário nem o Incra se pronunciaram oficialmente. Estão a esperar o que?

Em tempo 2: na noite desta sexta-feira, dia 8, o Ministério da Justiça informou que vai colocar a Polícia Federal para acompanhar o caso, conforme divulgou o coletivo Jornalistas Livres.

Por @waasantista, postado de Curitiba 
| Publicado também no Brasil Observer

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